O Metaverso nada seria se a empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp não tivesse se renomeado para Meta. Provavelmente ainda teríamos um mercado de VR nichado, só com um público que busca mais imersão e jogos mais realistas. Esse movimento por parte da Meta foi um passo necessário para convencer o mercado a investir nessa nova plataforma.
“Metaverso” é um termo utilizado pela Meta para se referir a esse aglomerado de tecnologias e, embora errado, é muito conveniente na popularização desse conceito e tem sido muito bem recebido pelo mercado. A Meta trouxe esse termo para a mídia, que significa muitas coisas, mas principalmente a forma de se referir a um espaço virtual imersivo, acessado através de VR (realidade virtual) ou AR (realidade aumentada). Existem muitas confusões sobre o termo ainda, principalmente que “Metaverso” é um lugar único, centralizado e onipresente. Isso não só está errado como não poderia estar mais “distante da realidade”.
Algumas empresas estão tentando tirar vantagem dessa imagem distorcida que algumas pessoas têm do Metaverso, vendendo “terrenos e espaços virtuais” e muitas vezes por preços exorbitantes, como se o Metaverso fosse um universo único e compartilhado. Esse tipo de produto faz sentido em um lugar onde esse recurso é finito, como em uma cidade, pais ou no nosso planeta por exemplo, onde as pessoas precisam viajar fisicamente para se encontrarem e compartilhar momentos. Nada disso existe no Metaverso, onde os universos são infinitos e você está a um “clique” de distância de alguém. Lembrando ainda que esse espaço vendido é num Metaverso controlado por essas empresas, e seus amigos teriam que conectar naquele Metaverso específico para verem a decoração da sua “casa virtual”, por exemplo.
Cada entidade, seja pessoa ou empresa, tem a capacidade de criar o seu espaço virtual (lê-se “Metaverso”), ou utilizar o espaço criado por outrem (assim como se faz hoje com aplicativos para celulares e marketplaces). Esses espaços são zonas onde você tem acesso através de um “avatar”, uma entidade que te representa nesse universo e que você controla com seu próprio corpo. Ou seja: estamos falando de uma nova mídia, um novo espaço de interação com os usuários. Isso representa, para o mercado de publicidade, mais espaço para propaganda e coleta de dados.
Para quem ainda não entendeu o que uma gigante das redes sociais quer ao investir tão fortemente no Metaverso, eu explicaria com uma simples frase: o produto é, e sempre vai ser, você. Com o aumento da interatividade e a capacidade de coletar mais dados como movimentos corporais ou reações em tempo real, a Meta sai na frente com a quantidade de dados que ela tem acesso de você – e isso impulsiona muito a sua capacidade de vender espaços para publicidade direcionada, que apela para seus gostos pessoais, estado emocional e momento de vida. Provavelmente, a Meta vai saber que você vai pedir pizza para o jantar antes mesmo que você se dê conta disso.
Anunciantes também vão se interessar por criar seus próprios espaços virtuais para aumentar a interatividade dos usuários com a marca, reforçando a sua posição e expondo novos produtos, que podem ser vendidos diretamente ali e entregues no mundo real ou virtual. Hoje temos algumas marcas como a Nike, já fazendo isso.
Quanto a produtos virtuais, muito se fala em NFTs (que são uma forma de comprovar que você detém um produto) de forma decentralizada (através de uma tecnologia chamada “blockchain”). Embora muitos profissionais assumam que essas tecnologias andam juntas, NFTs estão longe de serem um dos pilares dos Metaversos. Existem muitas divergências entre artistas, desenvolvedores e entusiastas de NFTs, muitos argumentam que isso é pura especulação e que comprar um NFT é similar a investir em ações de alto risco na bolsa de valores. Além disso, comprar um NFT não necessariamente significa que ele vai estar disponível em outros Metaversos, que teriam que “suportar” aquele produto específico.
Isso significa que diferentes empresas teriam que concordar com um padrão para essa conectividade, o que sabemos, ao olhar para a história da indústria, que é praticamente impossível – até hoje, padrões como HMDI, USB e DOCX, ainda são complexos, cheios de exceções e muitas vezes suportados de formas diferentes em diferentes ambientes. Imagina você comprar uma jaqueta de couro em um Metaverso e descobrir que ela se parece com um casaco de plástico em outro, ou que ela nem é reconhecida em primeiro lugar?
Provavelmente, NFTs vão ser apenas uma das diversas funcionalidades que esses universos virtuais vão suportar para te atrair e te manter entretido dentro dele, mas provavelmente esse formato vai sofrer alterações enormes e, possivelmente, morrer quando governos começarem a buscar formas de “taxar” esse tipo de produto ou bloquear criptomoedas completamente (como China e Rússia), que são a base das “blockchains”.
Podemos esperar que os Metaversos mais bem sucedidos sejam aqueles que trazem mais valor para os usuários, seja de forma útil para algo do cotidiano, seja em entretenimento. Metaversos baseados em VR vão se destacar na área de entretenimento (como jogos, filmes e live shows), onde a imersão é muito importante, enquanto Metaversos conectados e que funcionem através de AR dominarão nosso futuro e vão ser tão ou mais importantes quando celulares hoje. Wearables AR serão “o novo iPhone”. Podemos esperar viver em um mundo onde todo mundo usa lentes de contato ou óculos com capacidades AR e desconhece o que o termo “smartphone” significa, assim como hoje soa estranho falar de fitas VHS com nossos filhos.
As possibilidades são imensas, especialmente para a realidade aumentada. Já imaginou você poder ver o nome e biografia de cada pessoa próximo ao rosto dela? Poder entrar no mercado e saber o preço de cada produto apenas olhando para ele? Ou fazer o pedido de produtos na sua geladeira apenas confirmando a mensagem da sua Assistente Pessoal, quando ela perceber que você tomou o último copo de leite? Ou ter informações como velocidade do vento, distância percorrida e GPS no meio da rua durante a sua corrida matinal?
Tudo isso também abre um leque enorme para a publicidade. Cada pessoa poderia ver uma publicidade específica em painéis ou telões na rua, ou em conjunto com uma assistente pessoal, assim como ter seus produtos sugeridos em tempo real para seus clientes (“você terminou a garrafa de suco de laranja, que tal experimentar o novo lançamento de uva com hortelã?”).
O importante é ressaltar que, embora o termo seja “novo”, ele representa um conjunto de tecnologias que já existem a um bom tempo. O Metaverso (ou Metaversos) será construído com as mesmas ferramentas que utilizamos hoje na criação de aplicativos mobile, filmes e jogos. Um bom exemplo disso são aplicações que conhecemos a muito tempo, mas que hoje podemos interpretar como Metaversos, como é o caso do Pokémon GO, que utiliza de AR para aumentar a interatividade dos usuários com a IP da Nintendo, ou o aplicativo da Ikea que te possibilita visualizar os moveis vendidos pela empresa na sua casa, também utilizando AR, e que já está disponível a anos.
O Metaverso já existe, você já está nele, só não do jeito que imagina que seria. E muito menos do jeito que ele vai ser daqui para frente.
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