Criatividade pode ser um dom, algo que parece brotar do cérebro de alguns sortudos iluminados, mas também pode (e deve) ser cultivada, treinada, estimulada. Muita gente olha para pessoas que sempre parecem ter uma ideia boa na cabeça e pensa coisas como: “Eu não sou assim”; “não tenho essa capacidade”; “sou uma pessoa que executa, não que tem ideias”. É incrível como esse sentimento é comum não apenas no meio da comunicação, mas em praticamente todo o mercado.
Uma das causas dessa mentalidade defensiva é que a criatividade virou uma indústria, um tipo de economia. Temos hoje a chamada Indústria Criativa e a Economia Criativa.
A primeira nada mais é do que o setor de mercado em que a atividade intelectual é essencial para a produção de um serviço ou de um bem. Já economia criativa é uma expressão do final dos anos 1990 concebida pelo teórico John Howkins para denominar como a criatividade (e a inovação) produzem valores econômicos.
A criatividade, assim, está na moda. Em um recente estudo (publicado em 2018) chamado Future of Jobs, feito pelo Fórum Econômico Mundial, a criatividade foi citada como uma das três habilidades mais importantes para os trabalhadores do futuro. (As outras: pensamento crítico e a capacidade de resolver problemas complexos.) O texto afirma que 85% dos empregos que existirão em 2030 ainda não foram inventados. Portanto, se hoje a criatividade já é importante para qualquer profissional da comunicação, em poucos anos ela será fundamental até para a sobrevivência.
Aí você me pergunta: “Tá bom, então eu posso ser uma pessoa criativa? Como?”. Bem, vamos fazer uma comparação com o Nelson Freire, um dos maiores pianistas do planeta. O Nelson certamente estudou e praticou muito, mas ele é daqueles caras geniais que nasceram com um dom. Portanto, nem eu nem você seremos tão bons ao piano como o Nelson. Mas podemos aprender a tocar direitinho, a não fazer feio em uma festa com os amigos. É uma questão de treino –e de disciplina.
Uma primeira técnica para estimular a criatividade: evite podar as suas ideias, principalmente as iniciais. Não importa se você está sozinho ou no meio de uma reunião, deixe as suas ideias florescerem, solte o que tem na cabeça, por mais maluco que elas possam parecer. Deixe para fazer a edição mais tarde; primeiro, temos de deixar a cabeça rodar.
Outra coisa: sempre, sempre, faça intervalos de descanso enquanto estiver em um brainstorming ou em uma atividade extenuante. Vá tomar um café, trocar ideia sobre séries ou futebol com alguém. Desligue por alguns minutos. Faz bem para o cérebro, para o corpo –e depois você vai perceber que muitas ideias surgem nesses momentos.
Também é importante desenvolver um pensamento questionador. Até pouco tempo atrás havia o senso comum de que os automóveis só andariam movidos a gasolina. Até que alguém questionou essa noção e hoje ela é passado. Muitas ideias surgem a partir do momento em que fazemos certas perguntas.
Mais uma dica: não tente encaixar a sua personalidade dentro de uma caixinha. “Ah, eu sou uma pessoa que gosta de praia, não gosto de campo”. Ou: “Atividades físicas não são para mim”. São restrições que impomos a nós mesmos desde cedo e que nos prendem por toda a vida. Abra-se para o mundo, viaje para lugares que diferentes, converse com gente de todos os tipos, comece a ver um filme ou uma série que te pareça esquisita. Seja curioso. São atitudes que expandem a nossa imaginação.
E, algo que funciona muito para mim: desconecte-se do digital e conecte-se com o natureza, com as pessoas e as coisas ao redor. Caminhar despreocupadamente por um parque, pela areia de uma praia; sair para tomar um sorvete ou um café. Com o celular desligado, sem fone de ouvido. Absorva e aprecie as paisagens e os sons em volta. Isso não é uma crítica ao mundo “hiperconectado” digitalmente, mas, sim, o contrário: esse tempo desconectado vai reenergizar o corpo e dar um boost na mente. Ao religar o celular, estaremos com o foco mais regulado e vamos atuar com ainda mais intensidade.
A criatividade não é uma dádiva; é uma habilidade; não é repetir o que já foi feito; é pensar de um jeito diferente e original. A criatividade aparece e cresce com treino. É amiga da curiosidade e prima da imaginação. Ser criativo é importante no meio da comunicação, mas não é só isso – dá um prazer danado quando sentimos e acreditamos que somos criativos.
Ricardo Dias no Linkedin.