Três conceitos contemporâneos para entender 2020

Compartilhando alguns minutos da minha quarentena com você, trago 3 conceitos para ajudar a construir uma visão desse momento tão singular.
Três conceitos contemporâneos para entender 2020 Três conceitos contemporâneos para entender 2020
Três conceitos contemporâneos para entender 2020
o cenário mudou

Não é nenhuma novidade que o cenário atual é caótico, de crise e pandemia. Como disse o Yuval Noah Harari (autor de Sapiens) em um artigo recente, nos próximos dias, cada um de nós deve optar por confiar em dados e especialistas ao invés de teorias infundadas de conspiração e de políticos egoístas.

Pensando nisso e em compartilhar alguns minutos da minha quarentena com vocês, gostaria de trazer três grandes conceitos contemporâneos para nos ajudar a construir uma visão sistêmica desse momento tão singular.


Persona: Ana Clara, 38 anos

É casada com o Pedro, um gestor de marketing digital. Há 4 anos, o casal deu lugar para mais uma integrante na família, a Julinha. Apesar da rotina estar cheia de novidades por conta da maternidade, a Ana é mega workaholic.

Como gestora de marketing digital de uma multinacional, ela tem um perfil analítico, é obcecada com novidades e inovações e está frequentemente antenada em novas ferramentas (inclusive no mercado internacional).

Este ano, 2020, ela gostaria de manter o seu time motivado e aumentar ainda mais os seus resultados, gerando mais leads qualificados para a empresa. Para chegar lá, seus principais desafios são a falta de orçamento para investir em soluções disruptivas, pouca mão de obra especializada disponível no mercado e uma pandemia que afetará diretamente o seu dia a dia e a empresa em que ela trabalha.


Apesar de agora parecer óbvio, a verdade é que nenhuma empresa, ao desenhar as suas estratégias e públicos, acrescentou essa última linha no seu relatório. Isso porque até pouco tempo atrás, acordávamos tranquilos, trabalhávamos normalmente, tomávamos uma cerveja com os amigos depois do expediente e encontrávamos nossos familiares.

Mas o cenário mudou.

Sem nenhuma pretensão de manter esses números atualizado, até o dia de publicação de artigo, o Coronavirus, já infectou mais de 349.000 pessoas ao redor do mundo, deixando para trás no mínimo 15.300 casos fatais. Com o crescimento exponencial de pessoas infectadas, o assunto tem se tornado cada vez mais urgente e paralisado diversas economias — entre elas, a China, a segunda maior potência do mundo.

O fato não previsível é o que podemos chamar de Cisne negro.

Cisne Negro

Como diz Nassim Nicholas Taleb, “dois mecanismos estão em jogo aqui: o viés confirmatório e a perseverança da crença, a tendência a não se reverter opiniões que já foram formadas”.

Em uma viagem no tempo, quando aumentamos o nosso conhecimento com acontecimentos ligados à nossa antiga rotina, nós tendemos a crer que todos os próximos meses seguirão a norma. Mas, ver cisnes brancos não confirma a não existência de cisnes negros. Em outras palavras, nos enganamos ao tentar simplificar os fatos em uma regra geral.

Cisne Negro são acontecimentos imprevisíveis, irregulares e de larga escala. É o que deixamos de fora na simplificação.

Antifragil

Beleza Mirle, mas quero viver feliz em um mundo que não compreendo. Um mundo não-linear.

Nesse caso, Taleb também representa o segundo conceito deste artigo, o antídoto para cisnes negros.

Para o autor, “não linear” significa que, quando se dobra a dose de um medicamento, não necessariamente se obtém o dobro de resultado. Ou seja, “não linear” são problemas complexos, repletos de intersecções e interdependências. E, para lidar com eles, vamos precisar de muito mais do que todas as importantes habilidades apontadas pelo relatório “Future of jobs”, do World Economic Forum.

Por muito tempo acreditamos que o oposto de fragilidade era robusto. Mas quando se trata de eventos aleatórios, robusto não é suficientemente bom.

Enquanto uma única rachadura pode destruir o robusto, um sistema antifragil se beneficia do conflito, se fortalece com o choque. Além da Mãe Natureza, um bom exemplo de antifragilidade são os nossos músculos. Eles precisam de algum nível de estresse, de musculação, para ficarem ainda mais forte.

A tecnologia também é resultado de antifragilidade, mas indo além, em seu livro, o autor ilustra esse conceito com a imagem da fênix. Essa criatura mitológica morre e renasce das próprias cinzas. Mas, renasce igual, com as mesmas forças e fraquezas. Em paralelo, a Hidra, ao perder uma cabeça, desenvolve outras duas.

Buscando um pouco de positividade, de forma geral, precisamos usar momentos caóticos como o que estamos vivendo, para criarmos e nos reinventarmos.

Pela quantidade de conteúdos que ocupam as nossas timelines, já deu pra perceber que temos bons exemplos. A empresa que eu trabalho, em pouquíssimo tempo, conseguiu mobilizar mundialmente mais de 2000 pessoas para o trabalho remoto, ou o work from home (como estamos chamando).

O futuro é melhor do que imaginamos.

Abundância

No geral, esse terceiro e último conceito revela que em momentos de crise o pessimismo é generalizado e a tendência a ver o vazio de cada copo é generalizada. Segundo os autores Peter Diamandis e Steven Kotler, “parece que as pessoas se aferram às más notícias como a uma muleta”.

Abundancia, no sentido mais puro, significa “proporcionar a todos uma vida de possibilidades. Ser capaz de viver uma tal vida requer ter as necessidades básicas satisfeitas e muito mais. Significa também estancar algumas sangrias absurdas”.

E temos tudo o que precisamos para um futuro abundante. A seu custo, a tecnologia, a técnica e a automação evoluíram — o que pode trazer cada vez mais acesso e escala. Internet é um exemplo disso, ela é um asset que tem se tornado cada vez mais abundante.

Para ilustrar esse conceito, os autores trazem a história de Tibério, um governador romano. Quando um de seus ourives lhe apresentou um prato que brilhava mais do que o ouro e disse que somente ele e os deuses sabiam a técnica para extrair aquele metal da natureza, imediatamente o imperador pediu-lhe a cabeça. Depois de muito tempo, descobrimos que o metal em questão era o alumínio, o terceiro elemento mais abundante no planeta. E, em 1800 (mais ou menos), a gente aprimora a forma de extraí-lo a partir de um processo elétrico e o torna acessível.

Em resumo, a técnica mudou todo o cenário e o que antes era um contexto de escassez, passou a ser um contexto de abundância.

Mesmo dentro do nosso mais recente cenário, com mais uma dose de otimismo, certamente a inovação e a tecnologia vão continuar transformando o mundo. Basta que a pessoas tenham liberdade e condições de criar e se reinventar.


A minha posição aqui é de humildade e não de detentora de alguma verdade absoluta, então sintam-se livres para complementar, rebater e construir comigo.

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