O ex-presidente dos Estados Unidos, Calvin Coolidge, dizia que nada no mundo se compara à persistência. Segundo ele, nem o talento. “Não há nada mais comum do que homens malsucedidos e com talento”, declara. Coolidge ainda vai mais longe, “nem a genialidade; a existência de gênios não recompensados é quase um provérbio. Nem a educação; o mundo está cheio de negligenciados educados”. Para ele a persistência e a determinação são, por si sós, onipotentes. “O slogan ‘não desista’ já salvou e sempre salvará os problemas da raça humana”, defende.
Depois de conhecer Kevin Ashton e conhecer o seu trabalho, acabei por acreditar nisso também. Há anos, me interesso pelo tema criatividade, mas sempre estive dominado pela ideia de que gênios criativos eram seres iluminados, que nasciam sob o alinhamento perfeito de astros do universo. Não dava para acreditar que qualquer pessoa poderia desenvolver suas capacidades criativas, isso seria blasfêmia! O mundo da criação sempre foi protegido como sagrado, proibido para mortais comuns. Isso me lembra “O Nome da Rosa”, obra de Umberto Eco. Toda a sabedoria escondida numa alta torre, longe dos olhos curiosos de quem busca a sabedoria. Milhares de livros ocultos, atrás de portas trancadas e paredes de pedra maciça, acessíveis apenas aos poucos “privilegiados”, donos do poder. Será que a criatividade é santa ou o acesso a ela que é maldito?
A raiz da inovação é exatamente a mesma de quando nossa espécie nasceu: olhar para alguma coisa e pensar “posso melhorar isso”. Essas são palavras de Ashton. O cara defende o sentimento que faz parte da essência humana, o espírito que nos tirou das cavernas e nos deu arranha-céus e jatos supersônicos, vacinas contra doenças mortais e computadores capazes de fazer cálculos impensáveis, etc. Claro que esse mesmo espírito nos trouxe guerras, mas esses tropeços sempre fizeram parte da natureza da natureza, e não somos alienígenas, somos filhos dela, apenas temos, a despeito do resto de sua criação, o privilégio de saber disso.
A consciência da realidade, e a percepção de nossa existência nos aprisiona ao sentimento de finitude. Sabemos que o tempo existe e que a nossa porção é mínima, daí a pressa de fazer algo que justifique a nossa passagem pela vida. Mas, por que são poucos os que entendem isso e se projetam para dentro de suas próprias histórias? Talvez porque a história tenha vendido a máxima de que o ato criador é divino. Ainda hoje acredita-se que apenas “artistas” são capazes de criar coisas extraordinárias. As pessoas comuns aceitam seu destino de ser apenas apreciadores da criação alheia, feita por seres escolhidos. Todos os gênios da humanidade se destacaram por sua persistência. Absolutamente, todos!
De Picasso a Bill Gates, de Einstein a Mozart, de Thomas Edson a Steve Jobs, dos irmãos Wright ao próprio Santos Dumont, todos falharam vergonhosamente. E essa é a melhor parte de suas histórias. Cada erro define o caminho que não deverá ser seguido. “Criatividade é se permitir cometer erros; arte é saber quais deles aproveitar”, declarou Scott Adams. Acredito que o erro é o maior benefício que a natureza nos deu. O grande presente divino. Sem erros não há base para uma criação perfeita, algo que se beneficiei de um passado cheio de pedras pontudas, mas que, juntas e unidas com o cimento da persistência, sustentem ideias fortes o bastante para mudar o mundo. Esse é o segredo!