Quem acompanha meus posts aqui no UoD sabe que eu tenho algumas paixões lúdicas e entre elas estão os board games – ou – os clássicos jogos de tabuleiro numa tradução brazuca (ou ainda “jogos analógicos” numa denominação mais acadêmica).
Cresci jogando tabuleiro e, com o advento dos jogos modernos resgatando esse hobby, pude voltar a jogar com tudo as novidades que foram saindo de 2004 pra cá. Eu até fiz um site em 2007 (que alimento até hoje) para registrar tudo que jogo em termos de board games.
Ontem, enquanto procurava alguns exemplos no meu site para mostrar nas aulas de game design, acabei me deparando um ensaio que fiz sobre a prática do “print & play”; essa ideia foi a inspiração para escrever esse textinho e lançar umas reflexões sobre o ato de jogar. No entanto, antes dessa reflexão vamos entender o que vem a ser esse tal de print & play.
Como o próprio nome já diz, print & play consiste em imprimir algo para jogar. Esse termo se popularizou no mundo dos jogos de tabuleiro devido ao grande número de pessoas que pegam imagens de jogos na internet (cartas, tabuleiro etc.) para criar versões home made de determinados games. Muitos o fazem para testar um game antes de comprar, outros porque querem jogar o game e o mesmo não está disponível ou – simplesmente – porque estão sem grama e optam por fazer algo caseiro mesmo. Vale frisar que o P&P também é uma mão na roda para quem trabalha com game design de jogo analógico; muitos game designers disponibilizam versões P&P de seus protótipos para teste na internet.
Eu conheço pessoas que possuem verdadeiras coleções de jogos feitos em casa a partir de imagens da internet. Uma galera que, inclusive, fez um hobby dentro do hobby (um meta-hobby!), já que além da diversão de jogar também tem a diversão de procurar as imagens, montar no computador, imprimir e produzir o game (com direito a customizações e improvisos muitas vezes).
A grande pergunta é: jogar um game P&P é a mesma coisa que jogar o original?
Logicamente não há uma resposta única para essa questão, mas é legal pensarmos nesse ponto para fazermos uma reflexão sobre a cultura do game no momento que vivemos.
Para determinados públicos jogar o board game original que custa 50 dólares (por exemplo) ou jogar a versão home made que custou 7 dólares em nada muda a experiência. Temos players que estão completamente focados em fruir as questões mecânicas do game e, se os componentes estão “ressignificados”, não há nenhum problema.
Outros públicos talvez valorizem a questão sinestésica de abrir a caixa, destacar as peças, sentir o cheiro dos componentes, ler o manual impresso etc. Eu tenho alguns amigos que não aceitam jogar um P&P de um jogo que exista no mercado. Ou jogam o original ou não jogam.
Nesse cenário de múltiplos públicos jogadores é possível notar que há enormes oportunidades para se explorar questões de experiência com o game. Desde abrir a caixa até montar na mesa e jogar (ou imprimir de maneira “pirata”, montar e jogar) percebemos que há diferentes perfis para analisar e tentar compreender o que importa nessas experiências para cada um.
Que tipo de experiência você busca nos jogos analógicos? Se faça essa pergunta.
Pra você jogar xadrez com pecinhas de papel colocadas em tampa de garrafa PET é igual jogar num tabuleiro de madeira com peças esculpidas em metal?
Pra você jogar Magic com as cartas originais ou com cartas impressas numa impressora de jato de tinta é a mesma coisa?
Jogar poker com pouco dinheiro ou com muito dinheiro é a mesma experiência? (Ok, essa foge um pouco do tema, mas acho legal para pensar na experiência de jogar).
Este texto foi para exercitar essa percepção de experiência na criação, produção e fruição dos games analógicos. Ele não busca responder nada, mas tenta fazer a gente refletir.
Brevemente volto com a parte dois falando um pouco de games digitais, pirataria e colecionismo.
#GoGamers
O Board Games Motivation Profile da QuanticFoundry também é uma ferramenta legal pra se auto-conhecer nos jogos: https://apps.quanticfoundry.com/surveys/start/tabletop/