Existe algo profundamente curioso sobre como a Gen Z se relaciona. O match, que para as gerações anteriores até era sinônimo de frio na barriga, hoje virou assinatura de autoestima. Entrar em aplicativos como Bumble/Tinder ou soltar foguinhos por aí já meio sonolento para massagear o ego antes de escovar os dentes virou rotina.
53% dos usuários de apps de relacionamento só só estão ali pelo entretenimento, sem nenhuma intenção real de conhecer alguém. É sobre inflar o ego e, se você está solteiro, tá tudo bem se identificar com isso.
Agora, quando o encontro finalmente acontece, 56% da Gen Z admite que está só tentando economizar, leia-se: comer na faixa, a.k.a. “foodie call” . O date não precisa ser interessante, ele precisa ser útil.
Reclamamos da dificuldade de encontrar mas normatizamos ficar só nos computer. Match virou jogo, ghost virou regra e rejeitar perfis em fila indiana é quase um comportamento automatizado. A Sage Journals chama isso de mindset da rejeição: quanto mais opções aparecem na tela, menos qualquer uma delas parece valer a pena, é o tipo de coisa já bem comum nos streamings, mas agora é sobre o seu ego(-scrolling).
O delicado é que existe uma pressão silenciosa: se alguém não responde, não bate no outro perda de tempo, é quase uma ameaça à própria imagem. Entretanto, se responde, pode não significar nada, talvez seja só o outro faminto de atenção. Por isso conversas se arrastam sem sair do lugar, encontros se adiam sem motivo real, ninguém quer se mostrar vulnerável demais, indisponível demais, interessado demais.

A economia dos encontros mudou, se há custo financeiro, o interesse diminui, se há custo emocional, é praticamente inviável. Será que é trabalhoso demais e a nova geração já entra cansada e/ou traumatizada? É mais seguro manter tudo no virtual, onde a ilusão funciona, onde o nosso ponto de vista tá sempre correto, onde em teoria tem sempre alguém admirando sua foto – além de você mesmo.
As notificações emocionais se acumulam, vamos somando matches que nunca acontecerão, convites que nunca sairão das figurinhas e flertes que não duram mais que o próprio print. Acho que a Gen Z não está desistindo de amar, na verdade, só está optando por amar, unicamente e exclusivamente, a si mesma. Ou na verdade a busca não é por alguém para dividir a vida, é só pra meiar o delivery.
