Desculpa decepcionar, mas não é frase de nenhum palestrante do SXSW. É conclusão que surgiu de um papo na mesa de bar do Broken Spoke (Willie Nelson, Ernest Tubb e Bob Wills já se apresentaram lá), entre uma dança de música country e uma dose de tequila sobre as percepções do evento até aqui. Ao fim do dia, o povo se encontra e vem aquele “e aí, viu o que de bom?”. E ontem, estávamos discutindo sobre como tudo anda diferente. Sem qualificar esse diferente em bom ou ruim, apenas diferente. Público, palestras e o principal: as provocações sobre o futuro.
Aí que está. Há uma atmosfera de menos provocação e mais reafirmação, até mesmo repetição esse ano. A sensação de que palestrantes famosos trazem conceitos já ditos em outras aparições por aqui, ou mesmo de queo line up apresenta discussões que passam por uma atmosfera reconhecida (conhecida é outra história), me fez refletir sobre onde colocamos nossas expectativas. O tal do metaverso, o bitcoin, o blockchain, a tecnologia na comida, as cidades inteligentes, a responsabilidade das marcas, o futuro do trabalho… Já ouvimos isso há séculos, porém, aplicamos? Realmente compreendemos?
Se estamos voltando ao ponto de origem de determinadas conversas, ou até mesmo não evoluindo ainda em certas pautas, ora repetindo conceitos e visões, isso por si só, já é um dado.
Há que se reparar nas nuances, ou esqueceremos o que significa tendência (aquilo que leva alguém a seguir um determinado caminho ou a agir de certa forma) e inovação (ação ou efeito de inovar, coisa nova), as duas grandes verticais do SXSW. Claro que a pandemia traz um véu a mais, uma dificuldade de prever o futuro e por outro lado há um chamado para colocar em prática o que foi apontado como caminho antes. Saber é diferente de aplicar. E o caminho é menos sobre a próxima grande inovação tecnológica e mais sobre a nossa condição humana de lidar hoje com tudo que já está aí.
Destaco algumas frases: “Precisamos desbloquear a inovação” (Sandy Carter); “se você acha difícil gerenciar suas senhas, imagine ter que gerenciar diferentes versões de você no metaverso” (Amy Webb); “precisamos moldar a tecnologia ou a tecnologia nos moldará como sociedade”; “os jovens são super tecnológicos, a questão é como conectá-los com os valores de suas origens” (Rebecca Hub); e “ao invés de dar aos outros usuários o que eles querem, aprenda a respeitar as vulnerabilidades (…) A tecnologia tem que sair do lugar de neutra para apoiar a justiça” (Tristan Harris). Tudo de mais inovador, no fundo, está da nossa pele para dentro. Nós somos a principal tecnologia e essa pra mim é a tendência que está se consolidando cada vez mais nessa Era Pandêmica.
Se eu pudesse resumir em uma palavra – humanidade – é a pauta. Esteve por trás de todas as conversas no WebSummit Lisboa, e agora no SXSW. Os dois principais eventos do segmento no mundo, estão repetindo de forma escancarada, que está na hora de entendermos que, para seguir adiante, precisamos dar um passo para dentro. De forma ética, responsável e comunitária.
É tipo a metodologia de bar aprendida ontem. Anota aí, chama Two Steps. Você só consegue aprender a dança ensinada no Broken Spoken se aplicá-la. Se resume em: dois – um – dois – um. Dois passos pra frente e um para trás. E segue o baile.
(esse artigo é dedicado à Ana Paula Wehba, Gustavo Giglio e Camila Tabacchi).