Não paro de pensar em como será a saída deste “túnel” em que nos metemos ou em que fomos metidos. Tenho visto as apostas sensatas ao lado de muitas arriscadas e perigosamente precipitadas. Estas de quem olha para o futuro com a lente suja com a poeira do presente.
O que podemos esperar de nós mesmos quando estivermos livres novamente da atual ameaça? Seremos seres renovados? Será uma nova era de compreensão e de solidariedade humana na Terra? Ou, continuaremos nos engalfinhando pela posse do que cada um já conquistou e nos defendendo dos “bárbaros visigodos e ostrogodos”, como no filme “Parasita”?
Lógico que quando cair a máscara, é muito provável que até lá teremos incorporado alguns hábitos e cuidados que hoje tratamos com certa displicência. De lavagem de mãos a home office.
Mas aposto que não veremos o nascimento de uma nova espécie humana. Aqueles novos mutantes que transbordam bondade, empatia. Não será a sonhada Era de Aquarius. Não surgirá o novo consumidor fazendo uso matemático e racional em suas rotinas de consumo. Os que já existem ficarão chocados com o aparente descontrole e o movimento febril dos que elegeram o desejo antes do medo.
Como já disse há muito pouco tempo, vamos lotar os shoppings e namorar as vitrines como uma Audrey Hepburn na frente da Tiffany. Ainda não, mas aguardem.
O desejo vencerá o medo! Daqui a pouco. Em Paris, já está vencendo!
Foto publicada no Estadão no último dia 3, não é de arquivo. Não é fake news. Mas do primeiro dia de flexibilização nos cafés de Paris, no coração do Saint Germain des Près.
Inveja? Tenha não.
Em breve, também na Vila Madalena e Baixo Pinheiros. Falo só dos cantinhos de São Paulo que conheço melhor. A Beatriz, que reside em Londres, quando viu essa foto, pulou da cadeira e exclamou: “Partiu Paris”.
O desejo, essa fábrica interna que tentamos “gerenciar” desde que nascemos, é resiliente.
Segundo um dicionário: resiliência é a “propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.”
O desejo pulsa em nós, no isolamento o desejo espia pelas frestas esperando o momento de exibir sua resiliência. Muitas vezes, sem pedir licença para entrar. Às vezes, ele até fura a fila quando não tem ninguém olhando, pra ver se chega logo a sua vez. É uma fera enjaulada.
Aldir Blanc, infelizmente, não está mais aqui. Mas se o João Bosco me permitir, acho que dá pra trocar, só por algum tempo, bloco por desejo no samba “Plataforma ” (1977). Confiram.
Por um bloco
Que derrube esse coreto
Por passistas à vontade
Que não dancem o minueto
Por um bloco
Sem bandeira ou fingimento
Que balance e abagunce
O desfile e o julgamento
Por um bloco que aumente o movimento
Que sacuda e arrebente
O cordão de isolamento
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O texto é ótimo!!! Mas podemos por ora partir para o Brasil mesmo, de carro, perto de nossas casas….Há tantas “vitrines” que podem maravilhar tantas “Audreys” …..
Já tínhamos falado sobre isso
o artigo está mto bom
bjs
Um bom texto vale por uma viagem ;)
Como é bom ler um texto bem escrito, interessante, com ótimas referências. Confesso que eu sou da turma Partiu Paris!
Tenho visto algumas manifestações de ódio, individualismo, que acredito que o ideal seria os corpos passarem por uma deformação e se transformarem em algo novo, não voltar ao modo original :|