Esta semana foi destaque a notícia de que o Carrefour está abrindo lojas sem atendentes em São Paulo. Ainda que o formato de lojas sem atendentes não seja novidade, a aposta de um grande player neste formato indica o começo de uma onda.
Cheia de inovações que combinam compras em app com a loja física, QR Codes e reconhecimento de imagens, a loja vem resolver um problema bem mais tradicional do Carrefour, sua estratégia de localização voltada para conveniência.
Observem o padrão de localização das lojas Carrefour Express em comparação com as Minuto Pão de Açúcar:
Carrefour Express
Minuto Pão de Açúcar
Fica claro que a rede Carrefour Express está mais concentrada nos corredores comerciais e nas zonas centrais. Numa estratégia clássica de dominação pelo centro, que busca atrair o consumidor antes de sua ida para casa.
No entanto, as mudanças provocadas pela pandemia, com restrições às atividades comerciais e muita gente em home office, afetaram diretamente essas regiões e, por consequência, a estratégia de conveniência adotada pelo Carrefour.
A saída para este dilema estratégico vai além do discurso de transformação digital, uma vez que as lojas sem atendimento permitem que o Carrefour corrija sua estratégia de localização e ainda faça isso com um custo menor do que seria entrar na disputa por pontos comerciais nos bairros.
Isso ocorre porque o critério para localização das lojas sem atendimento segue novas premissas, como operar dentro de condomínios, estacionamentos e demais espaços integrados a outras atividades, em formatos de 15 a 45 metros quadrados.
Desdobramentos desta estratégia ainda podem envolver a integração com apps de entregas, fazendo com que as pequenas lojas sem atendentes funcionem também como darkstores, dependendo menos de localizações nobres e aumentando o poder de pulverização do formato.
A maior parte das notícias destacou o aparato tecnológico que suporta a operação, mas no final do dia vemos que a inovação veio para resolver o problema bem tradicional, como declarou o Diretor de Proximidade da rede: A ideia é que isso ajude impulsionar o modelo “mercado de proximidade”, nome atual para os “mercadinhos de bairro”.
A loja é futurista, mas o varejo continua seguindo o mantra “location, location, location”.
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Artigo escrito em conjunto com Daniele Kono, Geógrafa e Professora de Geomarketing nos MBAs da ESPM, quem primeiro observou este padrão.