Carnaval: o Brasil mais brasileiro

Este é o momento em que o Brasil será mais brasileiro do que nunca. Mais do que Natal, mais do que Dia das Mães, ainda mais do que a devoção pela Seleção Canarinho, mais do que as datas da Pátria, tão sujeitas, coitadas, às flutuações políticas e ideológicas.
Carnaval: o Brasil mais brasileiro Carnaval: o Brasil mais brasileiro

Este é o momento em que o Brasil será mais brasileiro do que nunca. Mais do que Natal, mais do que Dia das Mães, ainda mais do que a devoção pela Seleção Canarinho, mais do que as datas da Pátria, tão sujeitas, coitadas, às flutuações políticas e ideológicas.

Mais do que em qualquer outra época do ano, é agora, entre os dias 18 e 23 de fevereiro deste ano, que renascerá nossa identidade mais plena e mais autêntica.

É o momento em que muitos de nós usaremos essa “licença de virar outra pessoa” (Roberto DaMatta). Ou de sermos plenamente nós mesmos.

E DaMatta nos diz mais: ” No Carnaval, o canto substitui o sermão, o discurso e a admoestação própria dos genitores e dos caga-regra que reiteradamente elegemos para nos redimir”.  

Vocês devem se lembrar de uma canção e do quanto o Carnaval esconde e revela, ao mesmo tempo.

“Mas é Carnaval / Não me diga mais quem é você / Amanhã tudo volta ao normal”

Chico Buarque

Amanhã não é o dia seguinte, amanhã é o dia 23, a Quarta de Cinzas. É o dia em que o Vadinho de Dona Flor volta para casa, com o que sobrou dele, sugado, esfalfado, transformado nele mesmo mais uma vez e apaixonado por ela.

De 18 a 23, é o momento dos homens experimentarem serem mulheres, pobres se vestirem de luxo, algo que supostamente aliena o povo. Porém, é o momento de maior horizontalização social, étnica, cultural do ano. O momento em que explodem os desejos recônditos que nos patrulham e a aquarela de sonhos que povoam nossa alma, indistintamente.

É uma pena que a energia, a libido não só erótica sob a gestão do Rei Momo não se estenda por mais  tempo. 

Tom Jobim já nos alertou, mas nós não conseguimos nos corrigir ainda, e estender esse momento de plena explosão de nossos sonhos como brasileiros. Principalmente, aqueles que voltam para os balcões, chãos de fábrica, para as britadeiras, para os trens entupidos… 

“A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho, pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira”

O dia 18 de fevereiro de 2023 é quando renasce “uma igualdade pulverizada, mas benfazeja, cujo maior símbolo é esse confete que até hoje permeia nossas esperanças de transformação”. (Roberto DaMatta)

A gente se conhece desde o outro Carnaval, mas ele ficou tão distante, tão escondido pela poeira da pandemia, e pelos medos que sufocaram nossos desejos! Mesmo os retalhos de cetim, lantejoulas, plumas, bordados que usamos no Carnaval de mentirinha em abril de 2022 não foram capazes de curar a falta que nos fez a folia de fevereiro daquele ano.

Enfim, ele está aqui conosco, de novo, para sentirmos na pele essa maravilhosa epifania, que faz de nós mais brasileiro do que nunca.

Que olhem com inveja quem nos vê de fora, de outras latitudes. Bem vindos os que chegam de longe e partilham conosco esta ceia de transbordante alegria. E pobre dos que torcem o nariz!

Que este seja um Carnaval para renovar o compromisso com um novo futuro. Com sonhos adiados que não saiam da “avenida” na Quarta Feira e sejam o prenúncio de um Brasil cada vez mais brasileiro.

Um maravilhoso Carnaval a todos!    

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