O fracasso é uma pedra no meio do caminho que nem sempre vira poesia. O nosso percurso é quase sempre feito de verdades cosméticas. Culturalmente, não somos criados para lidar bem com aquele bendito e intermitente “vacilo”. Odiamos a ideia do “feio”. Reprimimos o conceito de torto ou “esquisito” (ah, se todos nós soubéssemos o que isso significa). Nota baixa, nem pensar! Amarrotado, desalinhado, descabelado são conceitos incompatíveis com a “realidade”.
Enquanto destilamos 3ª intenções, o mundo nos bate na cara com a dura pata da reinvenção. O fracasso é um trampolim. Desprezamos os erros, não importa o legado que nos deixem. Varremos pra debaixo do tapete com tanta rapidez a “sujeira”, sopramos com tufões as migalhas que nos caem sobre a roupa pra não pagar o mico, mesmo que ele seja dourado. Assusta ter a nudez vista em público. Escondemos tudo aquilo que nos assombra a ideia de desajustado, de fora do padrão e de não permitido. Gastamos preciosas horas e duro dinheiro suado para não sermos expulsos do o-limpo.
Jogamos direto no lixo rico material que poderia reciclar nossa forma de experimentar a vida. Perdemos belas oportunidades de reinvenção. A vergonha para a qual batemos continência nos aprisiona em calabouços tão frios e profundos, de onde não podemos ver a luz do verdadeiro dia.
A inovação exige o inédito, exige cara de pau, coisa de gente viciada em sonhos estranhos. Pois a criatividade é a filha única da constante fricção de atos de coragem. O mundo se refaz de suas epiléticas convulsões sociais quando encontra gente louca o suficiente pra não acreditar que o mundo parou de girar, e que ainda falta muito a ser feito nessa rasa história que ainda pede muitas linhas. Escritas, geralmente, por gente maluca no seu presente, mas heróis num incerto futuro.