Que as histórias em quadrinhos não são novidade – e nem coisa do século passado, por exemplo, e sim de muito antes – isso nós já sabemos. Mas o estudioso e linguista Soren Wichmann, da Universidade de Leiden, Holanda, tem uma teoria que credita a criação do estilo literário aos povos maias.
Wichmann, inicialmente, publicou seus pareceres em um artigo acadêmico: “Os Primeiros Quadrinhos da América”. A teoria evoluiu e se tornou um capítulo inteiro de um livro, o “The Visual Narrative Reader”.
O teórico volta no tempo para explicar a origem de tudo isso. Os vasos maias, por exemplo: eram decorados com textos e desenhos que contam uma história ao redor do item – como se ele tivesse sido “envelopado” por um quadrinho, com direito a recursos gráficos que conferem movimento e ação para os personagens. Datados de 600 a 900 d.C., os objetos eram “a forma de arte mais elevada que se conhecia”, segundo Wichmann, que afirmou ainda se tratar de uma forma altamente valorizada de narrar histórias. E é fato: no período, esses utensílios eram usados como moeda de troca em situações como formações de alianças entre territórios ou ainda negociações políticas.
A essa altura, você provavelmente está pensando que os homens das cavernas, lá na Pré História, também faziam isso. Mas o especialista pontua a diferença: a questão é que a arte dos maias se assemelha muito aos desenhos modernos, uma vez que traz texto, movimento, sensação e humor.
Isso sem mencionar as metáforas.
Na época, eles já usavam o fogo como forma de representar a raiva, por exemplo, mostrando como concebemos tais ideias abstratas desde muito tempo atrás.
Em relação às diferenças entre o trabalho dos maias e os mais contemporâneos está o conhecimento da história por parte dos “leitores”.
As obras maias parecem apontar cenas de histórias já conhecidas, como se fossem fábulas, contos, tramas com as quais a sociedade já estava familiarizada. Como no Egito Antigo.
É claro que cada arte tem suas próprias convenções – isso é facilmente compreendido quando levamos em conta os contextos históricos, sociais, comportamentos entre outros fatores – mas as semelhanças são muitas e a conclusão da pesquisa é que os maias provavelmente são mesmo os responsáveis por essa forma de narrativa, presente até os dias atuais.