O diálogo acima é real, embora surreal. Aconteceu com esta pessoa que vos escreve (tenho até anotado o protocolo). Sabe a sensação de que até a Siri, do iPhone, te entende melhor que a Judite o atendente do “call center”?
Lidar com pessoas não é fácil; sim, eu concordo. Quando elas estão com um problema que você (e, ao que parece, só você) pode resolver, humm, é uma grande responsabilidade. Junte o crescimento exponencial do consumo trazendo novos clientes ávidos por produtos e serviços, e temos a fórmula perfeita para um apagão do pós-venda.
Uma questão interessante ao tentar falar com um serviço de atendimento ao cliente. Antes do “bom dia” vem o “Poderia anotar o número do protocolo, senhor?”. E fico me perguntando, para quê, se a cada novo contato é gerado um novo número de protocolo? Um mesmo problema pode ter dezenas de protocolos.
O importante é o que interessa
A organização e formatação de processos se faz fundamental neste cenário e, com isso, a aplicação de alguns princípios básicos de gestão de pós-venda: identificação, registro, processos de escalação e acompanhamento. Resolver o problema é mais importante que protocolar o atendimento.
Durante 7 anos estive envolvido em um produto online que possuía um forte foco no relacionamento com o cliente. Costumava dizer à equipe que 50% da experiência do cliente era com o produto em si e 50% no trato com a área de atendimento. Um não sobrevive sem o outro.
Talvez as nomenclaturas utilizadas para estas áreas, mesmo eufemísticas, colaboram com a subvalorização de sua relevância na vida do consumidor. “Suporte ao cliente”, “Atendimento ao consumidor”, “Setor de Relacionamento”…. talvez a percepção mudaria se deixassem de classificar como ‘pós-vendas’ e passassem a chamar de ‘mais vendas’. Nesta lógica, entram consagradas frases daquele seu livro de marketing, como: “Custa 5 vezes mais caro conseguir um novo cliente que manter um atual”, ou, “Manter um cliente é mais importante que conseguir um novo”.
Neste momento, porém, é que na prática a teoria é outra. Quão claro está que a área de atendimento a clientes é uma área geradora de receitas? E não apenas quando tenta fazer cross-selling ou up-selling (como quando liguei para perguntar como andava meu financiamento imobiliário e a atendente tentou me empurrar um outro cartão de crédito).
Repensando o pós-vendas
Apesar de, em muitos casos, ser vista como uma operação de suporte, de apoio, por que não criar uma maneira de mensurar o índice de retenção de um cliente em função da satisfação com o atendimento? – importante mencionar que “retenção”, aqui, não significa reverter uma solicitação de cancelamento, mas sim manter o cliente satisfeito no contato com a empresa.
É uma questão lógica: um bom atendimento ao cliente gera retenção; retenção aumenta o LTV (life time value); maior LTV está explicitamente ligado ao aumento de receita, ou melhor, à manutenção de uma receita “x”, de maneira que ações de aquisição possam ser feitas para trazer novos clientes e, com isso, aumentar o resultado total da empresa.
Do contrário a conquista de novos clientes passará apenas a compensar a perda dos outros. Sabendo que é mais difícil um cliente insatisfeito retomar o relacionamento com uma empresa, chegará o momento em que o pobre consumidor passa a ter que se contentar com o “menos pior”, como acontece com os serviços de telefonia móvel e TV por assinatura no Brasil.
Como neste gráfico da Peer Analytics, o objetivo da área de ‘atendimento ao cliente’ é deslocar o pico para a direita, sempre.
Quer ter um serviço de atendimento ao cliente de qualidade? Coloque o CEO e diretores das áreas de produto e comunicação para atenderem os telefones e responderem aos emails de vez em quando. Irão descobrir que não somente seu produto/serviço não é tão fantástico e amigável assim, mas que nada adianta dizer que “TV é isso” ou de quem é o mundo. E nem precisa de protocolo pra isso.
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“Manter um cliente é mais importante que conseguir um novo”.
Como eu gostaria que a operadora de TV a cabo e internet de casa soubesse disso. Tenho há 5 anos um pacote com internet de 35Mb em casa e vários canais de TV. Dias atrás, liguei para pedir o aumento da velocidade de internet para 60MB – mantendo a TV como está. Pois bem… a internet ficaria mais cara, claro… e a TV também! Mesmo mantendo os mesmos canais!
Tentei por A mais B explicar ao atendente que isso não faz sentido, pois a TV seria exatamente a mesma que eu tenho há 5 anos – e que a cada ano sobe de acordo com a inflação. Não teve jeito, a repsosta foi uma só: é o sistema:
Pois bem, “o sistema” perdeu um cliente para a concorrência…
Fala JC, excelente artigo, o melhor que vi sobre esse drama que é o atendimento ao cliente no nosso país, Realmente a realidade das áreas de atendimento ao cliente é terrível, o que nos leva a pensar porque isso ocorre, falta de regulamentação? Um mercado pouco competitivo? Uma nivelação desse serviço por baixo? A verdade é que temos pouquíssimos casos de sucesso que podemos mencionar aqui quando falamos de atendimento. Vou compartilhar aqui uma experiencia que tive diretamente ligada a essa área que me fez questionar ainda mais o tamanho desse problema… No começa de 2014 junto com um grande amigo criamos o App de Atendimento chamado Me Atende, para quem quiser saber um pouco mais sobre o que era esse app segue um vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ShBZpz7mX1c, o Me Atende era um projeto super inovador que integrava App, Telefonia e Sistemas para fazer com que os cliente não precisassem mais ficar nas filas de espera e também não perdessem tempo navegando em URAS, enfim, conseguimos investimento, construímos a solução, ganhamos milhares de usuários, 3 prêmios relacionados a inovação e utilidade publica, mas adivinha quantas empresas se interessaram pelo produto? Quantas das maiores empresas do Brasil se interessaram em melhorar o serviço prestado para os seus consumidores? Ou melhor, quantas reconheceram que fazem o seu cliente esperar um tempo absurdo em filas e tentaram corrigir essa falha? O número é zero, podemos passar horas aqui falando de modelo de negócios, precificação, etc, mas o que ocorre é que nesse momento inicial, o que nos interessava era fazer a experiência do App valer a pena, portando não estávamos preocupado com ganho financeiro e o pior, algumas empresas que colocamos no App nos processaram e pediram para que fossem retiradas do aplicativo. Enfim, acredito que quase todos os leitores do blog tenham um drama sobre atendimento para nos contar, mas não sei explicar porque somos tão mal atendimentos pelas centrais de atendimento.
Oi Anderson, obrigado pelo comment…
Não creio que regulamentação seja a saída para nada (porque no Brasil o que temos, na verdade, é regulação e taxas, não preocupação com nível de serviço), mas sim o aumento da concorrência para que os bem sucedidos esmaguem os relapsos. Empresas como o Nubank e Zappos, por exemplo, tem revolucionado o atendimento ao cliente tanto quanto o mercado primário onde atuam. E isso tem feito a diferença nos negócios e puxado a barra pra cima.
Outro ponto que observei ao longo desses anos é que temos um problema muito maior de formação e motivação do que ferramentas.
Pessoas > Processos > Ferramentas, nessa ordem. Se tivéssemos que priorizar: Boas ferramentas sem boas pessoas não funcionam; boas pessoas sem boas ferramentas funcionam :)
abs
Perfeito