Oportunidade x necessidade: é hora da indústria criativa mostrar seu valor

Oportunidades não faltam, o principal é saber qual você vai oferecer

O mercado de propaganda e marketing já está sofrendo impactos bem significativos diante da crise provocada pela epidemia do COVID19, que transformou o comportamento de cada um de nós. E não importa o quão otimista sejamos, a verdade é que vai sofrer ainda mais até o fim desse processo. O ponto agora é entender qual vai ser o tamanho desse impacto e, principalmente, o que fazer para minimizá-lo ao máximo. E é nessa hora que a indústria criativa precisa mostrar seu real valor.

Muitos anunciantes já estão cancelando campanhas ou congelando investimentos, o que é normal e até necessário em muitos casos. Porém, o cenário está gerando uma série de oportunidades. E o básico já não é mais suficiente.

O primeiro movimento das marcas foi o de abraçar a causa, abrindo conteúdos, declarando apoio a clientes e fornecedores, mudando logotipos. Agora, manter-se limitado a isso vai significar ser esquecido ou engolido por ações mais efetivas de concorrentes. Mais do que isso, para agências menores e players do mercado audiovisual, que dependem do próximo projeto rodando para garantir suas estruturas, parar por completo pode significar não existir mais em dois ou três meses.

E isso não precisa acontecer. Ao mesmo tempo em que o consumo de artigos teoricamente supérfluos perde o sentido para a maior parte da população, como o de assessórios de moda e alta gastronomia, um bom planejamento de marketing, mesmo que de transformação temporária do seu negócio, pode garantir sobrevida a marcas, produtos e serviços até tudo isso passar.

“Oportunidade” ainda é a palavra-chave. Mas se no início a interpretação era focada em como aproveitar oportunidades em prol dos negócios, focando em venda pontual ou construção de marca, agora o sentido muda de direção: chegou a hora de pensar em como oferecer oportunidades para os consumidores, sendo o catalizador desse processo, focado nas necessidades ou vontades de quem está do outro lado – e que, diante do caos, abre um leque muito maior do que estamos acostumados a considerar.

Algumas iniciativas têm chamado atenção e dado muito certo para os primeiros players que a implementaram. Restaurantes estão vendendo vouchers para serem usados até o fim do ano, com valores atrativos como “pague R$ 50 e consuma R$ 100”. Isso pode garantir não só entrada de caixa em um momento de portas fechadas e basicamente zero receita, mas ainda atrair novos clientes – que fazem a aquisição exatamente pelo senso de oportunidade, mesmo sem conhecer o estabelecimento – e mais gastos no momento da visita.

O mesmo acontece com plataformas de streaming e conteúdo. Pela necessidade de continuar operando, muitas empresas precisam achar novos recursos para chegar ao público-alvo. Especializadas em transmissões ao vivo pelas redes sociais e plataformas de compartilhamento de arquivos estão oferecendo seus serviços a valores simbólicos para facilitar o processo de quem muitas vezes nem conhecia tais sistemas e seus benefícios, mas que podem virar clientes frequentes. Serve para desde empresas de educação ou professores (como os de línguas ou música), dando maior alcance a seu conteúdo, a bandas ou artistas que podem disponibilizar shows e obras em troca de um “chapéu virtual”. Terapia? Aposto que muita gente vai precisar.

No geral, enquanto menos pessoas vão a pontos de venda, muito mais gente está consumindo TV, portais e redes sociais. Em vez de congelar verbas, saber como criar ou participar de uma conversação pode transformar a crise em mais faturamento. Os “desafios” de Instagram estão mais fortes que nunca, uma vez que estamos todos buscando uma forma de socializar em meio a uma espécie de BBB forçado e sem plateia. Mais uma vez, o que vai separar sucesso e fracasso será a criatividade e a pertinência, muitas vezes como uma dose necessária de ousadia.

É nessa hora que todo o marquetês que lemos por aí, cheio de expressões em inglês, tem que fazer sentido na prática. O uso inteligente de dados e o tal social listening – ouvir e entender o que as pessoas estão dizendo e principalmente como estão se comportando – pode dar insights muito mais eficazes que o achismo de que conhecemos muito bem nossos clientes.

Por geolocalização, comércios locais podem ser mais simpáticos e efetivos, se souberem o que o cliente precisa e unirem em combo a conveniência com valores atrativos. A gente pensa em comida primeiro, ou medicamentos, mas vale para livros, equipamentos portáteis de ginástica e até serviços estéticos: pois pode parecer fútil em tempos de pandemia, mas os cuidados com a aparência, ao invés de sumir, tendem a aumentar ainda mais para uma boa fatia do público com a superexposição nas redes durante o período. Por quê não um serviço de amostras de maquiagem, empréstimo de roupas de grife para o “look do dia” ou até um tutorial de “corte você mesmo” de um salão de cabeleireiro. “Deu errado? A gente resolve para você com desconto quando tudo acabar”.

A hora é de desafiar a equipe, abrir a lista de parceiros de comunicação e provocar um a um em busca de saídas pertinentes. Cutuque sua agência sem briefing estabelecido. Pergunte às produtoras como viabilizar mensagens sem ter que sair de casa, com recursos como animação, edição e pós-produção. Se você é menor, ative seu networking ligando ou mandando mensagem para amigos criativos, pessoas de outras indústrias, que podem ser não só parceiros nesse momento de crise, mas futuros aliados ou até a salvação do seu negócio. Oportunidades não faltam, o principal é saber qual você vai oferecer, em vez de só tentar aproveitar.

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