Todos os olhos voltaram-se para Mountain View, California, na quarta-feira à tarde, quando Jack Dorsey efetivamente passou a frente de Mark Zuckerberg com uma nova política do Twitter que proíbe, já de modo efetivo, anúncios políticos.
O Facebook, é claro, tem sofrido críticas severas por sua posição de permitir falsas informações em anúncios políticos em sua plataforma – Alias, algo prometido desde 2017, e pouco efetivo. Mas o Twitter pode ter definido o novo padrão. “Decidimos interromper toda a publicidade política no Twitter globalmente”, tuitou Dorsey.
“Acreditamos que o alcance da mensagem política deve ser conquistado, não comprado”.
Na prática, Jack está falando de conexões reais entre a política e pessoas, e causar impacto orgânico que não seja ofensivo, como o tweet do presidente norte-americano, Barack Obama durante a reeleição, que teve a publicação como o mais curtido e replicados por bons anos.
Embora o plano do Twitter possa ser mais fácil gritar do alto das montanhas do que realmente implementá-lo, o anúncio de Dorsey foi elogiado principalmente pelos observadores da mídia, muitos dos quais criticaram o Twitter no passado.
“A decisão de Dorsey parece vir, pelo menos em parte, do reconhecimento do que as plataformas de mídia social – especialmente o Facebook muito maior e mais influente – fizeram com a política americana nas eleições de 2016”, escreveu Margaret Sullivan, colunista de mídia do The Washington Post. “A desinformação viral que circulou nessas plataformas manchou a eleição, e há todos os motivos para pensar que isso acontecerá novamente no próximo ano. Na verdade, isso já está acontecendo. “
Sullivan aponta que o Twitter recebe cerca de US$ 3 milhões por ano de anúncios políticos. Este artigo da Associated Press não msotra um total cumulativo para a plataforma, mas mostra que todos os principais indicados ao Partido Democrata, fora de Beto O’Rourke, gastaram menos de US$ 1 milhão cada na plataforma durante o ano passado. A campanha de Trump gastou apenas US$ 6.300 em anúncios no Twitter desde janeiro, segundo a ABC, em comparação com US$ 15,6 milhões em anúncios no Facebook e US$ 9,1 milhões em anúncios do Google. Tim Murtagh, diretor de comunicações da campanha de Trump, disse que a campanha planejava gastar “many” milhões nos próximos 12 meses.
Então, essa proibição ajuda uma visão de partidos políticos mais do que o outro? Ainda usando o plano norte-americano: Democratas como Alexandria Ocasio-Cortez e Hilary Clinton elogiaram a mudança, enquanto republicanos como o gerente de campanha de Trump, Brad Parscale atacaram a decisão. A campanha do ex-vice-presidente Joe Biden elogiou o Twitter por se posicionar, mas disse que era lamentável que a empresa estivesse criando essa proibição.
No Brasil, a lógica funciona similar, apesar de nenhum político compartilhar algum comentário sobre a decisão, é utilizado meios orgânicos (e não orgânicos) para gerar um movimento de distribuição de ideias e projetos. – O investimento ainda é relativamente pequeno, se comparado com o US e agora deve diminuir um pouco pela plataforma dos passarinhos.
O verdadeiro impacto deve vir se outras empresas de rede social como o Facebook e o Snapchat seguirem o exemplo – Valendo lembrar que redes novas como o TikTok, que deve fechar 2019 com 1 bilhão de usuários – Facebook demorou anos para atingir o número -, não tem espaço qualquer para o assunto, e não acredito que queira no futuro próximo.
Como este artigo destacada, em março passado, as campanhas normalmente gastam apenas 5% de seu orçamento geral em publicidade em mídia digital, com spots de rádio e televisão ainda recebendo a maior parte dos dólares. Uma análise da Cross Screen Media, no entanto, projeta que os gastos com publicidade digital estejam mais próximos de 23% no ciclo eleitoral de 2020.
Carol Roth, da Fox Business, afirma que gastar em anúncios significa pouco quando falamos em divulgar algo contra a popularidade social que alguns usuários conquistaram.
“Aqueles que têm milhões de seguidores – e são seguidos por contas com replicação grande de base de seguidores também – sempre poderão ampliar mensagens de forma maior do que aqueles que produzem conteúdo de qualidade, mas não atraíram uma grande base de seguidores. Como o uso da moeda social é diferente ou melhor do que o uso da moeda monetária? ”
O ponto que falamos acima sobre o Brasil que já vive nesta realidade, e aqui a cultura popular ajuda muito, seja por curiosidade de seguir para “saber o que acontece” ou replicar informações que não concorda e acabar ajudando o impulsionamento do mesmo. O usuário final nunca vai entender o algoritmo das redes sociais, e não sabem que podem estar ajudando ou atrapalhando quando curte, compartilha, assiste e comenta naquele post em questão.
Com a popularidade em números de seguidores, similar a de vários políticos mundo digital afora, é fácil acreditar que o presidente americano, Trump, e seus 44 milhões de seguidores no Twitter poderiam (e o fazem) influenciar a conversa política mais do que um anúncio pago.
As redes sociais precisam adaptar um novo algoritmo próprio para política e instigar mais a troca direta entre eleitores e candidatos. Não é o fim dos trabalhos no digital quando pedimos o banimento dos anúncios, é pedir o início dos trabalhos humanos reais e criativos para compartilhar a visão e combater dados e informações com a realidade ao redor de cada um de nós.