A arte e o segredo do ofício

Não é de hoje que pessoas ordinárias (e quase sempre invisíveis), fazem coisas extraordinárias.
A arte e o segredo do ofício A arte e o segredo do ofício

Aqui do outro lado da rua estão construindo uma casa e gosto de ficar acompanhando de longe a movimentação dos pedreiros.

Há pouco tempo, tudo o que havia no terreno eram uns montes de areia, cimento e alguns blocos. E um pessoal barulhento.

Hoje, tem uma casa toda retinha no lugar.

Como bom virginiano, fico conferindo os alinhamentos, tentando achar alguma coisa torta (é, eu sei).

Ainda não achei nada fora de lugar. E aí fico imaginando como é possível aqueles caras, que fazem a bagunça que fazem, que falam as bobagens que falam, que escutam as músicas que escutam, são capazes de fazer… uma casa. Os caras fizeram uma casa super moderna, cheia de retas e curvas perfeitas, cheia de fios e canos e a maior parte, praticamente à mão.

Se fosse eu, com os meus 2 braços esquerdos, não conseguiria nem subir uma parede reta para pendurar meu diploma, papelzinho superestimado, que serve apenas para atestar o privilégio de ter frequentado uma escola até o fim (frequência, mas nem sempre qualificação) e que se dependesse de mim, não poderia nem ser exibido ao mundo por falta de parede.

Não é de hoje que gente simples (quase sempre invisíveis aos nossos olhos preconceituosos), fazem coisas absolutamente complicadas. Basta pensar nas pirâmides, ou tantas outras obras gigantescas erguidas na antiguidade, por escravos famintos e sem qualquer educação formal.

Esse mistério tem nome: ofício.

O que se sabe fazer na prática, aprendido por imitação do mais experiente, tentativa e erro. Habilidade.

Habilidade que na mão de alguns vira arte e diferencial, os chamados “segredos do ofício”, desenvolvidos através de qualidades inerentes a qualquer pessoa, independente de seu nível social ou escolar, como a criatividade, o aperfeiçoamento constante, a ambição.

Dá uma olhada na técnica desses caras.

Talvez seja comum para o pessoal ligado a arquitetura e a construção civil, mas eu acho incrível.
Eficiência máxima, desperdício mínimo.

Habilidades Incríveis

Trabalhadores Super Ágeis

https://www.youtube.com/watch?v=TkHoCBON9ck

Não é uma habilidade nata (talento), ou algum artesanato que o cara inventou. É a coisa mais banal de uma construção, sem qualquer glamour, mas bacana demais (pra mim, pelo menos hehehe). Infelizmente a educação informal ainda é pouco reconhecida e quase sempre descriminada e mal remunerada.

Dica do post: descubra sempre o “fazedor” no seu próximo projeto. A pessoa lá no fim da linha. Quem vai de fato botar as coisas para funcionar? Procure a pessoa que pilota o computador, a finalizadora, a que vai ter que fazer o que foi discutido naquela reunião com 20 pessoas e que agora terá que ser colocado em prática por alguém.

Descubra o piloto, o cirurgião.

Vai fazer um jingle? Atenção para os insights do músico.

Vai aprovar uma campanha? Atenção para os insights do redator, do diretor de arte, do programador.

Construindo uma casa? Atenção no pedreiro.

Claro que não quero desmerecer a qualificação dos outros envolvidos, nem da educação formal. Claro, alguém tem que ser o cabeça e coordenar os projetos e equipes com visão holística. Mas jamais deixe de prestar atenção em QUEM FAZ, jamais permita excesso de intermediários entre o que você busca e a pessoa que vai, de fato, fazer o que você pediu.

Busque o executador, o “DOer”.

Visite a cozinha.

Pode até ser que não seja o cara que vai ter a resposta certa, mas certamente tem insights.

Abaixo, um video do processo minucioso da produção da LEICA M9-P que foi postado por aqui anos atrás e que ilustra muito bem a arte do ofício.

13 comments
  1. Excelente reflexão, concordo que precisamos observar sempre o executor, aquele que põe a mão na massa.

    Obs: A página para o link da LEICA M9-P não está ativa.

  2. “…que escutam as músicas que escutam…”

    hahahahahahaha

    Que texto adorável!

    Acredito fervorosamente que entender que o trabalho de cada um tem seu valor, sua importância e merece o devido respeito é o começo de uma sociedade mais justa e uma convivência mais civilizada.

  3. Eu até diria que a educação formal também não tem seu reconhecimento, dependendo do lugar e do tempo. Saber fazer é essencial para saber mandar. Não precisa ser expert, mas entender o mínimo com quem faz. Desde que se queira mesmo fazer algo. Talvez seja isso que está causando o desaparecimento de tantos ofícios que exigem habilidades manuais. E todo mundo sai perdendo no final. Pouca gente ainda acha importante o tempo que leva para aperfeiçoar algo. Coisa the cultura de fast-qualquer-coisa…

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