Muita gente confunde minimalismo com “pouquismo”.
O pouco é insuficiente. Já o mínimo, bom… é o mínimo. Mínimo necessário.
Se o seu filho pergunta se tem carvão para fazer um churrasco e você responde que tem pouco, significa que não tem o suficiente e que o churrasco não vai rolar. Mas se você responde que tem o mínimo, significa que a quantidade dá pra viabilizar o churras.
O mínimo é o limite da viabilização de alguma coisa, é o que separa o impossível do possível. É a partir dele que as coisas podem acontecer. E não é necessariamente pouco, em termos de volume. Uma caixa de ferramentas de um mecânico, e a de uma pessoa comum, podem ser ambas “minimalistas”, mas com quantidades de ferramentas bem diferentes.
Mas qual a vantagem de usar o mínimo?
Não é melhor ter ter um pouco mais? Por que sofrer desse jeito?
Claro, podemos usar uma folguinha, não é uma obrigatoriedade viver com o mínimo. Senão estaríamos todos em cavernas ainda. Mas depois que você consegue enxergar e estabelecer esse limite do mínimo necessário, nasce um outra coisa que é a conscientização do “supérfluo”, das coisas que você não precisa. E quando você percebe as coisas dessa forma, em duas gavetas, a do “necessário” e do “desnecessário”, você ganha liberdade porque abandona a noção de dependência. Você usa o que quiser, mas não precisa. E quando a sua percepção do necessário fica exagerada, você perde um pouco do poder de decidir. É meio viagem, mas aguenta firme que eu vou tentando explicar mais.
Pessoalmente tenho sempre como meta abrir a gaveta do necessário em 90% das vezes.
Mas aí alguém me vê com um smartphone na mão e fala
“A-há! Iphone é minimalista? Isso é totalmente supérfluo. Você não precisa disso para viver”.
Bom, na verdade preciso sim porque é uma ferramenta que uso continuamente durante todas as minhas horas em que estou acordado. E por causa dese aparelhinho, não assisto mais TV, por exemplo.
Essa é outra conclusão importante: o mínimo varia de pessoa para pessoa, assim como no caso do mecânico que comentei agora pouco.
Minimalismo e quarentena
Com a quarentena, novos limites foram estabelecidos em nossas vidas. muitos deles, ligados ao consumo. Por exemplo, ninguém mais vai ao restaurante. E eu posso quase que apostar que você vai concordar comigo que ficou fácil enxergar como a gente gasta muito com restaurante. Bom, pelo menos esse é o meu caso. Meu cartão de crédito deste mês foi uma grata surpresa. E, quando a quarentena acabar, TALVEZ eu tome decisões mais conscientes na categoria restaurante e guarde esse dinheiro para uma viagem ou um curso.
Outros exemplos não faltam nessa situação em que caímos de pára-quedas. Não estamos mais usando o carro (tem ligado? Cuidado hein, que a bateria acaba rs), demos uma licença para a funcionária da casa (e estamos fazendo coisas de casa e aprendendo a dar valor a este serviço), estamos usando menos variedade de roupas, etc.
E depois que isso tudo passar, seu conceito de supérfluo vai estar bem diferente, garanto. Mas será que você vai ser outra pessoa? provavelmente não, mudanças de hábito levam tempo. mas pelo menos, vai estar mais consciente do que consome, não apenas em termos de produtos e serviços, mas também em informação, em tempo em família e uma lista de prioridades novinha em folha.
Outras Vantagens
Minimalismo acaba virando um vício. Infelizmente é aquele tipo de palavra que invoca uma aura meio mística, mas na verdade é um estilo de vida bem pragmático e que pode influenciar coisas bem rotineiras como a sua produtividade, sua eficiência em diversas áreas que você nem pensaria em termos minimalistas (como técnicas em atividades físicas, que podem se beneficiar de uma abordagem minimalista), etc.
Sendo prático como prometi no título do texto, compartilho um pouco da minha experiência com o minimalismo, sem me aprofundar muito, apenas para compartilhar como exemplo. Acho que a primeira vez foi como profissional de criação.
A maioria dos criativos da minha geração aprendeu a usar o minimalismo na hora de criar porque estávamos presos a uma grade de programação de veículos. O texto do filme, do anúncio e do spot de rádio tinha que ter o mínimo necessário como meta, nem menos, nem mais. Talvez um pouco mais vai, mas só para dar um charme. A criatividade vinha da habilidade de saber enxugar da forma mais elegante (no sentido da economia bela) possível. Fiz isso como redator e depois como diretor de arte e depois como diretor de criação. E isso ficou impregnado na maneira como penso profissionalmente, tanto é que tenho muita dificuldade em usar redes sociais porque tenho um profundo respeito pelo tempo das pessoas e tenho essa tendência em ser breve e direto ao ponto (se bem que esse texto já está ficando longo rs).
Depois, na minha vida pessoal também. Minha primeira rapa o armário eu tirei uns 30%. Com o tempo fui tirando mais e, em 2017 eu fiz um rapa pra valer e tirei 90%. Lembro que minha esposa falou que ei iria me arrepender amargamente. Não foi o caso. Hoje tenho algumas camisetas básicas, bermudas, poucas calças… tudo baseado no que realmente uso. Stress zero na hora de me vestir e um prazer por ter doado o resto para quem precisa mais do que eu.
Minha mesa. Outro exemplo. Quando fica zerada de bagunça, trabalho com mais clareza.
Minimalismo digital, o meu preferido.Meu celular e meu computador tem uma configuração específica para me ajudar a montar um painel de ferramentas com o mínimo de esforço e desperdício de tempo – e o máximo de performance. Liberdade!
Enfim, não faltam exemplos. Depois escrevo um post complementar com mais algumas experiências senão.
Então boa quarentena e aproveite o momento para pensar no minimalismo.
E sim, sou virginiano. Com ascendente em virgem (não me julgue).
Mas não é por isso.
Tá. Um pouco.
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Tem também o essencialismo, um pouco mais voltado para coisas não materiais. Tem uma sobreposição.
Adorei!! Estou nessa vibe, mais consciente e menos afobada no consumo. Foi ótimo ler essa matéria, me lembrou do que seguir.
Obrigada e parabéns!!!
Que bom Ivana, fico feliz ;) Obrigado!
excelente
Meu sonho é ter disciplina e desapego para um dia ser um minimalista. mas ainda não sou assim tão evoluído. Mas conceitualmente faz todo sentido, seu texto me animou atentar novamente.