O designer Michael Doret usa todo seu talento para criar letras e títulos para os mais variados clientes: times esportivos, cadeias de fast food, histórias em quadrinhos, animações infantis, filmes e por aí vai. Em 2018, ele doou metade de seu arquivo de trabalho para o Letterform Archive e a outra metade para o Herb Lubalin Center, em New York. Nos destinos, estão seus esboços e provas finais de suas composições para animações da Disney e Pixar.
No início de sua carreira, Doret projetou títulos para “Savages” (1972), “Zardoz” (1973), “Alien” (1979) e “Wolfen” (1980). Para “Savages”, por exemplo, desenhou em formas Art Deco e projetou um tipo de letra exclusivo, que foi usado nos créditos do filme,em cartazes e em momentos do filme. Já em “Zardoz”, foi responsável por escrever o logotipo, que apresenta letras geométricas com bordas afiadas. Quem é fã de “Alien” talvez nem reconheça o título de Doret, pois não foi muito usado na promoção do longa. Junto do artista pop-surrealista Todd Schorr, criou um título detalhado, com o objetivo de capturar a aparência dos personagens alienígenas. Por fim, para o terror “Wolfen”, a ideia eram letras que parecessem rasgadas, remetendo a carne pingando sangue.
Mas depois de “Wolfen”, veio uma pausa, e Doret levou mais de 20 anos para trabalhar novamente com tratamentos de títulos. Desta vez, contratado por dois dos melhores estúdios de animação do mundo: Disney e Pixar, começando provavelmente a melhor fase de sua carreira. Em 2005, ele assinou projetos para o DVD “A Dama e o Vagabundo” e o relançamento de “A Pequena Sereia”. Em 2012, o diretor de criação e vice-presidente de design criativo da Disney, John Sabel, abordou Doret para que ele projetasse o título de “Detona Ralph”. O logotipo ficou conhecido como um ponto de virada no portfólio da Disney, com letras bitmap e um retrato pixelado de Ralph inspirado nos arcade games de 1970.
A partir daí, Doret ainda trabalhou para os filmes “Malévola”, “Divertidamente”, “Moana”, “Big Hero 6”, “Viva, a vida é uma festa”, “Zootopia”, entre outros. A quantidade de informações a respeito de cada filme que ele recebe para nortear seu trabalho varia dependendo da produção. Para “Moana”, por exemplo, foram enviadas várias referências para o designer, incluindo padrões indígenas, tatuagens do personagem Maui e representações em 3D do barco de Moana. Mas essa foi uma exceção – na maioria, ele recebe apenas algumas informações narrativas, e é encarregado de tocar sua própria pesquisa. Para “Viva, a vida é uma festa”, por exemplo, ele foi atrás de curiosidades do “Dia dos Mortos” e suas lembranças de uma viagem à Oaxaca.
Em relação a inspirações, Doret usa muito do que viu ao crescer o Brooklyn, perto de Coney Island, e dos dias que passava no escritório do seu pai na Times Square, cercado pelas luzes brilhantes, a sinalização e as cores intensas. De certa forma, dá para ver como todos os detalhes se relacionam uns com os outros, e a soma de tudo confere um estilo único ao trabalho do designer.
Coisa linda.