“Estamos tirando os celulares de vocês”
Foi assim que Bruno Mars abriu a noite e provocou a multidão, que ainda assimilava o golpe, logo no início do recente show no Park MGM em Las Vegas.
(Dizem que alguns já tremiam 😁 )
Smartphones em shows começaram como os substitutos naturais dos isqueiros, tiveram seu momento de poesia, viraram gravadores e hoje são simplesmente um enorme incômodo e os maiores estraga-prazeres dos shows.
Pelo menos, é essa a opinião de alguns artistas como Alicia Keys, John Mayer, Jack White e Bruno Mars que, simplesmente, proibiram celulares em seus shows.
Bruno Mars justifica assim:
“Fica difícil sentir a vibe da plateia e conduzir o ritmo e a dinâmica do show quando o que está a sua frente são milhares de luzes das telas dos telefones. Com as câmeras, você fica tipo ‘não sei se quero experimentar essa dancinha nova hoje à noite’. E se virar piada? E se virar meme?”
Bruno Mars
Ou essa outra explicação da cantora de indie-rock, Mitski :
“Quando estou no palco, olho para você, mas você está olhando para uma tela. Isso me faz sentir como se nós no palco estivéssemos sendo consumidos como um conteúdo online em vez de compartilharmos um momento juntos.”
Mitski
Mas proibir adianta? O pessoal obedece?
Não, óbvio que não.
Só colocar uma plaquinha lá na entrada certamente não vai adiantar nada.
E essa fase em que o próprio artista pede bom senso e colaboração do público, tambéḿ já passou. Desistiram. Não funciona.
A tecnologia entra em cena
Mas eis que surge uma solução, graças a uma empresa que existe exclusivamente para separar as pessoas dos seus celulares durante eventos como shows, aulas, etc.
É a Yondr, que patenteou um sistema muito simples e efetivo. Você coloca o celular dentro de uma capinha lacrada, que só é re-aberta por dispositivos que ficam na saída. Ou seja, você fica com seu celular o tempo todo, mas lacrado.
Só não ficou muito claro como evitar que as pessoas simplesmente ignorem o sistema e entrem com seus celulares nos bolsos.
Caramba, como eu gostaria de ter patenteado essa ideia.
Não agrada todo mundo
O TikTok é o aplicativo que está no centro desta polêmica que divide opiniões. “Eles não podem proibir o compartilhamento pelo TikTok”, reclamava um jovem na plateia do show.
“Tem que proibir porque deve ser difícil para o artista que espera uma plateia empolgada, se apresentar diante de centenas de cinegrafistas amadores.” disse a escritora Chingy Nea, 28, que também compareceu ao show.
“Eu costumava gravar tudo, mas percebi que qualquer que fosse a satisfação que eu conseguisse com os vídeos não valia a atenção ao show ali em tempo real.”dise outra fã presente no show
Krystle, 36 anos, que não quis dizer seu sobrenome discordou: “Um vídeo é uma lembrança e é mais barato que comprar uma camiseta”, disse ela. “Só não use flash e você não vai incomodar ninguém.”
Ela levou sua filha e sobrinha de San Bernardino para assistir Mitski e disse que conheceu a cantora no TikTok. “A mídia social é importante”, disse Krystle. “De que outra forma os jovens vão saber quem você é? TikTok é o que faz as pessoas virem aos seus shows.”
O TikTok ainda não havia decolado nos Estados Unidos quando Jean M. Twenge, professora de psicologia da San Diego State University, começou a escrever seu livro “iGen: Porque as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a vida adulta.
“A Geração Z estava em ‘ensaio geral’ para a pandemia”, diz Twenge. “Eles já estavam saindo menos, dirigindo menos e se comunicando mais digitalmente do que pessoalmente. Eles já estavam deprimidas. Mas os jovens não pediram para nascer em um mundo onde a tecnologia foi projetada para ser viciante. A boa nova é que estou vendo muitos jovens se manifestando contra a exaustão da mídia social.”
“O TikTok é uma plataforma massiva de descoberta de música, mas os usuários postam 10 segundos de uma música em vídeos e ela se torna viral sem que ninguém saiba quem é o artista, a história por trás dela ou qualquer coisa”, justificam os empresários. “Tudo parece super desconectado. E quando estamos no estúdio, a falta de atenção nos dias de hoje faz um artista pensar em escrever músicas mais curtas, em vez de pensar na arte”, observouMitski.
“As mídias sociais permitiram o surgimento de talentos que nunca teriam uma oportunidade se elas não existissem. Por outro lado, elas têm provocado reações que tornam muito difíceis estes tempos em que vivemos”, disse Jesse Coren, empresário de Chelsea Cutler. “O acesso que os fãs têm-lhes, o escrutínio, os comentários negativos e mensagens ofensivas traz uma responsabilidade de comportamento perante a mídia social que é totalmente nova e fere a sensibilidade dos artistas. É invasiva e tem muito peso na saúde mental deles. Poderia ser diferente se o uso fosse feito com empatia e equilíbrio”, completou Coren.
Colocar smartphones em sacos selados pode parecer uma ação dramática para o que hoje é a terceira década de existência da internet, mas é uma concessão que alguns artistas acreditam que vai unir as pessoas.
“Sem telefones, não há medo envolvido”, disse Bruno Mars. “Você pode viver aquele momento sem preocupação. A beleza está em ver algo falhar e você poder falar sobre isso com a multidão, ficando o assunto só entre a gente.”
E você?
Qual sua opinião sobre os celulares nos shows? E sobre as capinhas que deixam os aparelhos inacessíveis durante os eventos? Você é contra ou a favor dessa novidade?