Com uma narrativa simples, Detetive Pikachu foca em público mais amplo

Com uma narrativa simples, Detetive Pikachu foca em público mais amplo Com uma narrativa simples, Detetive Pikachu foca em público mais amplo

A espera por um longa metragem em live-action foi extensa, mas finalmente ela chegou ao fim: Detetive Pikachu estreou nos cinemas brasileiros no último dia 09 de Maio e já detém recordes históricos. Apesar de ficar em 2º nas bilheterias dos EUA em seu fim de semana de estreia (atrás de Vingadores: Ultimato por aproximadamente 5 milhões de dólares), o filme superou a bilheteria do blockbuster da Marvel mundialmente no mesmo período e tornou-se a maior estreia da história nas adaptações de games para os cinemas: U$ 170,4 milhões ao redor do mundo, superando o atual recordista Tomb Raider, de 2001.
Detetive Pikachu é fruto de uma parceria entre a Legendary Pictures, a Warner Bros. Pictures e The Pokémon Company e tem como base de seu enredo o jogo homônimo lançado em 2016 para o console Nintendo 3DS.

Com uma narrativa simples, Detetive Pikachu foca em público mais amplo
Cartaz oficial do filme Detetive Pikachu.

O sucesso inicial do filme já era previsível: a comunidade de fãs de pokémon ao redor do globo é gigantesca, e atualmente garante a franquia o título de mais rentável de todos os tempos. Desde 1996 (ano de estreia dos primeiros jogos pokémon para Game Boy), a receita total que gira em torno dos monstrinhos é de aproximadamente U$ 90 bilhões. Para se ter ideia, Star Wars possui U$ 65 bilhões de receita gerada desde 1977. Dessa marca impressionante, U$ 61,1 bilhões vem do licenciamento da marca, 17,13 bilhões da venda de vídeo games e 10,25 bilhões dos jogos de card, somente para listar as três principais fontes de receita, segundo a Wikiwand.
Recentemente, o fenômeno de pokémon voltou com tudo graças ao jogo de realidade aumentado Pokémon Go de 2016. O jogo virou uma febre em vários países e, apesar de grande parte de seus jogadores terem abandonado o game, ele ainda foi o quarto mobile game mais lucrativo no mês de Março de 2019, chegando a ser baixado 850 mil vezes. Desde então, parece que o fenômeno chegou para ficar: houve uma festa temática do filme durante o festival de música Coachella 2019, roupas inspiradas no pokémon Jigglypuff apareceram durante a Fashion Week de Milão, a Adidas divulgou uma nova linha de tênis inspiradas nos monstrinhos e o Google disponibilizou por meio de seu sistema Playmoji quatro personagens do filme Detetive Pikachu para utilização de usuários da linha de celular Pixel. Além disso, vários artistas tem mostrado que acompanham a franquia de alguma forma, como por exemplo a nova tatuagem de Ariana Grande de seu pokémon favorito: Eevee; a atriz Rachel Brosnahan (Maravilhosa Sra. Maisel) com sua revelação de estar no nível 37 de Pokémon Go, ou Tan France (da série Queer Eye) sendo fotografado a algumas semanas atrás usando botas do Pikachu. Parece que os anos 90 voltaram para o universo de pokémon, e com força total.

Com uma narrativa simples, Detetive Pikachu foca em público mais amplo
Novos tênis Adidas inspirados na franquia de pokémon foram lançados esse ano.

Crítica com spoilers
Aclamada como uma das melhores adaptações de games para o cinema, Detetive Pikachu  conta a história de Tim (Justice Smith), um jovem que perdeu a mãe muito cedo e vê seu Pai (que mais tarde revela ser o próprio Ryan Reynolds, dublador do Pikachu no decorrer do longa) tornando-se um workaholic trabalhando na polícia da cidade Ryme City como meio de tentar superar esse trágico evento. Essa dinâmica e discussão família é um dos pontos que funciona no filme: não pela qualidade do diálogo em si, mas pela ideia em trazer uma história cujo plano de fundo é o universo de pokémon. O diretor Rob Letterman (O Espanta Tubarões e Goosebumps) em alguns momentos até chega a explicar alguns aspectos relacionados aos monstrinhos e as dinâmicas vigentes na cidade de Ryme City, tentando explanar ao público que desconhece o anime ou os games de forma rápida e sutil, mas ele foca em desenvolver a história ao invés de criar links a todo instante com o universo de pokémon, tornando o filme desprendido de obrigações que outras adaptações de games não conseguiram por precisarem construir seus argumentos sempre na mitologia das obras das quais foram baseadas. Aqui o roteiro é simples, e muito do universo serve somente como plano de fundo, não como peça crucial do enredo.
Entretanto, o longa muitas vezes não sabe com quem quer dialogar: Apesar de seu um filme claramente infantil, algumas piadas e momentos parecem ser voltados ao público adolescente ou de jovens adultos (que cresceu assistindo aos desenhos), correndo o risco de criar alguns momentos que podem ser constrangedores para os pais de crianças mais novas. Essas piadas, inclusive, são quase que exclusivamente feitas pelo próprio Pikachu, que carrega grande parte do filme no humor já característico de Ryan Reynolds de outros filmes (como Deadpool).
Outro ponto que poderia ter sido melhor acertado é o vilão, revelado no terceiro ato do filme: Howard Clifford (Bill Nighy), que tem uma motivação que não é tão explorada no longa, e comete erros extremamente banais ao tentar controlar a mente de Mewtwo (como por exemplo deixar seu corpo original próximo a Tim, para que ele facilmente removesse seu controle cerebral). O interesse romântico de Tim, Lucy (Kathryn Newton) também não é tão explorada de forma abrangente, apesar de sua introdução ser interessante: ela busca elucidar o caso de desaparecimento do Pai de Tim a fim de tornar-se uma repórter de grande prestigio. Entretanto, falta tempo de tela e diálogo mais aprofundados para dar maior relevância a sua personagem.

Nostalgia
Um dos pontos mais altos quase por unanimidade é o design dos pokémons que adaptam aspectos mais tangíveis as criaturinhas. Observar como eles conseguem manter a originalidade de cada um dando novas camadas de realismo é impressionante: Desde os sutis pelos do Pikachu as escamas do Charizard, tudo funciona de modo completamente crível e real. Muitas das criaturas apresentadas, inclusive, são da primeira geração de pokémon (os 151 originais): Mewtwo e Pikachu tem muito tempo de tela, e os iniciais Bulbasaur, Charmander e Squirtle aparecem repetidas vezes pelo cenário diversas vezes tentando criar certo senso de familiaridade com o público. O filme deixa uma sensação de quero mais nesse sentido, como novas interações entre os pokémons, mais batalhas e novas características sendo apresentadas.

Com uma narrativa simples, Detetive Pikachu foca em público mais amplo
As interações dos pokémons com aspectos do cenário e com os próprios atores é impressionante.

Universo pokémon nos cinemas
O filme com certeza serviu de teste para a Warner possivelmente explorar novos filmes da franquia, explorando novas narrativas dentro do universo rico de Pokémon. Além de histórias familiares, talvez tenhamos a possibilidade de ver um formato diferente com batalhas (e a clássica ascensão de treinadores a fim de conquistar a ‘Liga Pokémon’ se sua respectiva região, ou talvez algo no formato dos jogos de Pokémon Ranger, que tem como missão proteger os monstrinhos de organizações malévolas). É interessante também a possibilidade de novos filmes que  não necessariamente tenham um ator que não passe a ser sinônimo do filme em questão, mas que possua um universo autossustentável com enredo que determine de forma clara seu público-alvo.

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