Você ganha pouco?

Você ganha pouco? Você ganha pouco?

Não, você não vai achar aqui uma lista com as 10 maneiras de aumentar seu salário. Se é isso que busca, melhor abandonar essa leitura.

Se a curiosidade foi mais forte, então vamos lá.

Imagine um microfone oculto nas mesas de bares, onde você costuma se encontrar com a turma do trabalho, logo depois do expediente. Agora, imagine que ele, o microfone, está ligado diretamente à mesa do chefe. Seria um desastre?

Mesas de happy hour com colegas de trabalho são um clássico palco onde o tema principal quase sempre é a empresa onde trabalham. O assunto parece irresistível. Quem ganha mais, quem trai e quem é traído, quem puxa o saco da diretoria, quem rouba e quem está prestes a perder o emprego. A lista aqui seria infinita, como numa versão business de Game of Thrones.

Eu já estive de todos os lados desse jogo no mundo dos negócios. Ser empregado, patrão e/ou empreendedor autônomo tem as suas peculiaridades. Cada um dos lados tem as suas exigências, e os resultados sempre dependem de como as pessoas envolvidas gerenciam suas ações. Claro, isso é óbvio. Mas, se a gente pensar com calma e prestar atenção aos detalhes, vai perceber que se a equação é realmente essa, acaba entendendo que tudo, no fim, depende exclusivamente das nossas emoções. Sim, de como lidamos com o que acontece com a gente.

Voltando à mesa de happy hour, percebemos que geralmente a atmosfera está repleta de um ar pesado, e as pessoas quase sempre expõem sentimentos negativos sobre si mesmas e sobre o grupo com o qual divide seu tempo de trabalho. E o detalhe mais nocivo, e que passa despercebido, é a pauta da conversa que sempre repete os mesmos tópicos. Raramente falamos de tópicos diferentes. Repare que as lamentações parecem que vêm e vão, continuamente. Quantas vezes uma questão da semana passada teve uma solução comemorada na semana seguinte? Poucas ou quase nenhuma.

Eu não sou bom em estatística, mas estive nessas mesas várias vezes. A reclamação mais comum em mesas de colegas que trabalham juntos é sempre que ganham pouco. Ou não é?

Ninguém ganha o suficiente

O chefe nunca valoriza os funcionários da forma correta… a promoção nunca vem… a empresa paga mal… o ambiente de trabalho é ruim, etc. Nessas mesas fala-se com uma autoridade e uma energia quase que políticas, como se estivessem em um palanque de comício. Eu mesmo fiz isso várias vezes. Mas, o que poucos se dão conta é que nas reuniões oficiais, quando a palavra é dada para a equipe se abrir e falar sobre o que está errado, e dar sugestões de como melhorar a empresa, poucas mãos se levantam, e poucas vozes são ouvidas. E, quando acontece, a timidez ou a falta de bons argumentos acaba por colocar a fatídica cena em rota de colisão com o desastre completo.

Sim, você pode dizer que essa ou aquela empresa nunca dão ouvidos para os funcionários, fazendo com que a equipe esteja sempre desestimulada. É verdade, isso acontece muito. Mas, volto à mesa do bar. Cadê aquela energia que temos lá, quando os copos estão cheios e os pulmões a pleno ar? Aquela energia é valiosa e é ela que pode aumentar o seu salário.

Trabalho é um tipo de relacionamento

Se você é funcionário, então está casado com seu patrão, e o contrário é verdadeiro. Se você é autônomo, então está casado com seus clientes e fornecedores. A qualidade desse relacionamento define o seu sucesso. Não adianta dizer apenas que a outra parte está errada, que o outro é que está errado, e por isso o “casamento” não está dando certo. Todo relacionamento para funcionar precisa de regras claras e espaço para que as identidades se projetem em prol do objetivo que os envolvidos têm em comum.

Se você trabalha para uma empresa que fabrica e vende computadores o compromisso entre o dono e você é de que as necessidades da equipe interna, primeiramente, e as dos clientes e fornecedores estarão sempre em primeiro lugar. Toda a “roupa suja” será lavada entre quatro paredes, onde não poderá nunca haver jogos e nem meias palavras. Quando o relacionamento é aberto e tem suas regras sempre claras, guiando as partes, dificilmente haverá motivo para crises. E, mesmo que elas apareçam, a melhor solução será sempre encarar os fatos com honestidade, e nunca permitir que a fofoca e as conversas de corredor [rádio peão] corroam a confiança que o grupo constrói com tanta dificuldade.

Você ganha pouco talvez porque ainda valoriza muito mais seus próprios interesses, a despeito do que o grupo ao qual pertença realmente precisa. Se a empresa não valoriza você, faça o seguinte teste: eu cumpro todas as minhas obrigações? Eu me envolvo da melhor forma possível? Eu cuida dessa empresa como se fosse minha? A minha comunicação com meus colegas e superiores é clara e objetiva? Eu trabalho para o salário que gostaria de ganhar e não para o que ganho atualmente? Se as respostas forem sim para todas as perguntas, e ainda assim você continua ganhando “mal”, e estacionado na carreira, está na hora de abrir as asas e migrar para um lugar mais quente; talvez até começar seu próprio negócio.

Recalculando a rota

Se mudar de empresa, leve seus talentos e muita boa vontade. Se havia algum rancor, jogue tudo fora antes de pisar no solo sagrado onde começará uma nova história. Sagrado porque tudo que tem a ver com a nossa vida e nossos sonhos precisa ser visto e respeitado de um nível superior, para que haja um comprometimento genuíno.

Se não mais quiser ser um empregado, e daí partir para a vida de empreendedor, faça da mesma forma, e trate sempre seus colaboradores, fornecedores e clientes com o respeito que sempre exigiu quando estava naquela bendita mesa de bar. Ninguém precisa ser seu amigo e beber com você para ganhar o seu respeito e ter acesso à sua verdadeira essência. A gente precisa aprender a organizar nossas prioridades e saber com quem dizer o quê, quando, e por quais motivos, sem fazer exigências que estejam fora do que foi acordado.

Relacionamentos saudáveis são aqueles que permitem que as pessoas entrem e saiam deles, trazendo e levando o que são capazes de cultivar, como abelhas polinizando o mundo. Ideias são mais poderosas do que talões de cheque. Conhecer a si mesmo, entender a si mesma, pode mudar a sua carreira, ajudando a encontrar a sua arte como ser humano, potencializando a sua criatividade, abrindo portas que você talvez nunca tinha imaginado.

Criatividade tem mais a ver com a forma como lidamos com as pessoas do que com coisas que queremos criar. Sem acesso ao mundo das ideias, que depende de conexão humana, não conseguimos criar nada, nem mesmo um elo verdadeiro com a nossa própria essência. E essa, minha querida e meu querido leitor, não pode ser comprada por preço nenhum. Absolutamente, nenhum!

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