A primeira temporada da série de comédia de Phoebe Waller-Bridge, “Fleabag” – uma coprodução da BBC e da Amazon, baseada na produção teatral de Waller-Bridge – fez da atriz uma estrela internacional. Desde então, ela apareceu em um filme de ‘Star Wars‘, é uma das escritoras do próximo filme de Bond e é a criadora da popular serie de TV ‘Killing Eve‘. Portanto, parece hiperbólico dizer que acho que a segunda temporada (e muito provavelmente a sua final, a mesma que fez todos envolvidos levarem para casa o Emmy’s na última semana) é ainda melhor que a primeira. Mas, aqui estamos nós.
Antes de mais nada, vamos estabelecer o tom:
Quem falar que Waller-Bridge – que atua como escritora, criadora e estrela aqui – tem um talento especial para equilibrar comédia e drama está completamente correto. ‘Fleabag’ de alguma forma confronta tragédias realistas e intensas com humor selvagem, mas sem parecer um truque barato, ou que a honestidade da cena tenha sido mal atendida. Explico, sou fã do ‘Curb Your Entusiasm‘, mas sempre fica claro que Larry David está apenas brincando com a cena, não importa o quão sério seja o assunto. Existe um episódio envolvendo sobreviventes do holocausto que acabam, de modo errado, reunidos com membros do elenco da reality de TV ‘Survivor‘ (um show realidade de ‘sobrevivência na selva’), mas não é uma exploração honesta do tópico, fica apenas como uma cena absurda de debate sobre quem sofreu mais, sem começo-meio-fim ou objetivo maior. ‘Fleabag’ vai além, e depois nos traz de volta com uma risada, e depois passa para a próxima sequência, porque existem apenas 6 episódios de meia hora por temporada, então é realmente como um filme longo – mas sem tempo.
Ok, no papel, ninguém absolutamente deveria assistir ‘Fleabag’. É uma pequena história esquálida de uma vida que deu errado. A personagem principal é dona de um café falido. Seu namorado a deixa graças ao hábito de se masturbar com os discursos de Barack Obama, e ela enche o vazio de encontros sexuais sem sentido com pessoas objetivamente terríveis. Quando sua mãe morre, seu pai vai morar com sua terrível madrinha. Sua melhor amiga acaba de morrer em um acidente de trânsito semi-intencional. Ela continua tendo flashbacks de uma memória traumática demais para processar.
Ah, e os títulos de abertura são basicamente apenas dois segundos de skronk de jazz sem abrasivo. Se você ainda está interessado no Fleabag depois de ler isso, deve ser elogiado por sua coragem. Mas, garanto, essa coragem será recompensada quando você realmente começar a assisti-la.
Waller-Bridge também é talvez a maior mestre do meio televisivo de quebrar a quarta parede. Gosto de programas que quebram a quarta parede e falam com a câmera. Mas ‘Fleabag’ usa o truque de forma mais implacável e com mais entusiasmo do que talvez qualquer outro personagem da memória recente. O programa faz por merecer as risadas, seja dos movimentos dos olhos de seus personagens, seja por causa das edições inteligentes que espelham suas aparências e atuações, e a personagem também experimenta com fórmulas diferentes, às vezes atraindo o espectador e fazer com que o programa pareça íntimo, outras vezes afastando a câmera ou usando outros meios para avançar na trama principal.
O elenco, também inclui nomes gigantes como Olivia Colman, Bill Paterson e Brett Gelman. Mas, e repito, a artista de destaque é a própria. A auto-aversão dela é tão feroz e borbulha para a superfície de maneiras tão inesperadas que você nunca consegue tirar completamente os olhos dela.
tl,dr? Você ja deveria estar assistindo ‘Fleabag’ esse tempo todo.
. Fleabag
. Amazon Prime Video (Já no Brasil)
. Episodios: 12 (2 temporadas)
. Tempo Médio: 25 minutos cada em média
. Comédia-Drama