Aprenda como criar um segundo cérebro

Seu cérebro já não dá conta de tanta coisa? Fácil: faz mais um.
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O que é um segundo cérebro

O conceito de dar uma mãozinha para o seu cérebro, usando um recurso externo como uma notinha escrita em um guardanapo, não é novidade. Mas a expressão “criar um segundo cérebro” (uma feliz analogia cunhada pelo escritor Tiago Forte), ajuda a entender a intenção.

Aqueles anos todos na escola, decorando nomes, números, datas, lugares e eventos históricos pra passar de ano, acabaram criando um estilo de gerenciamento de informações meio bugado. Hoje as escolas já ensinam de um jeito menos decoreba, mas mesmo assim ainda se carregam métodos pessoais de aprendizagem pouco eficientes, pouco pró-ativos.

Temos esse processo muito internalizado e achamos que o nosso cérebro biológico, bem ou mal, vai ter que se virar como pode. Mas hoje em dia temos tecnologia suficiente para usar um método que pode ser mais eficaz: usar nosso cérebro mais para TER ideias e menos como gaveta.

Como?

Sabe quando você anota o telefone de alguém em um papelzinho, ou no celular, pra ter certeza que não vai perder?

Não dá uma sensação boa, de segurança?

E não é bom saber que você não vai precisar decorar esse número?

A ideia de construir um segundo cérebro é basicamente essa, só que para muito mais coisas na sua vida. É um guardanapo mais ambicioso.

Por que criar um segundo cérebro?

Esse segundo cérebro é ótimo para funcionar como armazenamento, que é a primeira função que a gente imagina, como a gente faz com um HD externo no computador. Mas, além de tirar esse fardo de guardar informações, ele também funciona para deixar suas ideias mais livres, leves e soltas para você combinar.

Um segundo cérebro atua basicamente de 3 maneiras

  1. capturando
  2. organizando
  3. conectando (e eventualmente colocando ideias em uso)

Essa parte do “colocar em uso” é especialmente importante, porque senão seu segundo cérebro só vai funcionar para acumular mais, quando na verdade as informações já estão todas por aí, todas meio que acumulados nesse cérebro único e planetário do universo online (que é outro conceito, o do “Global Brain”, que também é muito bacana).

Por exemplo: você tem um caderninho de receitas. Que bom, você quer fazer um bolo e não vai precisar lembrar de cabeça os ingredientes, as quantidades, o passo-a-passo, etc. Mas, para funcionar direito, o tal caderninho tem que estar mais ou menos à mão, certo? Porque se você não se lembrar onde guardou o bendito caderninho, ele deixa de ser parte da solução e vira parte do problema. Afinal, antes você queria só fazer um bolo, mas agora vai ter que vasculhar a casa atrás do caderninho.

Essa situação ilustra um dos grandes problemas desse universo de dicas de produtividade que tem por aí: são coisas feitas para facilitar, mas que sempre correm o risco de virar uma etapa extra no processo. Tipo aquele app de “notas-rápidas” que você demora 3 minutos pra achar e quando acha, ele demora mais 2 minutos pra abrir. E quando finalmente abre… “o que era mesmo que eu tava pensando?” Tecnologia boa tem que ser imperceptível. Que nem juíz de futebol, não pode aparecer muito, tem que deixar o jogo fluir. Quanto menos tivermos consciência da sua presença, melhor.

O que colocar no seu segundo cérebro?

Não existe uma listinha definitiva, com os aplicativos certos para criar um segundo cérebro. Cada um vai montar a sua, o seu sistema, de acordo com as ferramentas preferidas. Tem gente que é mais pá-pum, tem gente que é mais cri-cri (que definição técnica, hein?). Questão de personalidade, de nível de organização. E o mix dos apps também vai evoluindo com o tempo, um ajuste constante, feito por tentativa e erro.

Eu, por exemplo, já experimentei DEZENAS de apps daqueles que fazem listas de afazeres, os famigerados “to-dos”. Assim que acho um novo, baixo na hora e começo a usar. Mas poucos duram mais do que uma ou duas semanas no meu celular.

O que eu mais uso, para você ver como é algo pessoal, é um ridiculamente simples e totalmente desconhecido, chamado “later”. O motivo é que ele é 100% um reminder. E eu prefiro um app que corra atrás de mim do que o contrário. Ou seja, a função de lembrete é a que mais funciona para o meu estilo de vida e esse app foi feito pra isso. Essa é a verdadeira medida da produtividade: a diferença na VIDA REAL e não só porque o app é cheio de firulinhas que a gente adora, claro.

É importante criar uma coleção que você USE SEM PENSAR.

Bom, tá claro então que não existe uma listinha única para todo mundo. Mas não é por isso que você vai sair de mãos abanando desse post. Peraí que vou dar umas dicas de como criar um segundo cérebro pra você montar um sistema que realmente pode mudar sua vida, sem exagero.

Dicas de apps que podem servir para montar seu segundo cérebro

O truque aqui é pensar nas etapas e não no aplicativo A ou B.

Pense no objetivo de cada etapa e depois você decide qual app usar, de acordo com as suas preferencias.

Abaixo, apenas algumas sugestões de aplicativos que eu uso no meu dia-a-dia, sem entrar em muitos detalhes. Depois posso fazer um post só com os apps.

01. Captura

A primeira etapa é a da captura das coisas boas que vez ou outra pipocam na nossa cabeça. O que vai fazer a diferença aqui é a rapidez e facilidade com que você faz isso, como já comentei. Segundos fazem muita diferença nessa hora.

Um insight é um presente dos Deuses que não acontece o tempo todo. Quando ele aparecer, trate o momento com a importância e urgência que ele merece: capture-o imediatamente. É que nem no video-game, quando aparece um item importante tipo remedinho, dinheirinho ou vida extra… você pega na hora, não pega? Então, é exatamente isso que você tem que fazer.

Se o insight vai vingar ou não (geralmente não), não importa. Mas quando ela surge você sente que é algo com potencial e precisa guardar.

Pensa assim: quando aparece uma coisa legal, como você faz pra guardá-la? Escreve em algum lugar? Faz um copy/paste para algum lugar? Comenta em voz alta com alguém? Tira uma foto? Enfim, como você costuma fazer? Aí, se pergunte se o método é o melhor, conheça novos para saber e só depois você pensa em qual aplicativo usar. É o app que se molda à você e não o contrário.

Aplicativos para essa etapa:

  • Qualquer app de notas (Notion, OneNote, Evernote, Apple Notes, etc)
  • Drafts (se você tiver um Apple Watch, ele grava e transcreve sua voz. Fácil e rápido para capturar pensamentos a qualquer momento. Eu uso quando estou andando ou dirigindo. Dá pra falar por vários minutos, já fiz vários esqueletos de posts assim. Falo o que me vem a cabeça, como se estivesse explicando para um amigo e depois ajeito em forma de texto usando a transcrição)
  • Apple Watch Voice Memos (também funciona bem, interface mais simples, só não tem transcrição)
  • caderninho (não é um app, mas ainda é um dos meus instrumentos de captura e organização de ideias preferido. Tenha um sempre por perto)
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Quer tirar da cabeça? Fale com o seu relógio e ele guarda pra você

02. Organização

A segunda etapa é a da organização das coisas que você captura, que precisam ser facilmente localizadas, no momento em que você precisar. Essa etapa fica mais importante a medida que o volume de coisas vai aumentando. E os aplicativos aqui também vão dos mais simples até outros mais sofisticados com recursos como backlinkings, hashtags, indexação automática, busca por linguagem natural, etc.

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O MyMind

Aplicativos para essa etapa:

  • My Mind (usa um sistema de indexação automática, cria tags por conta própria para você resgatar mais tarde uma forma mais natural “aquele texto que tinha um menino andando de bicicleta com um cachorro do lado”. Você pede do seu jeito e ele se vira pra achar. Sem o trabalho de precisar criar as tags)
  • Roamsearch (para power-users. Usa backlinks e vai criando uma rede neural que pode ficar super elaborada, se for o seu estilo. Vira uma wikipédia própria, feita só com as suas coisas)
  • Gmail (customizado com etiquetas, filtros, etc. Muitas vezes, o melhor app é aquele que você já incorporou na sua rotina e usa sem precisar pensar)
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Roam Search vira wikipedia própria

03. Ativação

A terceira etapa é a da ativação dessas ideias todas. No seu cérebro biológico, a sua capacidade criativa funciona através de associações de referencias que estão armazenadas na sua memória. Quanto mais referencias e quanto mais habilidade para fazer essas associações, mais criativo você fica. No cérebro digital funciona exatamente da mesma maneira. Você vai juntando fragmentos para construir insights mais elaborados.

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As delícias de um bom mapa mental

Aplicativos para essa etapa:

  • Qualquer ferramenta de mindmapping (o MindMeister, por exemplo)
  • workflowy (um “outlinig app”, que costumo chamar de “árvore” porque funciona com infinitas ramificações. Um dos apps mais simples, incríveis e produtivos que já conheci e que uso não apenas para organizar, mas principalmente para pensar)
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Workflowy vai ramificando, ramificando, ramificando…

Conclusão

Essa é a estrutura básica de um segundo cérebro, que funciona em 3 etapas. Ele nasce como um simples repositório, mas à medida que você vai usando, ele cresce até virar um cérebro ativo, de fato. A estrutura das etapas costuma permanecer a mesma, você só vai elaborando cada vez mais, recheando e experimentando novas ferramentas até achar as que funcionam pra você. O desafio é sempre achar um ponto de equilíbrio entre “delegar” coisas para o seu segundo cérebro, mas de um jeito que elas não caiam no esquecimento.

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