Um cachorro correndo atrás do próprio rabo é tão patético e desolador quanto uma sociedade inteira perseguindo o “emprego dos sonhos”: é uma jornada estéril que, quando tem fim, acaba nos frustrando — morder o próprio rabo ou, no nosso caso, o trabalho que sempre desejamos, é uma forma de perceber que estamos presos a uma ilusão muito diferente daquela que nos motivou o primeiro passo.
Mais do que idealizar uma determinada posição e o despreparo para as frustrações, pesquisadores da Universidade de Standford e Yale analisaram que o grande X desta questão é a ideia de que temos paixões “fixas e eternas”. Enquanto algumas pessoas estão abertas a descobrir e desenvolver novos interesses, e assim expandir seus talentos, outros se recusam a enxergar além de uma determinada área e testar novas possibilidades para suas vidas profissionais.
No estudo publicado pelas universidades, os responsáveis atestam que “incentivar as pessoas a encontrarem uma paixão pode fazer com que estes indivíduos coloquem ‘todos os ovos’ numa cesta só, e então eles largam essa cesta quando essa se torna muito pesada para carregar”.
Para chegar a essa conclusão, a pesquisa ponderou entrevistas feitas com 470 estudantes, que mostrou que aqueles intransigentes em relação a suas aptidões não demonstravam interesses em tópicos diferentes de suas áreas de atuação.
Isso explica, por exemplo, porque muitos criativos e criadores têm tanta frustração ao lidar com a realidade financeira de uma vida freelancer: para manter as contas em dia, esses profissionais têm, geralmente, que ir muito além de seus job descriptions dos sonhos, e isso lhes causa uma grande sensação de perda.
Embora essa discussão sobre a desilusão com o emprego perfeito não seja exatamente nova, é importante que nos esforcemos para validar todos os lados deste prima, sobretudo quando estamos às margens de mudanças importantes. Vale lembrar que a estimativa de consultorias e empresas de tecnologia, como a Dell, é de que 85% dos empregos existentes em 2030 ainda não foram inventados.
Diante dessa realidade, as perguntas que não querem (e não podem) calar: e se o seu emprego dos sonhos estiver no pacote das 800 milhões de carreiras em vias de ser automatizadas? E se a posição mais apropriada para o seu perfil não estiver no seu horizonte limitado pelas suas paixões pré-estabelecidas?
Em vez de procurar respostas prontas para essas questões, os pesquisadores apoiam a decisão de manter o pensamento “em constante evolução”, de forma que reconheça a nossa capacidade de aprender novas habilidades e interesses, a fim de não nos tornarmos reféns de vocações limitantes.
Para além da própria felicidade, a manutenção de uma sociedade aberta e curiosa pode ainda beneficiar o mundo como um todo, já que grandes avanços nas ciências e nos negócios aconteceram, justamente, quando pessoas de áreas de atuação distintas trabalharam juntas — consciente ou inconscientemente.
No final das contas, tenha sempre em mente que um cachorro nunca se deu bem correndo atrás do próprio rabo, então não corra atrás do seu também.