O canal mais hypado do YouTube é um guia perfeito para você fugir dos algoritmos de streaming e descobrir um som incrível.
Eu sempre achei incrível a praticidade que os streamings de música trouxeram para a vida da gente, mas de um tempo pra cá venho exercitando outras formas de ouvir música e de criar a minha própria curadoria. Dentro dessa linha de raciocínio, o canal da NPR no YouTube é uma fonte de descobertas musicais incríveis.
Com mais de 2,7 mm de inscritos, o canal tem mais de 1600 vídeos e uma série especial chamada “Tiny Desk Concert”, que nada mais é que um pocket show feito na redação da rádio, de maneira intimista e super cool.
Ok, existem milhares de outras iniciativas parecidas como essa, como o próprio Sofar Sound, mas eu acredito que o Tiny Desk consegue fazer uma leitura precisa do zeitgeist musical da época e evidenciar nomes que se tornam verdadeiras apostas.
Por lá já passaram artistas como Adele ou Florence and The Machines (que, btw, estavam estourando nas paradas americanas naquela época), mas é no formato mais explorer que o Tiny Desk é incrivelmente encantador.
Para exemplificar, listei meus 10 pockets preferidos para você se jogar no canal:
1 – H.E.R.
Dona e proprietária da empresa R&B contemporânea, H.E.R. (acrônimo de Having Everything Revealed), ou Gabi Wilson para os íntimos, estreou seu primeiro EP (H.E.R. Vol 1) em setembro de 2016 já alcançando os top charts do iTunes americano, um tremendo barulho para quem estava no início. Mas 2019 é que está sendo o ano de H.E.R., pois só na última edição do Grammy ela levou o prêmio de melhor álbum de R&B, desbancando nomes como Toni Braxton e Leon Bridges e melhor performance de R&B, por sua participação em “Best Part” com Daniel Ceaser.
Junte essa carreira bem-sucedida com uma fanbase importante, com nomes como o de Alicia Keys, Barack Obama e Rihanna e temos uma forte candidata à elite do new R&B.
Em dezembro de 2018, H.E.R. fez sua apresentação na NPR cantando seus hits mais importantes.
2 – Erykah Baduh
Bem, essa dispensa apresentações né?! Erica Abi Wright ou apenas Erykah Baduh é um dos maiores nomes do Neo Soul, R&B e Hip Hop e começou sua carreira em 1997. Seu álbum de estreia, “Baduizm”, pegou segundo lugar nas paradas americanas e primeiro nas inglesas, além de ser responsável por três discos de platina e dois de ouro.
A estética focada em sua ancestralidade foi um ponto super a favor de Erykah desde o início, e a fez emplacar várias capas de revistas icônicas, como a Rolling Stones e de quebra levou o Grammy de melhor álbum R&B por “Baduizm” e o de Melhor Performance Vocal de R&B por “On & On”.
Em Agosto de 2018 Erykah Baduh passou pelo Tiny Desk Concert da NPR e fez um dos melhores shows do canal.
3 – Lianne LaHavas
Na lista entre os nomes mais promissores de cantoras britânicas, definitivamente Lianne LaHavas ou Lianne Charlotte Barnes, está bem hanckeada. A cantora estreiou o álbum “Is Your Love Big Enough?” em 2012 e de cara foi eleita pelo iTunes como o álbum do ano.
Com fortes influências de Nina Simone e Lauryn Hill, Lianne é um dos nomes mais fortes do soul, folk e alternative R&B e teve destaque no line up do festival Glastonboury desse ano.
Em outubro de 2015, Lianne passou pela NPR e apresentou um show maduro e com uma musicalidade que abraça a alma.
4 – Andra Day
A pessoa que é descoberta por Stevie Wonder e passa pelo seu crivo já tem meu total respeito e admiração. Cassandra Monique “Andra” Batie, ou Andra Day é de San Diego e assim como toda pessoa gênia, começou a cantar logo cedo. Passou por vários empregos após terminar o high school e um dia foi notada pela esposa de Stevie Wonder na época, Kai Millard, cantando em um shopping. O cantor ficou impressionado com a extensão vocal e a apresentou a grandes produtores.
Tempos depois, Andra se apresentou no Festival de Cinema de Sundance e chamou a atenção de ninguém mais, ninguém menos que Spike Lee que se ofereceu para dirigir o vídeo do seu single “Forever Mine”. Sorte? Talento? Os dois?
O primeiro álbum de estúdio de Andra Day veio somente em 2015 e se chama “Cheers to Fall”. O sucesso foi grande e super aclamado pela crítica. Katie Presley, da própria NPR, definiu o trabalho com muitos predicados. Segundo ela, Andra tem a “confiança inabalável de Eartha Jitt, a compreensão sem esforço de jazz clássico de Amy Winehouse, o acesso de Billie Holiday à emoção crua e a sensibilidade de alcance e pop de Adele”. É para poucas!
Em Outubro de 2015, Andra Day cantou seus hits do então recente álbum em uma apresentação emocionante na NPR.
5 – St. Paul And the Broken Bones
Sabe aquela descoberta que te deixa boquiaberto? Pois foi assim meu primeiro contato com a banda St. Paul And The Broken Bones. Um dia um amigo me mandou o link e eu fiquei ouvindo em looping por horas. O vocalista Paul Janeway e o baixista Jesse Philips se conheceram no início dos anos 2000 em Birmingham no Alabama. Em entrevista para o site The Free Weekly, o baixista Philips disse que nessa época o Alabama Shakes caiu na graça de blogs de música com “You Ain´t Alone” e que, embora a música não fosse a mesma, a “alma” deriva de um mesmo lugar e foi ali que ele percebeu que os som de vibrações sulistas podiam ser reavivados.
A banda já abriu turnê para os Rolling Stones e recentemente, em um evento beneficente de uma ONG de Elton John, o próprio Rocketman se junto a eles no palco para cantar uma de suas músicas. Muita moral!
Em Dezembro de 2014, St. Paul And the Broken Bones me assustou com uma performance digna de um showman e uma voz que me deixou alucinado.
6 – Leon Bridges
Todd Michael Leon Bridges não é exatamente uma novidade, mas o som que o cantor texano cria é muito original e abriu uma porta para diversos outros cantores. Assim que lançou “Coming Home”, seu primeiro single, Leon Bridges já emplacou no Top 10 Viral Track no Spotify. Seu álbum de estreia, com o mesmo nome, saiu em 2015 pela Columbia Records e foi indicado ao prêmio de Melhor Álbum de R&B no Grammy.
“Coming Home” ainda pegou sexto lugar nas paradas americanas e oitavo no Reino Unido e Austrália. Já o segundo trabalho de Leon, o disco “Good Thing”, pegou terceiro lugar nos Estados Unidos e oitavo na Austrália, além do single “Bad Bad News” e “Beyond” que atingiram o primeiro e segundo lugar da Billboard em semanas diferentes. Para encerrar a lista premiada, Leon Bridges ainda coleciona três indicações e uma vitória no Grammy de 2019 como Melhor Performance de R&B, com “Bet Ain’t Worth the Hand”.
Em Setembro de 2015 Leon Bridges mostrou toda a sua influência dos anos 50 e 60 em um pocket show incrível na NPR.
7 – Daniel Ceaser
Ashton Simmonds, mais famoso como Daniel Ceaser, tem ascendência barbadiana e jamaicana, mas nasceu no Canadá e atualmente é um dos nomes mais fortes do neo soul contemporâneo. Apesar de já ter lançado trabalhos menores e já ser notado pela crítica especializada, foi o disco de 2017 que levou o trabalho de Daniel Ceaser para o grande público. Daí para a frente o cantor só foi colecionando números enormes que fez sua carreira se estabelecer cada vez mais.
“Best Part”, sua música em parceria com a H.E.R. assumiu a dianteira das paradas americanas de R&B adulto e levou o Grammy de Melhor Performance de R&B.
Em Junho de 2018, Daniel esteve no Tiny Desk Concert com uma apresentação intimista, uma de suas melhores. Inclusive, neste pocket show ele apresenta “Best Part” com a cantora H.E.R.
8 – Jorja Smith
Antes do Tiny Desk Concert, eu via Jorja como uma ótima cantora e depois do pocket show eu definitivamente me apaixonei por ela. Jorja Alice Smith é britânica, de 1997 e já é bem conhecida no mainstream, inclusive tem uma fanbase enorme aqui no Brasil.
Filha de pai jamaicano e mãe inglesa, Jorja sempre viveu no meio da música porque seu pai tinha um grupo de neo-soul e esse mashup ancestral trouxe muita referência para o seu trabalho.
Em janeiro de 2016, a cantora britânica lançou seu primeiro single “Blue Lights” no SoundCoud. O sucesso foi enorme: mais de 400.000 plays no primeiro mês da música. Já seu segundo single “Where Did I Go?” foi escolhido por Drake como sua faixa favorita daquele momento.
Jorja começou a atingir números incríveis e seu álbum de estreia, o “Project 11” rendeu a ela o título de uma das 15 estrelas promissoras de 2016, na lista “Sound of 2017” da BBC Music.
Com influência do raggae, punk, hip hop e R&B, Jorja criou uma sonoridade interessante, além de ser dona de uma voz incrível, que, btw, já foi comparada a de Adele e Alicia Keys.
Em Junho de 2018, Jorja Smith chegou com tudo em seu pocket show na NPR.
9 – Aurora
Aurora Aksnes é a definição do hype. Norueguesa, nascida em 1996, a cantora viu sua vida virar de ponta cabeça e sua música alcançar gente de toda a parte do mundo, inclusive aqui no Brasil, onde passou por cinco cidades com sua turnê e até no programa “Encontro” já foi parar. Seu EP de estreia, chamado “Running with the Wolves”, foi lançado em 2015 e começou a gerar um burburinho sobre a cantora. Depois disso, ela lançou mais três outros discos de estúdio, todos muito bem sucedidos em vendas e críticas.
A própria cantora afirma que suas referências são nomes como os de Leonard Cohen e Bob Dylan e que seu estilo flerta com o de Bjorck.
Em Novembro de 2015, então com seu primeiro EP, Aurora (super jovenzinha) passou pelo Tiny Desk.
10 – Liniker e os Caramelows
É Brasil! Foi uma grata surpresa ver a única banda brasileira que já passou na NPR em uma apresentação de arrepiar. Caso você esteve ausente nos últimos anos ou foi abduzido por uma energia estranha, Liniker é um dos grandes nomes da música brasileira na atualidade. A banda começou em 2015 com o EP “Cru” e o single “Zero”, um sucesso absoluto de visualizações no YouTube e um super viral por todas as redes sociais.
Em setembro de 2016 a banda lançou seu álbum de estreia, intitulado “Remonta”, que foi viabilizado pela ajuda dos fãs através de crowdfunding. O disco reverberou internacionalmente e começou a ganhar destaque na imprensa estrangeira. Só entre 2016 e 2018 a banda liderada por Liniker passou por mais de 20 países e fez parte do line-up de festivais importantes como o Primavera Sound em Barcelona.
O segundo álbum da banda, “Goela Abaixo”, saiu em março deste ano e deu início a uma segunda turnê que passou por toda América Latina, Estados Unidos e Europa, até mesmo no famoso Glastonboury, ao lado de um line-up de fazer inveja, com nomes como o Years&Years, Miley Cirus, Billie Elish, Lizzo, entre outros.
Em novembro de 2018, Liniker e os Caramelows passaram pela NPR em um show que mistorou o clássico soul e blues, influências fortes da banda, com um toque feliz de brasilidade.
– VIVA A MASHUP CULTURE NA MÚSICA –