A criatividade de um incrível “mundo fashion paralelo” espremido entre uma tribo da Etiópia e os centros urbanos. O descarte urbano que chega pelo Rio Omo vira perucas de tampinhas e brincos feitos de pedaços de relógios quebrados.
Os Daasanach são uma tribo semi-nômade de aproximadamente 50.000 indivíduos que ficam vagando pelo Vale Omo, no sudoeste da Etiópia. Há alguns anos o território vem diminuindo e a tribo tem se concentrado cada vez mais às margens do Rio Omo, de onde tiram os recursos necessários para sua sobrevivência.
O que ninguém esperava é que as águas do rio seriam também uma espécie de ligação líquida com a civilização, capaz até de criar uma nova moda entre os Daasanach: adornos feitos com descarte urbano como tampinhas de refrigerante, pulseiras de relógios quebradas, fivelas, parafusos, etc.
Na verdade os Daasanach continuam fazendo o que sempre fizeram: colecionando o que vão encontrando pelo caminho e usando a imaginação e a criatividade para fazer uso desses objetos. O resultado é uma verdadeira colisão frontal entre a cultura tribal e urbana (fenômeno que sempre acaba acontecendo com tribos do mundo inteiro), materializada e personalizada em incríveis peças penduradas e espetadas pelo corpo. E tudo isso devidamente capturado pelas lentes do fotógrafo francês Eric Lafforgue, que há anos acompanha os Daasanac, registrando a influência da vida moderna sobre a tribo.
E a influência não pára por aí. As meninas passam meses colecionando tudo o que encontram para conseguir alguns trocados e comprar objetos quebrados, como as pulseiras de relógios, através do pouco contato que têm com visitantes recorrentes.
O fotógrafo Eric conta que as “perucas de tampinhas” foram integradas de tal maneira entre os Daasanach que algumas regras e hierarquias já foram criadas:
[su_quote]As meninas mais jovens e as crianças podem usar uma versão mais básica da peruca, enquanto as mais velhas usam as mais elaboradas e pesadas. Os homens também podem usar, mas só os solteiros. Para conseguirem dormir (não tiram as perucas nunca), eles fazem um “travesseiro de madeira” que é usado como apoio no pescoço[/su_quote]
Lixo de uns, tesouro de outros.