O Que a união entre Paramount e Warner Bros. revela sobre o futuro da publicidade

Fusão entre Paramount e Warner Bros. pode criar a sexta maior vendedora de publicidade do mundo e desafiar o domínio das big techs no mercado de mídia. Entenda os impactos e oportunidades dessa megatransação.
Logos da Warner Bros e Paramount Plus Logos da Warner Bros e Paramount Plus

A possível aquisição da Warner Bros. Discovery pela Skydance, controladora da Paramount, pode mudar o jogo na indústria de mídia e publicidade global. Em um cenário de fragmentação de audiência, pressão por rentabilidade e competição feroz com as big techs, a consolidação dessas gigantes representa muito mais do que um movimento financeiro: é um sinal claro de reposicionamento estratégico diante de um mercado em transformação profunda.

Dois personagens em cenário pós-apocalíptico destruído.

O Cenário da Transação: Números que Falam Alto

A negociação gira em torno de cifras bilionárias:

  • Avaliação de mercado da WBD: US$ 39,8 bilhões
  • Avaliação da Paramount: US$ 17,9 bilhões
  • Aquisição da Paramount pela Skydance: US$ 8,4 bilhões
  • Receita publicitária combinada (global): US$ 17 bilhões
  • Receita publicitária combinada (EUA): US$ 13 bilhões

Esses números não apenas impressionam: colocam a nova empresa como a sexta maior vendedora de publicidade do mundo, atrás apenas de potências como Google, Meta, Amazon, TikTok e Microsoft.

Por Que Essa Fusão É Tão Relevante?

1. Escala e Alcance Sem Precedentes

A união traz sinergias comerciais e operacionais, centralizando sob uma mesma estrutura marcas como:

  • DC Comics, CNN, CBS News, HBO, HBO Max, Paramount+
  • Franquias como The Last of Us, Game of Thrones, Top Gun, Missão Impossível

Essa concentração permite uma oferta de mídia e conteúdo sem paralelos, unificando entretenimento, jornalismo e plataformas de streaming em múltiplos formatos e canais.

2. Superando a Crise da Televisão Tradicional

Mesmo com a força nos números, o mercado televisivo vive uma crise:

  • Queda de audiência linear
  • Migração constante dos anunciantes para plataformas digitais
  • Fragmentação de consumo entre plataformas e devices

Segundo Brian Wieser, analista financeiro e ex-convidado do Mídia Máster do Meio & Mensagem, o poder de fogo dessa nova gigante pode não resolver o declínio da TV por si só, mas permitirá que o grupo busque alternativas com mais fôlego:

“Grupos de redes de TV podem encontrar caminhos futuros para o crescimento, evoluir e se tornar mais como plataformas”, afirma Wieser.

Uma Resposta às Big Techs?

Mesmo com US$ 17 bilhões em receita publicitária, a nova empresa ainda fica atrás das big techs em termos de dados, targeting e performance. Porém, a fusão é um passo na direção certa para enfrentar:

  • Google e YouTube (segmentação ultraeficiente e volume de inventário)
  • Meta (escala e integração crossplatform com Instagram, Facebook e WhatsApp)
  • Amazon e Apple (investimentos pesados em conteúdo e tecnologia)
  • TikTok (formato nativo mobile-first e algoritmo potente)

A entrada agressiva de Apple TV+, Prime Video e até o TikTok nos jogos de direitos esportivos, cinema e publicidade cria um novo campo de batalha onde apenas tamanho e tradição não bastam — é preciso visão estratégica.

Efeitos no Mercado Publicitário

Se concretizado, o negócio terá repercussões diretas:

📈 Valorização das ações

As primeiras notícias fizeram as ações da WBD subirem 30% e da Paramount, 15%, refletindo a aposta do mercado na sinergia do negócio.

📊 Concentração de inventário

Nos EUA, a nova empresa controlaria 35% da receita publicitária do setor televisivo no último trimestre — uma concentração que pode impactar negociação de mídia e valores de CPM.

🛠 Reorganização interna

Há grande espaço para corte de redundâncias, fusão de departamentos e revisão de contratos, além de ganho de escala na compra de tecnologia, talentos e distribuição.

Desafios Pela Frente

Mesmo com o patrocínio da bilionária família Ellison (Oracle), alguns desafios persistem:

  • Aprovação regulatória: mesmo no cenário político atual, fusões desse porte sempre chamam atenção de órgãos antitruste.
  • Integração cultural: unificar culturas tão distintas como HBO, CNN, CBS e Paramount exigirá gestão e visão de longo prazo.
  • Transformação real em plataforma: escalar dados, segmentação e tecnologia para competir com os algoritmos de Google e Meta ainda é uma lacuna relevante.

A Nova Guerra do Streaming Está Apenas Começando

A união entre Paramount e Warner Bros. pode não parecer, à primeira vista, tão disruptiva quanto o lançamento do ChatGPT ou a ascensão meteórica do TikTok. Mas é um marco simbólico: mostra que os gigantes tradicionais de mídia estão se mexendo.

Se conseguirem sair da lógica de mídia linear e migrar com eficiência para um modelo de plataforma — que entrega audiência com inteligência, dados e mensuração — essa nova empresa pode se tornar um oásis no deserto da publicidade tradicional. Caso contrário, será apenas mais um gigante tentando remar contra a maré do digital.

O jogo não acabou — ele só ficou maior.