Ao contrário do que muitos (ainda) pensam, moda não é coisa de gente fútil! A perspectiva correta para uma análise realista e justa é lembrar que este é um setor muito importante, que gera emprego e gira a economia. (Sem falar nas obras de arte que produz e embelezam o mundo!)
Mas, como quase tudo na vida, a Moda também tem o seu lado vergonhoso e/ou revoltante, que são questões espinhosas como o trabalho escravo, a enorme poluição que causa no meio ambiente e a promoção da morte de animais – alguns com crueldade inimaginável – para uso de suas peles.
Nós devemos aos millennials (geração nascida entre 1980 e 2000) o start da conscientização que temos hoje sobre o tremendo absurdo que é o uso de peles na Moda.
Foi essa galera que começou a se comprometer com o ativismo pelo direitos dos animais – especialmente a partir da fundação do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) – e a dar o berro contra os maus tratos e matança de várias espécies.
Foi essa galera que revelou ao mundo, por exemplo, que as focas eram mortas a pauladas; que para se confeccionar um casaco médio de pele de coelho, era necessário o abate de 30 bichinhos; e que na década de 80 cerca de 5 milhões de jacarés foram mortos no Pantanal, provocando um grande desequilíbrio ecológico e tudo isso pra alimentar a indústria da Moda. Que tragédia!
E por falar em PETA, quem não se lembra (ou nunca ouviu falar) naquele desfile da Victoria’s Secret em 2002, quando 4 manifestantes da ONG invadiram a passarela para protestar contra o uso de pele animal e xingar Gisele Bündchen, bem no momento em que ela estava desfilando?
Sem querer julgar o costumeiro modus operandi dos ativistas, fato é que a pressão deu resultado e, principalmente a partir dali, a mentalidade dos consumidores começou a mudar e a indústria teve que mudar tambem, pois o boicote às marcas ecologicamente irresponsáveis passou a ser uma arma poderosa!
A própria Gisele declarou, depois do episódio, que não sabia da crueldade a que eram submetidos os animais de pele mais visadas e disse ainda que o PETA mudou a sua mente.
Já há muitos anos ela está entre os principais militantes da causa ecológica, se esforça pra levar uma estilo de vida coerente com o que prega e sua mensagem ecoa pelo mundo a fora, dada a sua relevância e visibilidade.
A partir da década de 80 os protestos contra a crueldade aos animais, em função da Moda, não pararam mais de acontecer pelo mundo e uma das ações mais famosas (e chocantes!) foi um comercial do PETA francês, criada pela Ogilvy & Mather.
Uma loja fictícia foi instalada num grande centro comercial em Bangkok (Tailândia), onde produtos de couro foram expostos e os clientes, ao manusearem e abrirem cada peça, encontravam o que tinha do outro lado do couro.
Tudo falso, evidentemente, mas muito realista e didático.
Se vc tem sangue frio e nervos de aço, dá o play aí e veja essa incrível campanha:
Uma das primeiras grifes de luxo a recuar no uso de pele animal e se posicionar com o compromisso de erradicar essa prática foi a Armani, que puxou fila para a adesão de outros gigantes como Hugo Boss, Calvin Klein, Tommy Hilfiger, Ralph Lauren, Michael Kors, Prada, Burberry, Gucci e até a Chanel, mais recentemente.
Outra porta-voz importantíssima na luta por essa bandeira é a estilista inglesa, Stella McCartney, que desde a sua estreia na Moda, em 2001, nunca trabalhou com pele, pêlo, pena, plumas, nadica de origem animal (nem em suas coleções, nem no trabalho de suas parcerias), o que é um grande desafio, visto que produtos de couro são tão comuns no vestuário de quase todas as culturas da Terra.
Stella foi a primeira estilista a abertamente declarar guerra contra a crueldade aos animais e meio que encabeçou o debate sobre a sustentabilidade no mercado de luxo da Moda, trazendo sempre inovação ao apontar caminhos alternativos, encorajando outras marcas a fazer o mesmo e sem nunca parar de falar sobre o tema, através de protestos em seus próprios desfiles, como aconteceu no ano passado, ao ‘tatuar’ nas modelos frases como “Green is the new black” e “There’s no planet B” (num claro trocadilho com “plan B”).
Além do reconhecimento como a principal estilista de sua geração, um dos resultados de todo o seu engajamento na causa é que ela foi a primeira (e até agora, única) estilista a ilustrar a capa da Vogue americana, ao invés de uma modelo.
Nessa edição, aliás, a revista demonstra que a partir de agora, muito mais importante que “o quê” (roupas e tendências) será o “como” (processos e matérias-primas).
Que maravilha, não?
Um grande SALVE à moda consciente do século 21!