Por que a gente adora apertar um botãozinho?

Por que a gente adora apertar um botãozinho? Por que a gente adora apertar um botãozinho?

Pém! Pém! Pém! Pém!

Seu dia já começa com uma vontade louca de apertar um botão. Neste caso, para avisar este barulhento objeto ao lado da sua cama que você já acordou. Ou, que quer dormir mais.

Eles estão por toda parte. Do despertar até aquela última apagada na tela do celular, na cama de novo.

De todas as suas interações com objetos e interfaces durante o dia, o botão (e sua versão virtual, o “clique”) é, sem dúvida, o que dá mais barato. Daí esse seu dedo de pica-pau nervoso.

Mas o que você talvez ainda não tenha reparado é que um botão pode acionar mais do que aquilo para o qual ele foi criado.

Uma cutucada de botão pode servir de gatilho para ativar coisas em você também, a saber: a sensação de (1) controle e de (2) alívio.

Quando você aperta um botão para chamar o elevador você está dando uma ordem para aquela caixa que leva pessoas para cima e para baixo nos prédios. “Venha me buscar”. É fácil entender que você tem o poder de posicionar aquele pequeno cubo bem à sua frente e, na sequencia, dar nova ordem em forma de clique pelo lado de dentro para que a caixa te leve ao andar desejado.

A parte do alívio é mais sutil. Ela pode ser observada quando você, ou alguém, chama o elevador clicando várias vezes no botão. Você está com pressa e, apesar de saber que o botão já foi acionado, insiste em dar mais uma cutucadinhas, just in case.

É uma maneira de lidar com o estresse da situação. É como se você desse uma ordem com mais veemência, para não restar dúvida nenhuma da sua intenção e assim ter um pouquinho da sensação de fazer mais que o possível para poder lidar com a situação do atraso e deixar claro para o elevador que ele não faça corpo mole e venha logo te buscar. Não é lá algo muito inteligente de se fazer, mas dá um certo alívio.

01. Sinais de pedestres

Quer um exemplo ainda mais claro? Os botões de semáforos para pedestres de NY (acho que talvez os daqui também, mas vou ficar com o exemplo de lá porque tenho os números). Segundo esse artigo de 2004 do NY Times, dos 3250 existentes na época, 2500 já estavam desativados, mas não foram retirados porque deixavam os pedestres mais calmos e pacientes.

É o placebo mecânico.

Um botão que não comanda nada, mas que dá aos pedestres uma sensação de interferência em relação ao trânsito.

Hoje, esse controle é feito por um sistema computadorizado de última geração, ligado à diversas câmeras e sensores que conseguem gerenciar o fluxo entre carros e pedestres com eficiência máxima em qualquer momento do dia. Coisa sofisticada. Mas os botões continuam lá nos postes, para o sistema gerenciar também um pouco os componentes de carne e osso desse processo.

O truque não apenas funciona, como é reforçado cada vez que o sinal fecha para os carros, criando uma relação causal que não existe. Mas o carinha lá no poste nnao quer nem saber, é seu momento Deus supremo do trânsito, capaz de congelar carros só para ele poder caminhar até o outro lado da rua.

 

02. Termostatos

Outro placebo mecânico que existe por aí são os termostatos, aqueles controles que supostamente controlam a temperatura ambiente. Na sua casa eles realmente funcionam, mas em empresas, quase sempre são apenas decoração de parede, já que seria inviável dar a qualquer pessoa o poder da decisão termal de um andar inteiro.

Ironicamente, manter o controle nas paredes acaba com as reclamações (e os calores e calafrios) já que as pessoas acreditam que tomaram uma providência. Em alguns casos, as empresas de ar condicionado chegam ao ponto de usar alterações de ruído falsas como feedback, só para parecer que o botão mudou alguma coisa de fato. Aliás, os especialistas dizem que sensação térmica é algo bem mais psicológico do que a gente imagina, então é uma mentirinha branca porque as pessoas ficam mais confortáveis de verdade e no final é isso que importa. principalmente quando a solução é bem mais barata e funcional.

Enfim, semáforos e termostatos são apenas dois exemplos de botões que servem apenas para aliviar gente.

03. Botões virtuais

No mundo online os botões falsos parecem ser mais raros, mas desconfio que seja pela desproporção com os infinitos cliques reais que o usuário dá em um dia. Parece que existe uma noção clara de que um novo clique no mesmo botão interromperá a ação e portanto não tem muito aquele efeito pica-pau de ficar insistindo no clique. Mas basta usar uma tela touch para que a ilusão da insistência como reforço de comando retorne. Quantas vezes você já viu gente apertando botões em telas de celulares “com mais força”? Uma ação tão natural para os nossos cérebros que hoje é realmente utilizada nas telas e sistemas mais modernos, sensíveis a diferentes pressões e que acabam adicionando um valor tátil, como em apps de instrumentos musicais, onde uma batidinha mais forte soa mais alta, por exemplo. Como na vida real, que é sempre um bom parâmetro porque já temos embutido na cabeça. Mas isso já é outro papo.

A intenção aqui nesse breve texto sobre um assunto extenso era chamar sua atenção para essa capacidade que os botões têm de ativar coisas em você também.

Somos pombos.

E você? Conhece mais algum exemplo? Conte aí pelos comentários!

3 comments
  1. Caro WB, vamos falar de botão? Primeiro: lembra do que voce escreveu no post da KM hall, há uns dez dias atrás? “Mais bizarro do que a notícia em si, é imaginar a dinâmica interna que resulta em uma decisão como essa. Por que alguém achou que era uma boa ideia, alguém sugeriu, alguém questionou, alguém recomendou outra coisa e no final… alguém decidiu que é isso aí e ponto final.” Adorei ( é por essas sínteses que sou seu fã)! Depois eu postei um comentário inspirado nisso: “O mundo está mudando “muuuuuuito” rápido, mas tão rápido que a geração Y que está no poder – ou esteve, tão veloz que a coisa anda – já não representa a geração Y que não está no poder. Hoje temos a notícia que a Havas deixará de anunciar no Google/YouTube. Discute-se que o conservadorismo seja a nova “contra-cultura”. Bom, agora aperta o botãozinho de somar e vê se dá “Amazon”

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