A Apple acabou de lançar suas apostas de streaming com o novo Apple TV e Apple TV+ para buscar sua parte do mercado de streaming, o que isto quer dizer para o mercado de entretenimento e tecnologia?
Apple TV+ é o novo projeto da Apple para lançamento de seu conteúdo exclusivo. No palco, personalidades contaram um pouco do seu próprio projeto e todos citados estarão disponíveis na própria plataforma da maçã exclusivamente via Apple TV.
Já a Apple TV App nada mais é do que uma organização de canais e assinaturas de streaming que a pessoa tem, tudo em um só lugar: Apple TV. Além de todo conteúdo que você já tem acesso de acordo com sua assinatura, você também poderá assinar direto com o iTunes e ter acesso a canais, conteúdos dos canais, ou simplesmente comprar ou alugar o conteúdo que preferir e a empresa tiver direitos de revender.
Tudo começou aqui
“Neither RedBox nor Netflix are even on the radar screen in terms of competition,” foi o que disse Jim Keyes, CEO da Blockbuster em 2008 – Uma das principais empresas globais de locação de filmes, games e series. Em 2010 a empresa fez o pedido de falência, onze anos depois da fala do CEO:
Para entender o que esta acontecendo com o cenário de streaming services, precisamos de contexto, pega um copo de chá (aceita um café?) e vem comigo para andar nesse mapa gigante de mercado fora do Brasil.
Onde assistir?
Para poucos que se lembram ou não conheciam, Netflix começou como uma empresa de locação de filmes porta-a-porta, você alugava o filme pelo website e um motoboy levava os discos para sua casa. Tivemos um processo similar no Brasil como NETMovies, que logo viu uma oportunidade ótima de negócios, antes mesmo de existir iFood, Rappi e tantos demais.
Dez anos depois e o mercado muda drasticamente, hoje existem mais de 100 serviços de streaming ao redor do globo e, em cada ano, uma média de 3 até 5 novos nascem para oferecer produto OnDemand para o consumidor. Tudo isto graças ao sucesso que a Netflix trouxe para o mercado em primeira mão e, apesar de sofrerem até um tipo de bullying da Blockbuster, mudaram o modo de consumir conteúdo em uma revolução que já é considerada a mais rápida do planeta para a televisão.
Mas, eis a parte competitiva de novas tech e velocidade de inovação, no mesmo espaço de tempo que se inova, a reinvenção vai bater a porta te cobrando manter-se no topo, e aqui mora o novo cenário para todos nós, especialmente para Netflix.
A lista de ofertas de streaming é gigante, você pode conferir aqui, e para facilitar, vou citar aqui somente as gigantes, pontuando as diferenças entre streaming service global e demais.
Nota: Inicialmente, existe uma confusão de categorização sobre serviços de streaming, agora com o novo STADIA do Google, o público acaba chamando o modelo de “Netflix do XYZ”, não é correto o termo por causa do modelo de negócios de cada oferta. iTunes, por exemplo, vende músicas e vídeos via streaming, mas não é mensal. Spotify é só música, com modelo mensal – Mais caro que o Netflix. Aqui, então, vamos focar em Serviço de Streaming de conteúdo de vídeo.
Hoje o mercado é dominado globalmente por: Netflix, Amazon Prime Video, HULU e HBO (NOW/GO). – Não estão todos disponíveis para o Brasil ainda, mas são as empresas com maior share de mercado hoje.
Quem é a concorrência que chega entre os anos de 2019/2020?
Com todas essas empresas, fica claro que o foco e o produto é um só: Conteúdo. E aqui é o ponto principal preocupante para a gigante Netflix.
Para entender o tamanho de poder de conteúdo de cada marca, The Walt Disney Company é dona de todos os conteúdos das empresas Disney, Pixar, MARVEL, Star Wars, National Geographic Channel e 20th Century FOX, que estarão na plataforma Disney+. Além dos canais e grupos ABC, History Channel, Lifetime, VICE, A+E, ESPN, Disney Channel entre dezenas de sub empresas de conteúdo.
Já a NBC Universal tem os canais NBC, MSNBC, CNBC, The Weather Channel, entre dezenas de outras. Warner Media contará com conteúdos que estão no guarda-chuvas da HBO, Turner e Warner Bros. E a empresa do Jeff Bezos entra no mix ao lançar sua segunda plataforma de vídeos, além da AmazonPrime Video, o IMDB Freedive que liberou dezenas de filmes, seriados e documentários de décadas passadas totalmente de graça para o mercado norte-americano.
Grande parte desses nomes, não reconhecidos pelo público brasileiro, nos serve para identificar quem é o dono do conteúdo. Como a NBC, por exemplo, que é a dona do seriado FRIENDS e The Office (US)… E agora fica um pouco mais claro como o conteúdo será a moeda de compra e venda desse mercado gigante e novo.
Conteúdo é rei… e rainha
No final de 2018 o portal Recode divulgou dados sobre consumo de conteúdo da Netflix, e preocupou um bocado de gente… Afinal, o conteúdo é um dos principais desafios para uma empresa que teve anos de largada para se apontar como o principal player do mercado e agora terá que se levantar contra dezenas de novidades que vem por aí. – Mas, antes de falar em deixar o trono de streaming, precisamos explicar o como (e se) irá acontecer… E tudo deve começar dentro de ‘casa’, o mercado do US determina muito o que demais países podem ou não receber ou manter. A receita do país de origem é prioritária para existência dessas plataformas, então, espere mudanças drásticas em oferta de conteúdo e de preços (como já vem acontecendo) em um futuro bem próximo. Veja:
A pesquisa mostra que, de Janeiro até Novembro de 2018, Netflix teve grande parte da sua receita graças a produções que ainda estão na telinha do canal aberto. Já os originais, que tiveram bons views e ajudaram na receita foram Orange Is the New Black, BoJack Horseman e 13 Reasons Why.
Pode-se dizer que, de certa maneira, todas as empresas citadas acima tem a big N na mão e, mesmo com a empresa liberando 15 bilhões para criação de dezenas de conteúdos originais, somente agora se percebeu que não basta investir pouco em muito conteúdo, mas muito em algo que o público vá considerar necessário assinar a plataforma para assistir – Vale conferir o case da HBO com Game of Thrones, que tem aumento de assinantes todo ano na mesma época do seriado. Críticos e executivos da área perceberam a mudança de investimento da empresa com o lançamento do The Umbrella Academy, que traz uma produção cinematográfica como não se viu antes na Netflix. Algo que era uma reclamação de críticos ao verem conteúdos da MARVEL por exemplo. Essa mudança de investimento também mostra o quanto a empresa tem deixado de lado conteúdos que faziam algum tipo de apoio ou apelo socio-politico-temático e agora se coloca em visão, antes de mais nada, conseguir fazer a empresa fazer lucro. Vale reforçar que esses conteúdos foram a estratégia perfeita para a Netflix ganhar seu espaço e reconhecimento com essa geração.
Para ver essa mudança, pesquise a repercussão do cancelamento de ‘One Day at a Time‘, que Netflix citou o cancelamento devido a baixa audiência, mas os pedidos para manter ficaram nos trending tópics mundial por 24h, e ‘Sense8‘ (que ganhou última temporada a pedido da audiência), e ao mesmo tempo series como ‘Arrested Development’ ou ‘Lucifer’ que foram ‘salvos’ pela empresa, criados fora de casa, mas que dão boa audiência. – O público tem percebido essa mudança drástica e já começa a comentar, exemplo dessa matéria com título brutal da Rolling Stone.
O futuro é quem cria o conteúdo e não mais a plataforma
Com toda essa concorrência, e donos de conteúdos agora com suas próprias plataformas, significaria que é tarde demais para o Netflix? Não necessariamente, executivos da NBC já citaram que, se Netflix quiser muito ficar com o The Office terão que desembolsar uma grana, como fizeram com o seriado FRIENDS, pagando 100 milhões de dólares para manter o conteúdo no catálogo até 2021. O executivo da empresa ainda disse que estará aberto a sugestões, já que poderá vender o direito de catálogo e ao mesmo tempo contar com o conteúdo em sua plataforma – O que seria uma maneira de conseguir duas vias de vendas do mesmo produto, mas Netflix aceitaria? Ou melhor, a Big N sabe que esta chegando nesta obrigação de aceitar? – O mercado acompanhou a reação da empresa ao cancelar de modo unilateral a parceria de sucesso com a DISNEY/MARVEL com seriados que eram considerados de sucesso na plataforma.
O cancelamento de Daredevil, Jessica Jones, Iron Fist, The Punisher, Luke Cage e The Defenders, não só pegou os produtores e casting desprevenidos como também executivos da Disney que não só cumpriram com o contrato, mas também daria a Netflix o direito de conteúdo com exclusivo. Mas a empresa de streaming esta mostrando que não quer saber de fazer dinheiro para outras empresas, já que o que ela tem de melhor agora é mercado internacional – E talvez aqui esteja a salvação da Netflix – ao menos, um respiro para continuar na competição.
Aqui X Lá
Veja, grande parte dos serviços de streamings não estão no Brasil, e somente alguns devem chegar, Disney+ e, agora com a compra da FOX fez a empresa do Mickey agora ser a maior shareholder do HULU, são dois que devem desembargar no Brasil em breve. Amazon Prime Video tem ótimo conteúdo, diferenciado (e igual) já disponível e vem crescendo aos poucos, e um fato é indiscutível no Brasil, Netflix virou referência atual para “assistir streaming“, e isso é uma coisa boa se o mesmo acontece em outros países.
Tudo isto significa que, apesar de existir conteúdos originais para suas plataformas ‘criadoras’, também poderemos rever o mesmo conteúdo em outra plataforma. Exemplo de FRIENDS que estará na plataforma NBC/Universal e ao mesmo tempo no Netflix, o custo será maior ou menor dependendo dos países que essas empresas vão querer desembarcar. E esse é o motivo para ficarmos alerta com aumento de valor de plataformas como Netflix que vão replicar conteúdos que o publico ainda consome em outro lugar.
Em contra partida, Netflix tem um bom espaço para crescer com empresas que não conseguiram expandir globalmente sem parceria. DC Universe, é um caso de exemplo, que conta com a parceria da Netflix para distribuir ‘TITANS’ para o Brasil e demais praças da América-Latina, já que a DC não tem investimento necessário para ir direto para esse público. – Caso o resultado for positivo, a Big N terá, pelo menos, mais de 10 conteúdos exclusivos DC na plataforma, o que não é pouca coisa.
Assim como a Netflix, Amazon Prime Video tem feito parcerias com a CBS All Access, para entregar para o Brasil conteúdos exclusivos como ‘The Good Fight’, e na Netflix o novo ‘Star Trek:Discovery‘, é um respiro e ânimo para o país já que pode receber novidades como o reboot de ‘Twilight Zone‘ produzido e dirigido por Jordan Peele, e é exclusividade da CBS All Access no US.
Por que esse modelo?
Existem outros modelos para permitir que Netflix continue concorrendo junto com os demais, mas a empresa precisará abrir mão de algo que pode machucá-la, o que significa, adicionar anúncios ou comerciais entre as transmissões. Algo que foi testado e não caiu bem para os assinantes. Demais empresas já chegam com esse modelo, como HULU, e conseguem até oferecer diminuição de valor de pacote, ao invés de aumento.
Um dia a Big N citou: “The Goal Is to Become HBO Faster Than HBO Can Become Us“, e eles ainda precisam comprovar que conseguem, porque a HBO, com o sistema mais antigo de modelo de negócios que existe, ainda é mais forte.
Em resumo para o mercado de streaming de vídeo: As regras estão postas e agora a Netflix precisa correr atrás para não se tornar a primeira Blockbuster do mundo streaming.
A única certeza é o entretenimento
Apesar de tudo, o mercado de entrega de serviço de streaming começou a dar os primeiros sinais de amadurecimento. No Brasil já temos como assinar canais como GloboPlay, assistir conteúdo gratuito do SBT no Youtube ou assinar HBOGO ou TelecinePlay para curtir exclusivamente o conteúdo daquela plataforma.
O resultado dessa evolução é sua escolha, do que assistir, quando assistir e o quanto assistir. Mas sua escolha está ligada a sua geografia e a tecnologia disponível no seu país.
Como falamos no STADIA, o mesmo vale para esse cenário, tudo depende da evolução tecnológica, empresas conseguirem chegar nos países, ou parcerias bem feitas para o consumidor escolher o que quer, na medida e em um preço justo.
A disney comprou a série Twilight Zone para construir a melhor atração tematica já feita pela empresa: The Tower of Terror. O storytelling da atração nos parques da disney (em orlando, california, paris, tokyo e hongkong – o ultimo com pequenas mudanças na estória) só foi possível apos a aquisição da série. O sucesso foi e é ate hoje um tremendo absurdo, influenciando visitações anuais dos parques (com esta atração) para 13-17 milhões de visitantes ao ano.
Quando li a citação sobre a séria ser exclusividade da CBS, me preocupo em rever as informações. Se a Disney comprou a série para uso nos parques temáticos e, – talvez esteja pensando errado – a CBS resolver investir na reprodução, quem ganha bastante será a Dinsey já que a atração vai estar em alta e gerar numeros absurdos de visitação no Hollywood Studios. Acredito muito na possibilidade da Disney+ conduzir este material daqui pra frente, visto que investimentos de 1 bilhão USD estão sendo depositados em uma unica atração de uma marca deles (StarWars, Frozen, Zootopia, Vingadores, ja com atrações com datas marcadas para os parques). Com esta grana da para fazer uma disney inteira em vez de um único simulador.
Eu não aposto na ideia da CBS tocando no Twilight Zone – caso a informação do texto seja veridica.
Netflix forçando conteúdo brasileiro goela a baixo tem me desanimado demais. Meu medo é que esses serviços sejam obrigados à cota de produtos nacionais, que, além da chuva de anúncios e disponibilização de filmes somente dublados, contribuiu para que a TV por assinatura perdesse seu atrativo cada vez mais. TV brasileira almeja competir no mercado de streaming? Comece a produzir conteúdo decente e conquiste o meu interesse; na base da forçação, só conquistará o cancelamento da minha assinatura. Não sou obrigada.
Muito boooomm! :)
Wow! Que belo texto!
Big N costuma ser usado pra falar da Nintendo, galera. Melhor rever essa terminologia aí. haha
Pois é, uma tentativa de evitar citar tanto, a Netflix. hahaha :D
Valeu, Jonas!