IA: a previsão é um Einstein e um Da Vinci no seu bolso daqui 10 anos

Schmidt não está preocupado com robôs assassinos. O perigo real é a erosão lenta e invisível de valores humanos.
Imagem com texto sobre inteligência artificial sem retorno. Imagem com texto sobre inteligência artificial sem retorno.

Você está assistindo 3 Body Problem na Netflix? Eu estou.

E talvez, como eu, você tenha notado que aquilo tudo parece menos ficção científica e mais uma parábola sobre o agora — sobre a IA, sobre o fim das certezas, sobre o medo de algo que não entendemos totalmente, mas sabemos que está vindo. Porque no fundo, aquela história não é sobre alienígenas, é sobre nós.

Pôster de 'O Problema dos 3 Corpos', Netflix.

Há uma cena (calma, sem spoilers) em que dois lados da humanidade se dividem:

Um lado diz: “Isso vai acontecer. É inevitável. Junte-se a nós.”
O outro responde: “Você ficou maluco? Isso vai destruir a gente!”

Soa familiar?

Einstein e Da Vinci no seu bolso

Na quarta-feira, um grupo que inclui nomes como Geoffrey Hinton e Ilya Sutskever (OpenAI, DeepMind e Anthropic) publicou uma carta aberta. O alerta: talvez estejamos prestes a perder nossa única janela real para entender como IAs pensam — os chamados chains of thought, o “rascunho mental” que mostra o que se passa ali dentro.

Se isso desaparecer, será como conversar com alguém que te responde rápido, mas você não pode mais ver o raciocínio. A IA vira uma caixa-preta total. E como confiar em algo assim?

Em paralelo, Eric Schmidt — ex-CEO do Google — participou de uma longa entrevista com Peter Diamandis. Nela, Schmidt afirma:
Estamos a 10 anos da superinteligência digital.
E 2025 será o ano em que ela começará a construir sua própria lógica interna.
Imagine ter Einstein e Da Vinci no seu bolso — essa é a metáfora usada por ele.

Mas, curiosamente, Schmidt não está preocupado com robôs assassinos.
O perigo real é mais sutil. Ele chama de drift — a erosão lenta e invisível de valores humanos, à medida que confiamos demais na máquina para pensar por nós.

A Chegada do Agente

Enquanto você ainda tenta digerir esse cenário, algo grande aconteceu: a OpenAI lançou o Agent.

Um agente geral para tarefas baseadas em navegador.
O nome é simples. A proposta, poderosa.
Você digita o que quer — ele navega, preenche formulários, busca, clica, interpreta, responde, executa.
Não é uma ferramenta. É um executor.
Um estagiário com 1.000 abas abertas. Que não dorme. Que não erra cliques.

Isso é o início da mudança.

Até ontem, a IA escrevia textos. Fazia resumos. Gerava imagens.
Hoje, ela age. E você nem sempre verá o que ela faz entre o comando e a resposta final.

De novo: estamos perdendo a janela para ver o processo.
E quem está construindo essas ferramentas, está com medo disso.

Lovable: US$ 200 milhões para ensinar máquinas a criarem apps

Enquanto o Agent ganha os holofotes, outro movimento gigante passa quase despercebido.

A startup Lovable acaba de levantar US$ 200 milhões para construir uma plataforma de criação de apps… usando IA.

Isso significa que programar está deixando de ser uma barreira.
Qualquer um poderá dizer:
“Quero um app que ajude meus clientes a agendar consultas.”
E pronto: a IA cria. Backend, frontend, UX, testes, tudo.

Se programar era o último superpoder humano exclusivo, está prestes a deixar de ser.
O que restará?
Ideias. Propósito. Estética. Curadoria.
(É melhor você começar a praticar essas habilidades.)


Perplexity + Airtel = 360 milhões de usuários com acesso Pro

Agora imagine uma IA poderosa.
Agora imagine essa IA nas mãos de 360 milhões de pessoas na Índia.

Foi isso que aconteceu: a Perplexity, plataforma de busca baseada em IA, firmou uma parceria com a Airtel — uma das maiores operadoras do país.
O plano: distribuir acesso à versão Pro da IA para toda essa base.

A lógica é simples:
Enquanto o Ocidente ainda decide o que é ético, o que deve ser pago, e quem regula o quê…
Outros países estão colocando as ferramentas direto na mão das pessoas.

Quem aprende mais rápido, ganha o jogo.
E IA não é só sobre software.
É sobre a curva de aprendizado das sociedades.
Se um país aprende mais rápido a usar IA, ele salta décadas.


Decart e o “modelo de transformação mundial”

Por fim, temos a Decart.

Uma startup menor, com uma ambição imensa:
Lançaram o primeiro world transformation model do planeta.

O nome parece vago, mas é exatamente isso:
Um modelo treinado não para responder, mas para agir sobre o mundo real.
Ele não só entende. Ele transforma.

Isso abre espaço para aplicações em logística, energia, políticas públicas, planejamento urbano, saúde pública, clima.
O que antes dependia de milhares de planilhas, decisões políticas e análises humanas…
…agora pode ser feito com prompts.

O que era planejamento, vira simulação.
O que era tentativa e erro, vira modelagem preditiva.
O que era humano, vira híbrido.

Estamos no meio do vórtice

Volte àquela cena da série.
Dois lados discutem se devem abraçar ou resistir ao que está vindo.
Mas o problema real não é a chegada da IA.

O problema é nosso silêncio enquanto ela muda tudo.

Não vai haver um momento dramático, com música de suspense e uma explosão.
Vai ser como o drift que Eric Schmidt descreveu.
Pouco a pouco, um botão a menos para clicar.
Uma decisão a menos para tomar.
Uma ideia que você não desenvolve, porque uma IA já te deu pronta.

Você não vai notar a perda de agência no momento em que ela acontece.
Mas vai perceber lá na frente, quando já for difícil recuperá-la.

O futuro já chegou

O Agent da OpenAI é apenas o começo.

A Lovable está ensinando máquinas a programar.
A Perplexity está educando um continente.
A Decart está modelando o mundo.
Enquanto isso, nossos valores, decisões e autonomia estão sendo negociados — não nas manchetes, mas nas entrelinhas, nos cliques invisíveis, nas APIs silenciosas.

A questão não é se a IA vai chegar.
Ela já chegou.

A pergunta real é:
Você ainda está no controle?

Ou está apenas clicando em “Aceitar todos os cookies” para o futuro inteiro?

No fim, tudo é uma escolha

Você pode assistir 3 Body Problem como entretenimento.
Ou como um aviso.

Você pode ver a IA como ferramenta.
Ou como destino.

Você pode seguir terceirizando tudo.
Ou pode usar a IA para voltar a ser protagonista do seu pensamento.

Eric Schmidt disse que teremos um Einstein e Da Vinci no bolso.
A questão é:
Você ainda vai lembrar como pensar por conta própria quando eles estiverem ali?

Ou vai deixar que pensem por você, até esquecer como era o mundo antes?

A resposta, como sempre, não está no modelo.
Está em você.