Emily estava dentro de nosso projeto de entrevistas de conteúdo para o SXSW que foi, infelizmente, cancelado. Mas gentilmente cedeu uma entrevista exclusiva para nós, além de informar o lançamento da sua nova animação “Blackheads” que teria a premiere no evento, mas a diretora decidiu colocar disponível para todo o planeta agora, e ficará somente por 48h.
Emily Ann Hoffman é uma premiada diretora de animação, cineasta e artista. Seus filmes foram exibidos em Sundance, SXSW, Slamdance e muito mais.
Seu trabalho explora a sexualidade, o corpo e a vulnerabilidade feminina através de lentes cômicas.
Tive a oportunidade de ver a animação antecipada e, não somente criativo, me chamou atenção por fazer me desconectar com o fato de serem bonecos de stop motion, e me colocou dentro da história da personagem de um filme que fala sobre um tópico cotidiano.
Veja o filme agora aqui e confira a entrevista abaixo.
Entrevista
Julio Moraes: Olá Emily, muito obrigado por conversar conosco e parabéns pelo seu novo filme este ano! Você poderia compartilhar um pouco do seu trabalho? E como começou a ideia para este projeto?
Emily Ann Hoffman: Oi Julio, muito obrigada por me receber, eu sou uma escritora, diretora e artista, e eu gosto de trabalhar com filmes animados de stop motion, meu trabalho geralmente é mais pessoal, cômico e explora temas como intimidade, o corpo feminino e sexualidade. O projeto de Blackheads começou com uma página no meu diário sobre eu cutucar meus cravos na ausência de um parceiro. Na época eu estava em um relacionamento a distância e estava interessada nessa dinâmica de eu fazer algo que não deveria por estar frustrada ou saudade de alguém, e, no começo de 2019 fui contatada pela EYESLICER que é uma empresa que faz antologias de curtas e eles me comissionaram para fazer esse filme e então eu meio que redescobri essa história e adaptei para o que é hoje.
JM: A animação é sobre uma terapia que deu mal, corações partidos e cravos, falar sobre apenas um desses tópicos, já é um grande desafio, e ainda assim, misturando todos os três, você consegue criar uma história com a qual as pessoas podem se relacionar às vezes, apreciar e pensar sobre suas próprias experiências. Em “Nevada“, você também fez algo semelhante. Quão importante é para você – no seu processo de pensamento criativo – que seu público encontre um lugar de auto-identificação ao assistir seu trabalho?
EAH: Acredito que, por causa da minha escrita ser bem pessoal e baseada nas minhas próprias experiências, a história consegue ser relacionáveis pois há uma verdade por trás da emoção que a audiência consegue sentir e se identificar, mesmo que eles não tenham estado naquela situação antes. Os filmes que me emocionam geralmente são aqueles em que eu consigo me sentir nele, as pessoas geralmente falam que se ver em um filme é uma parte importante, mas acredito que ser quase capaz de sentir suas emoções em um filme pode ter uma mensagem mais forte do que somente se ver quase refletido nele. Creio que esse é o maior elogio que alguém possa dar a mim especialmente, pois trabalho com fantoches e não humanos, então, obrigada!
JM: “Blackheads” descreve as consequências de uma ruptura emocional através de intensos sentimentos de perda, vulnerabilidade e ciclos autodestrutivos de luto, e ainda é uma abordagem estranhamente cômica sobre recuperar seu próprio corpo e saúde mental. Mesmo compartilhando assim, quase consigo ver algumas semelhanças com produções como o “Fleabag“ da Amazon. – Você acredita que esse tipo de tomada de momentos de nossa própria existência, que envolve passar por um processo profundo ao mesmo tempo em que vive uma vida real (com humor ou não), ajuda nossa geração a lidar um pouco melhor com o nosso sofrimento?
EAH: Esta é uma pergunta difícil, eu não sei se consigo falar por uma geração que tem crises existenciais, posso falar por mim. Sei que eu me inclino mais para comédia como um mecanismo de defesa ou como uma forma de processar algo mais profundo e escuro, apesar da apreensão, acredito que a internet e redes sociais criaram um espaço criativo para comunicação e emoção coletiva. Qualquer seja sua opinião sobre a cultura de memes, creio que seja exatamente isso, um meio cômico para emoções genuínas, acredito que a internet fez a nossa geração ser uma audiência mais inteligente que deseja um storytelling mais genuíno e é por isso que acho que Fleabag fez isso muito bem. Eu gosto quando um programa usa emoções cruas, reais e honestas para criar comédia e tristeza, e essa é a beleza de filmes e tv, algo que pode te fazer rir ou chorar, uma saída para suas emoções que não estavam prontas para rir ou chorar sobre.
JM: Seu trabalho é definitivamente um bom livro visual sobre a vida de jovens adultos, quase como se eles estivessem acontecendo no mesmo universo e ao mesmo tempo – e se tornou um universo único e um must watch. O que podemos esperar do seu trabalho no futuro.
EAH: Você pode esperar mais desse tipo de assunto, estou ansiosa para continuar usando animações para explorar narrações humanas e eu gostaria de fazer uma série episódica como você mencionou, que conecta essas histórias e colocar personagens novos. E como mencionei, meu trabalho é algo mais pessoal, então você verá meu relacionamento com o meu corpo, minha saúde, o relacionamento com a minha família, ou uma parceria romântica, controle de natalidade, minha identidade queer, o processo artístico e também as pequenas coisas que acho engraçado.
JM: Ansioso para ver mais de sua incrível e criativa mente e para assistir sua estreia. Quero agradecer pelo seu tempo e por compartilhar um pouco do seu trabalho, onde podemos acompanhar e conferir o filme?
EAH: Muito obrigada por me receber, como vocês provavelmente sabem o SXSW foi cancelado, então ao invés da estreia lá nos dias 15 e 16 de março, eu decidi lançar o filme online no vimeo você também pode encontrá-lo no meu site ou se você me segue no twitter e instagram eu vou postar sobre ele por lá também. O filme estará disponível somente nos dias 15 e 16 de março, depois disso estará em outros festivais, contanto que eles também não sejam cancelados, então vamos estar no GLAS que é um festival de animações em Berkley, California, e logo depois temos alguns outros mas eu não posso falar sobre pois a informação ainda não está disponível para o público, então me sigam que estarei postando sobre. Obrigada por assistir meu trabalho e pelas questões atenciosas.
Ouça a entrevista aqui também no MeioTermo Podcast:
Até a próxima entrevista!