O amanhã rapidinho vira ontem.
A frase do título desse post é inspirada pelo Millôr Fernandes – um dos meus escritores favoritos.
Ela consegue trazer uma ironia e uma urgência ao mesmo tempo.
Leia de novo:
“Bastam 48 horas para que o amanhã seja ontem”.
Vou começar da mais óbvia: a urgência.
O pensamento urge para que a gente se mantenha atualizado.
Palavra tão clichê hoje em dia, mas que basta dar uma rodada mais atenta por aí que você logo percebe o motivo dela ser clichê: é que tão pouca gente está se mantendo atualizado, que chega dá medo.
Por se manter atualizado não digo ficar acompanhando no Instagram os últimos memes, notícias absurdas, movimentos políticos, o sucesso da Barbie ou o Twitter que agora virou X e quer ser um “super App”.
Por atualizado eu quero dizer: quantas vezes você rodou um “update” em seu sistema operacional? Ou então: que atualizações você fez em seu APP mental?
Quando um APP se atualiza, não significa que ele baixou uma porção de conteúdos em seu pacote.
Um APP se atualiza quando ele apresenta novas funcionalidades, novas formas de processar informação, processos internos mais otimizados, interface mais amigável… isso é atualizar-se.
Baixar a enciclopédia de memes e notícias não te faz alguém atualizado.
Daqui a pouco será ontem.
Daqui a pouco sua forma de processar, de conectar informações, de perceber (ou deixar de perceber) as intenções das informações que são jorradas e chegam até você, ficará tão desatualizada que seu “app mental” se tornará obsoleto.
Daqueles que são tão antigos que não conseguem mais baixar novas versões e – apesar de ainda ser possível acompanhar todos os memes e notícias – será uma caixa lotada de informação, e carente de processamento.
E aqui está a ironia que eu percebo na frase: “Bastam 48 horas para que o amanhã seja ontem”.
A gente tá se achando tão avançado por conseguir ler, ver, curtir, comentar e compartilhar essa enxurrada toda de informações, que não estamos percebendo nossa obsolescência prática.
Na prática, estamos ficando para trás.
De tanto olhar para frente, não percebemos o rastro daquilo que está nos movendo.
Um movimento que finge nos manter à frente (numa enxurrada frenética de informações), pra que a gente não enxergue o quanto estamos ficando para trás.