Quem nasceu para a realeza jamais perde a majestade: Claire Foy continua soberana mesmo sem a coroa; a atriz da série The Crown reina mais uma vez na dramaturgia ao vestir a pele de Lisbeth Salander, na continuação inédita da saga “Millennium”, que chega ao filme “A Garota na Teia de Aranha”.
Dona de estatuetas do Emmy, do Globo de Ouro e do Screen Actors Guild, a atriz britânica não deve tardar a dar as caras no Oscar também, sobretudo depois da entrega a esse último trabalho, que lhe custou caro do ponto de vista psicológico e físico.
Em entrevista ao ET Canada, Claire enfatizou que “algumas cenas foram emocionalmente traumatizantes, e outras fisicamente desafiadoras”, mas suavizou relembrando uma frase do diretor do longa, Fede Alvarez: “se você não ‘sangra’ para fazer algo, então não vale a pena”.
Para o preparador de elenco Christian Duurvoort, responsável pelos atores em “O Ensaio Sobre a Cegueira”, “Cidade dos Homens” e outros, é delicado trabalhar com personagens traumatizados, porque, obviamente, nenhum trauma é prazeroso de se explorar e o ator personifica todos os afetos do personagem, o que pode ser — e é — bastante pesado para quem assume a missão de interpretar histórias assim.
Reconhecendo a intensidade de Claire Foy, cuja base vem do teatro britânico, Christian não se diria surpreendido por mais um belo trabalho da atriz em “The Girl in The Spider’s Web”: “produções milionárias, como essa, não abarcam inexperientes”, pontua.
Quanto ao fato de Claire viver agora um papel que já pertenceu a Rooney Mara, Duurvoort diz não se incomodar, e não acha que isso é um problema para o público também. “James Bond e outras franquias também tiveram seus protagonistas vivenciados por atores diferentes, e isso não afetou em nada a história. Novas interpretações são, antes de tudo, novas possibilidades”.
Para o preparador de elenco, contudo, o importante é que o ator não caia na esterilidade de se comparar com quem vestiu aquela história em capítulos anteriores, porque isso pode diminuir a chance de termos algo orgânico e original — uma ressalva que, felizmente, Claire Foy parece ter levado a cabo.
A performance excepcional da britânica tem a ver com seu talento, claro, mas também se deve à direção. Confirme Duurvoort explica, um preparador de elenco primeiro analisa o roteiro e investiga as pretensões do diretor, e a partir de então seu trabalho é catalisar todas essas vertentes humanas nos personagens. “O corpo do ator é o veículo, e ele fala com palavras, com gestos e pensamentos. Diferentemente do que muitos podem pensar, o cinema é também muito espontâneo, porque, apesar do script e estudos, as cenas se dão de uma forma única, e a relação do ator com a câmera se constrói na hora”, afirma.
Todos esses desafios são recompensados quando o filme e os personagens conseguem levar os espectadores para dentro da história — essa, aliás, é a medida de Christian para avaliar o desempenho dos atores: se eles conseguem fazer com que a audiência se descole da técnica para mergulhar na trama, então a missão foi cumprida com louvor.
Pelo que se pode ver e ouvir da continuação de Millennium até agora, vai ser quase impossível escapar dessa teia. Ainda bem.