Dois estudiosos de Stanford uniram forças para recriar como um coro cristão poderia ter soado dentro da Hagia Sophia de Istambul antes de se tornar uma mesquita nos anos 1400.
Quando a Basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia) em Istambul foi construída no século VI, era o maior edifício do mundo, uma maravilha da engenharia. A sua acústica única inspirou compositores a escreverem o equivalente a 10 séculos de música religiosa especificamente para serem cantadas por lá.
Então, o Império Otomano invadiu em 1453 e a Hagia Sophia se tornou uma mesquita (entre 29 de maio de 1453 e 1931, quando foi secularizada). Foi reabearta como um museu em 1º de fevereiro de 1935.
A música coral foi banida e o som da Hagia Sophia foi esquecido até agora.
Sam Harnett, do podcast The World According to Sound conta a história, transcrita e traduzida aqui:
– Música cantada pelo coral Cappella Romana (cantando em idioma não-inglês).
SAM HARNETT, BYLINE: Este canto bizantino do século XIII está sendo cantado por Cappella Romana, um coral de Portland, Oregon. É assim que parecem em estúdio.
– Música cantada pelo coral Cappella Romana (cantando em idioma não-inglês).
HARNETT: Agora imagine, é o início do século XIII. Você está sentado dentro da Hagia Sophia. Pilares de mármore se erguem ao seu redor. Filtros de luz empoeirados penetram nas janelas da enorme cúpula acima. E é assim que você pode ouvir Cappella Romana.
– Música cantada pelo coral Cappella Romana (cantando em idioma não-inglês).
HARNETT: Essa transformação só foi possível por causa de dois estudiosos da Universidade de Stanford, de duas especialidades muito diferentes. Bissera Pentcheva é professora de história da arte.
BISSERA PENTCHEVA: Muito do meu trabalho está focado em reviver a arte e a arquitetura medievais.
HARNETT: Jonathan Abel é do departamento de música digital.
JONATHAN ABEL: Estudo a análise, síntese e processamento do som.
HARNETT: Quando eles se conheceram, Pentcheva começou a contar a Abel sobre a Hagia Sophia – como não podíamos realmente entender a experiência dos adoradores lá, a menos que pudéssemos ouvir a música do jeito que eles faziam. E enquanto ela falava, Abel se empolgou. Eles poderiam recriar como seria essa música. Como se eles pudessem entrar na Hagia Sophia e, metaforicamente, estourar um balão.
HARNETT: Quando um balão estoura, ele produz um impulso, um som rápido e agudo que assume o caráter de qualquer espaço em que ele esteja. Portanto, quando um balão estoura, você está realmente ouvindo a acústica do próprio espaço, conta Abel.
ABEL: O espaço interage com o som, trazendo de volta aos ouvintes informações sobre a geometria, o tamanho, os materiais presentes, esse tipo de coisa.
HARNETT: Pentcheva se ofereceu para a missão de estourar balões na Hagia Sophia, que agora é um museu. Ela voou para Istambul e convenceu o museu a deixá-la entrar depois de horas.
PENTCHEVA: Então eu tinha todo o equipamento. E passei cinco dias no espaço.
ABEL: O guarda estoura o balão enquanto Bissera está usando pequenos microfones de encaixe bem perto das orelhas. Então o balão se abre. O som ecoa e reverbera pelo espaço e é capturado na cabeça de Bissera.
HARNETT: Lembra daquele balão estourando?
HARNETT: Aqui está o que Pentcheva gravou dentro da Hagia Sophia.
– Som do balão estourando no interior da Hagia Sophia.
HARNETT: Abel usou as informações acústicas nos balões para criar um filtro digital que pode fazer qualquer coisa parecer como se estivesse dentro da Hagia Sophia.
ABEL: Esse processo é chamado de convolução. E é um mecanismo pelo qual a acústica da Hagia Sophia pode ser impressa em qualquer som que desejarmos.
HARNETT: E isso só foi possível nos últimos 10 anos ou mais por causa dos avanços em nossa compreensão de como o som funciona em um espaço.
– Música cantada pelo coral Cappella Romana (cantando em idioma não-inglês).
HARNETT: Então imagine – é o início do século XIII. Você está sentado dentro da Hagia Sophia. Pilares de mármore se erguem ao seu redor. E a luz empoeirada filtra as janelas na enorme cúpula acima.
– Música cantada pelo coral Cappella Romana (cantando em idioma não-inglês).
PENTCHEVA: Na verdade, é algo que está além da humanidade que o som está tentando se comunicar.
– Coral Cappella Romana vocalizando em idioma não-inglês.
Impressionante!
Quer ouvir mais? A Cappella Romana lançou recentemente um álbum inteiro com esse filtro chamado “The Lost Voices of Hagia Sophia”.