É inevitável notar o quanto toda uma geração de empreendedores, que já foi considerada genial, vem sendo detonada por escândalos e controvérsias em vários filmes, séries e livros a respeito dos absurdos que cometeram na construção de seus unicórnios. Desde Steve Jobs na Apple, passando por Facebook (META), até os casos da Theranos, WeWork e do Uber, esse ponto de vista geralmente execra as personagens dos fundadores e preserva os investidores, que fomentam um sistema tóxico de maximização do retorno financeiro.
Por favor, não me leve a mal, esses empreendedores, que já foram glorificados pelos mesmos que os criticam, merecem toda a crítica que estão recebendo. Até mais que isso, na maioria dos casos, ainda não os vimos pagar pelos danos que causaram, sobretudo aos menos poderosos. No entanto, acho que estamos nos esquecendo dos grandes financiadores que alimentam esse mecanismo.
Ao invés de olharmos para os problemas sistêmicos da dinâmica de incentivos entre investidores e empreendedores, ignoramos os vícios de quem estimula e financia a farra. Eu sei, adoramos um vilão carismático para odiar e despejar toda a culpa. Acontece que, enquanto as mesmas histórias não forem usadas para problematizar a postura dos fundos de investimento, dos reguladores e do mercado como um todo (junto com os empreendedores vaidosos e megalomaníacos), estaremos destruindo a parte mais fraca de um problema maior para proteger um sistema ruim, como se fossem casos pontuais ou “algumas maçãs podres”, o que não é verdade.