Quando se trata da projeção da própria imagem, para muita gente, o resultado não pode ser nada menos do que o perfeito.
Na verdade, qualquer um que produza qualquer coisa, já se deparou com aquela famosa linha que separa o bom e o ótimo. Dependendo do contexto, a gente fala que o bom é inimigo do ótimo. Ou, que o ótimo é inimigo do bom. A fronteira é um gradiente, difícil precisar. Dá para usar as duas frases e sempre funcionam igualmente.
Mas o perfeccionismo é daquelas coisas que podem rapidamente evoluir para um distúrbio funcional, uma patologia. Taí o Rafael Nadal (entre tantos outros) que não me deixa mentir. Quando a coisa começa a atrapalhar o fluxo do seu processo de trabalho, ou mesmo a sua rotina pessoal, o perfeccionismo deixa de ser um ideal e passa a ser um obstáculo.
Não é fácil ser adolescente em uma época de produção (de foto/video/audio) da própria imagem
Parece que o problema tem aparecido com mais frequência entre os adolescentes de hoje em dia, que sofrem uma pressão e uma vigilância social constante e ficam com medo da maneira como se expõe (como sempre aconteceu, mas hoje em dia, com Instagrans e YouTubes da vida e todas essas produções e auto-promoções, ficou pior).
Um bom exemplo é este video de um garoto que, cansado de ficr polindo seu primeiro video autoral no YouTube, resolveu falar justamente desta angustia do perfeccionismo.
Com a cara de quem tomou banho, passou no cabeleireiro e até passou perfume para aparecer na telinha, o jovem John Sorrentino conta uma história muito legal que leu no livro “Art and Fear” para ilustrar seu raciocínio.
Fighting perfeccionism
Para quem preferir ler, em português, ao inves de acompanhar pelo video, a história é mais ou menos assim:
A História da Aula de Cerâmica
O professor da aula de cerâmica dividiu a turma em dois grupos. O pessoal do lado esquerdo iria se concentrar exclusivamente no conceito de QUANTIDADE e deveria fazer a maior quantidade possível de vasos. E o pessoal da direita iria focar em QUALIDADE e deveriam fazer o vaso mais perfeito que conseguissem.
Para a avaliação dos vasos do grupo da esquerda o professor usaria apenas uma balança. E para o grupo da direita, quem fariam apenas um, levaria em conta a qualidade final da peça.
O resultado surpreendeu a todos, inclusive o professor: as peças mais perfeitas vieram do grupo da quantidade. Provavelmente, apesar do volume de trabalho, tiveram mais oportunidades de tentiva-e-erro e, assim, naturalmente, foram pegando o jeito e os vasos foram ficando cada vez melhores.
Enfim, continuo achando que existem momentos da quantidade e da qualidade. O duro mesmo é saber quando é um e quando é o outro. mas a história é boa ;)