Como usar o conflito entre Rússia e Ucrânia para avaliar e aprimorar suas fontes

Conheça seus mensageiros! Eventos dessa magnitude geram muito conteúdo e facilitam comparações de tons e abordagens.

No começo de 2020 eu escrevi: “você sabia que a Covid pode te ajudar a avaliar melhor suas fontes?”

E agora, com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, temos a mesma oportunidade mais uma vez.

Mas por que esses eventos em especial?

O motivo é simples: eventos dessa magnitude são amplamente cobertos. E de posse dos mesmos fatos, reportados por diferentes fontes, fica fácil comparar a abordagem e o tom de cada fonte.

Caiu um míssel em um prédio residencial? A fonte “A” pode sugerir que isso seja o gatilho para a 3ª Guerra Mundial, a fonte “B” pode tranquilizar reportando que ninguém morreu e assim por diante.

O jornalismo tem oscilado entre informar e entreter como forma de sobrevivência e relevância da categoria, mas isso pode ser confuso e prejudicial para nós, leitores. E portanto cabe a nós ter uma postura mais pro-ativa em relação a escolha das fontes. Consumir conteúdo passivamente é suicídio intelectual.

Comparando Fontes

Eu costumo consumir o mesmo fato por diferentes fontes no meu dia a dia para tentar minimizar eventuais vieses que possam na minha pobre e limitada cabecinha por uma visão muito parcial, que pode ser muito de esquerda ou muito de direita ou muito preconceituosa, ou muito dogmática, etc. Com mias pessoas me contando a mesma história, me sinto melhor informado.

E de quebra, poder avaliar a mensagem e também o mensageiro.

Com o tempo vou naquela do “seguindo e deixando de seguir” e vou polindo minhas fontes. E sempre com cautela, tenho uma espécie de purgatório editorial, uma lista de “potencialmente enviesados” para conferir se foi algo pontual ou se é uma escolha editorial mesmo.

Visão Holística

Outro exemplo: no Google News existe o recurso “FULL COVERAGE” (ou “Cobertura Completa”). É um pequeno ícone que, ao ser clicado, traz o mesmo tópico noticiado por diferentes fontes.

Com esse recurso fica muito evidente quais são os veículos mais sensacionalistas, os mais factuais, os mais opinativos, os mais extremistas, etc. Ou seja, fica explícita a estratégia editorial do veículo.

Uma fonte que usa um título do tipo “será que Putin vai apertar o botão vermelho?” tem provavelmente mais interesse em capitalizar em cima do seu clique.

E, as vezes, um título aparentemente sem charme como “Ucrânia divulga X mortes até o momento” pode ser muito mais útil para você interpretar o que está acontecendo através de suas próprias elocubrações sobre as implicações desse dado.

Como você pode perceber, não é um processo difícil de praticar. O problema é que a gente esquece de usar essa “desconfiança saudável” no dia a dia. Fora que nos acostumamos a consumir palavras passivamente. A gente fica tão ligado no fato em sí, que esquece de avaliar o tom. O “O QUE ESTA SENDO DITO” nos distrai do “COMO ESTÁ SENDO DITO”.

A mensagem obstrui o mensageiro.

Hoje, faça um teste

Na sua próxima leitura por aí, se pergunte “qual o objetivo do autor desse post/matéria/artigo/video/papo.

Ele quer me informar e está sendo rápido e factual? Fez o dever de casa e organizou as coisas pra mim?

01. Ele quer me manter na página, rolando por sobre várias propagandas e fica escondendo a informação até o último parágrafo?

02. Ele me apresenta opinião pessoal como se fossem fatos?

03. Ele é viciado em amor digital e quer que eu o venere como um ser incrível, fazendo do conteúdo um produto e não um meio, cheio de sacadinhas espertas?

Faça essas e muitas outras perguntas! Essa é a postura que PRECISAMOS ter diante de todo tipo de conteúdo. Olhe e avalie seu mensageiro de cima a baixo, da cabeça aos pés.

Quando pulamos para esfera das redes sociais então… nem se fala. É ainda mais fácil perceber quem pega aquela carona vazia no tema corrente, só para sinalizar uma pseudo-virtude narcisista. Embora as redes sociais tenham sim um papel importante durante um conflito como esse entre Rússia e Ucrania, fica óbvio que 99% dessa hashtag não soma muito a não ser uma vontade de aparecer.

Ensinar a dirigir tanque de guerra ou ganhar seu clique?

Conclusão

Enfim, a dica é essa: COMPARAR TONS E ABORDAGENS de suas fontes pra saber quem fica e quem vai.

Afinal, a notícia passa mas a estratégia da fonte costuma se manter. E nem sempre a coisa fica assim tão explícita. Aproveite este momento.

Monte sua seleção de fontes. Diversifique.

Não leia só aquilo com que(m) concorda.

E, principalmente, use o truque do retro-gosto (o que eu mais uso na vida):

Após a experiencia (o consumo de conteúdo nesse caso), o que sobrou?

Ficou mais informado? Evoluiu sua visão? Sua opinião? Provocou? Energizou? Deprimiu?

A análise DO QUE SOBROU é o seu mapa do tesouro.

Ridiculamente singelo. Ridiculamente efetivo.

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