A Geração Z, definição sociológica para as pessoas nascidas, em média, entre meados dos anos 1990 e o início dos anos 2010, cresceu totalmente desprendida de rótulos, sejam eles para o que for. E isso chega também ao universo musical. A faixa etária está derrubando os limites tradicionais de gêneros de música, adotando sons fluídos e mais difíceis de serem colocados em determinada categoria. E isso vale tanto para o público dessa geração quanto para os próprios artistas.
A novidade não surgiu com a Geração Z – o pessoal que nasceu antes, os millennials, também saltou entre os gêneros, mas suas músicas favoritas permaneceram comercialmente dominantes, pertencendo a categorias tradicionais, mesmo quando mudam de um estilo para o outro. Taylor Swift é um exemplo, que nasceu country e mudou para o pop. Foi um salto entre dois gêneros há muito tempo estabelecidos e claramente definidos. Ou seja, não era nada de transgressor, e sempre foi fácil definir a qual gênero ela pertencia, ainda que ele mudasse de um álbum para o outro.
O motivo que levou a Geração Z a abandonar esses conceitos de gênero está diretamente relacionado com a ascensão das plataformas de streaming como principais meios para encontrar artistas e reproduzir suas produções. No Spotify, por exemplo, podemos escolher nossas músicas favoritas para adicionar às playlists passeando por diversos álbuns, dos mais variados gêneros, e criando listas de reprodução bastante diversas. Os gostos, então, se tornam cada vez mais variados, o que afeta também a forma de fazer música. Se as pessoas ouvem constantemente gêneros variados, a tendência é que cada vez mais sejam feitas músicas de gêneros variados.
Ainda sobre o Spotify, embora ele possibilite buscas por gênero, também se popularizou com as playlists definidas por humor, que vão desde “concentração perfeita”, “malhação animada” e “divas pops para cantar no carro” até “músicas para curar um coração partido” e “happy hour na sexta-feira”. Todas elas trazem combinações de gêneros variados e, assim, fazem com que o público conheça artistas que provavelmente não encontraria por conta própria.
As redes sociais também ajudam artistas mais “alternativos” a ganharem o mainstream.
Em uma recente entrevista para a Harper’s Bazaar, por exemplo, Billie Eilish disse ser grata às mídias sociais porque, segundo ela, não seria nada sem essas plataformas. A artista usa seu perfil nessas páginas para interagir com fãs, lançar vídeos de música e divulgar turnês. É todo um novo jeito de enxergar a produção musical, que não depende mais de contatos da indústria. É claro que ainda é importante contar com uma gravadora de prestígio, mas aumentar a base de fãs tendo “apenas” talento e um perfil nas redes sociais já é algo bem possível. O fato dos músicos hoje serem mais “desprendidos” dos executivos do setor também é uma das razões pelas quais não é mais tão fundamental se ater aos gêneros prescritos.
Encontramos quem compartilhe dos mesmos gostos e pontos de vista – por mais específicos e aleatórios que eles sejam.
O que é, de certo modo, reconfortante pode ser também perturbador por deixar uma certa sensação de que, no fundo, ninguém é tão diferente assim. Por isso criar seu próprio espaço, tanto como artista musical quanto como figura nas redes sociais é uma maneira de desenvolver uma identidade única. Algo que é tão importante para essa geração.
Por fim, isso é bom também para artistas fora do cenário norte-americano ou para aqueles que não cantam na língua inglesa em geral. Os ouvintes da geração Z têm listas de reprodução globalizadas e aceitam bem sons vindos de vários países diferentes. Eles se sentem à vontade para montar essas playlists híbridas e não se apegam a esse tipo de coisa – origem do artista, idioma que ele canta, gênero musical e por aí vai. É claro que o gêneros continuarão a existir, mas para esses consumidores as “caixinhas” não fazem sentido.
E… por que tudo isso?
Ainda tentamos colocar as (várias) coisas dentro das caixas, mas essas caixas são um pouco mais diversas do que estamos acostumados.