Meu primeiro SXSW foi em 2015. Durante o evento tive uma crise de ansiedade. Lembro de sentar no chão e chorar no fim do terceiro dia de festival. Nunca tinha visto, e nem vivido, nada parecido com aquele volume de informação por metro quadrado. Fora isso, o inglês não fluente exigia de mim uma dedicação extra e uma rotina de aprendizado e assimilação diferente dos colegas. Era uma sombra ao longo do processo.
Aprendi naquela época o que significava FOMO (fear of missing out) e que na vida a gente vai sempre perder alguma coisa e nunca vai dar conta de tudo. Foi no próprio evento que entendi que a linguagem é um buraco muito mais embaixo e que, quando você abre a porta da vulnerabilidade, conexões incríveis podem acontecer.
Uma palestra que assisti nessa época, nem um pouco bombada, exemplificava essa relação da vulnerabilidade com a ação. Foi na vertical Música e era sobre distribuição de música africana para Europa e outros continentes. A conversa permeia até hoje meus insights para criação de estratégias que envolvem comunidades e nichos na hora de distribuir algo que você acredita. Quando as portas não estão abertas para te ouvir, como você entende que, a partir de uma fragilidade, pode hackear o sistema?
Diferente de outros eventos, o SXSW te despe em praça pública. Não só pelo que causam as conversas e palestras que você assiste, mas por ver uma cidade inteira respirar economia criativa e inovação como caminho de construção para um mundo melhor. Não dá pra voltar igual dessa experiência. Todo mundo retorna querendo criar algo melhor, nem que seja no seu perímetro. Porém, não há essa construção se as pessoas não estão dispostas a acessarem suas fragilidades sociais, econômicas e culturais.
Nessa época, também caí nessa. Voltei querendo mexer na estrutura do meu time, no foco nas entregas, no porque ainda insistimos em certos modelos falidos dentro das estruturas de Comunicação. Não deu muito certo. Era como se o pensamento estivesse descompassado da aplicabilidade sobre o que era possível alcançar enquanto cultura de trabalho naquele momento.
Veio 2017 e o evento já tinha explodido em diversas áreas, inclusive no meio publicitário. Minha sensação era de que a galera tinha descoberto que Cannes te dá a pedra lapidada, enquanto o SXSW te traz a forma bruta e escancara nossas brechas entre pensamento e aplicações em todos os sistemas que atuamos. Te vira do avesso. A partir dali, alguns termos, assuntos, plataformas e pensamentos começaram a sair de algumas bolhas. As conversas começaram a circular e a penetrar mais nas estruturas em si.
Não faço ideia do que iremos encontrar pela frente nesse reencontro físico em 2022, num momento de extrema vulnerabilidade mundial depois que essa pandemia chegou. Encontraremos um país tensionado por questões políticas e sociais, assim como todos nós. Certeza que isso se refletirá na atmosfera do evento, que esse ano aposta inclusive numa thread de discussão chamada 2050.
Será que chegaremos lá? Como chegaremos? O que pautaremos? O quanto estamos dispostos e abertos?
No fundo, já aprendemos que não é sobre tecnologia e inovação, é sobre indivíduos. Quem está por trás da criação dos algoritmos somos nós, das ideias mais inovadoras às mais detratoras, também. E nada é mais vulnerável do que seres humanos. O quanto de fato estaremos dispostos aos riscos, à fragilidade e a mitigar os danos que nos amedrontam é fundamental para construir qualquer agenda que passe por inovação e futuros.
Acredito que, em 7 anos desde a minha primeira ida ao SXSW, saímos do FOMO para o JOMO (joy of missing out). O convite agora é para compreender o que é contemporâneo e isso passa também pelo entendimento de até onde podemos ir pelos nossos próprios interesses e atividades. Sem muitas expectativas, sem se preocupar com a possibilidade de perder algo ou com o que os outros estão fazendo e você não. Porém, abertos ao que virá, dentro do que é possível pra cada um. Nesse período, novas palavras entraram no nosso vocabulário, novas conexões culturais, aprendizados.
Fica o convite para mergulhar no SXSW 2022 de peito aberto para o que não podemos prever, comprando os riscos e aceitando nossos limites individuais e coletivos.
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Oi Babi, parabéns pelo texto!
Sobre essa palestra que citou que tratava da relação da vulnerabilidade x ação, aonde posso saber mais sobre isso?
Queria entender como isso influenciou seus insights para criação de estratégias que usam uma fragilidade para hackear um sistema.
Abs e Sucesso ai no SXSW
Valeu
Rod