Acabei de ler o “Undoctored”, do médico cardiologista William Davis. A premissa é ousada: você pode assumir comando da sua saúde, SEM um médico.
O subtítulo do livro resume: “Porque o sistema de saúde falha com você e como você pode ficar mais esperto que o seu médico”
Segundo o autor, com informação e nutrição as pessoas já podem e devem cuidar delas mesmas. E exceto em situações em que obviamente um médico é realmente necessário (como em fraturas, cirurgias, emergências), o próprio paciente pode estar mais informado do que seu médico porque esses profissionais viraram simplesmente um instrumento de renda e lucratividade de um grande negócio comandado por hospitais particulares e pela indústria farmacêutica. Simples agentes emissores de pedidos de medicamentos, exames e procedimentos. E são muito bem remunerados para isso.
Uau. Ousado. Provavelmente, exagerado. Mas ele tem um ponto.
Se você pensar bem, realmente a maioria das consultas hoje em dia são bem protocolares e muito pouco investigativas do ponto clínico. Você entra, reporta, o médico pede exames e depois, passa um remédio. Tudo meio automatizado. Claro, essa é uma sequência perfeitamente normal e esperada de um médico, porém esteja mesmo na hora de não ser. Ou, pelo menos, não precisar ser sempre assim. E com os pacientes buscando cada vez mais informações online, as consultas tendem a ficar com outra dinâmica.
Por exemplo: situações clínicas clássicas como pressão alta, diabetes, sobrepeso, colesterol… tudo isso tem passado por centenas de revisões nos últimos anos. Os parâmetros mudam a todo momento e muita gente desconfia que o real motivo é incluir mais pessoas no grupo que precisa consumir determinado tipo de medicamento.
Enfim, você conhece esse papo. A coisa é meio conspiratória, mas por outro lado, também tem muito de verdade.
Quem nunca deu aquela googada depois de receber algum diagnóstico? Aliás, todo mundo fala “não fuça no Google senão você vai pirar” porque realmente é um tipo de pesquisa perigoso porque é feita em universo gigantesco, com todo tipo de caso e de contexto (e fotos!) capazes de colocar qualquer pessoa em pânico, por qualquer motivo.
Por outro lado, os pacientes mais “dedicados”, acabam refinando a cada dia suas fontes de informação e depois de um tempo conseguem criar um hub extremamente interessante e confiável. E, muitas vezes ( e este é o ponto do livro), com mais informação do que o seu médico.
Para encerrar, acho que cabe aqui algumas considerações: o livro retrata a situação nos Estados Unidos. Por aqui obviamente o contexto é outro, com a maioria da população sem sequer poder contar com um sistema de saúde minimamente funcional. E talvez, por isso mesmo, o livro possa fazer ainda mais sentido. Outra questão é a dificuldade de atualização dos médicos, algo que sempre fez parte da profissão mas que tem se tornado uma missão cada vez mais difícil por conta do volume de informação. Acho que o médico não é necessariamente esse sujeito totalmente vendido para indústria, mas talvez ele mesmo não tenha noção disso. E talvez ele esteja atrasado. Ou resistindo à mudanças.
Enfim, a questão é delicada mas extremamente interessante. E certamente a nssa relação com saúde é mais uma área que deve mudar bastante nos próximos anos. Vale pensar à respeito. E ir praticando.
Também vale à pena assistir alguns videos do Dr. William Davis no Youtube para explorar melhor a questão. Ele também é autor de “Wheat Belly” (barriga de trigo), um dos primeiros e mais famosos livros sobre o glúten.
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Hummmm, gostei muito do tema e do texto – exceto (sempre tem um porém) da parte que nosso sistema de saúde é precário. Sei que é clichê falar sobre o síndrome do vira-lata e mesmo sabendo ser uma opinião pessoal. Ficaria feliz que você possa ouvir relatos de pessoas atendidas lá fora e não espero que algum dia precise experimentar um atendimento por lá, e depois, receber a conta em casa. Enfim, vamos trocar ideias, grande abraço, Wagner!
Oi Bruno! Sim, é difícil generalizar, ainda mais em um país com tantas diferenças. Sem dúvida temos uma precariedade enorme, mas também temos exemplos de padrão de primeira linha. Mas acho que o interessante é usar essa premissa como um ponto de partida para uma reflexão sobre o assunto, principalmente nessa “autonomia crescente” dos pacientes. Abração!