Sabemos que já é uma realidade a possibilidade de “imprimir comida”, usando diferentes tecnologias, impressoras 3D e elementos, digamos, “comestíveis”. Mas uma empresa israelense apresentou nesta semana algo que vai muito além de reproduções químicas ou simbólicas de alimentos, criando o que está sendo considerado “O primeiro steak de verdade impresso em 3D”.
Não é plant-based, vegetariano ou muito menos vegano, nem uma tentativa de unir diversos elementos para reproduzir o sabor de um belo bife. É muito mais assustador que isso: a tecnologia utilizada pela Aleph Farm usa células musculares de animais vivos ou recentemente abatidos, retiradas através de biópsias de punção, para cultivá-las em uma matriz vegetal de maneira controlada a ponto de reproduzirem a textura e o sabor de um bife real.
Nesse processo, reproduz-se em laboratório algo semelhante ao sistema vascular de um animal, fazendo com que o steak “meio fake, meio real” vá ganhando as características necessárias para parecer carne de verdade tanto antes quanto após seu cozimento.
Segundo depoimentos de Didier Toubia, chefe-executivo da Aleph Farm, ao Washington Post, o resultado já está muito próximo de refletir a qualidade sensorial, a textura o sabor e até o marmorizado gorduroso de uma costela tradicional. Ele ainda garante que, com maior controle sobre o processo, será possível adaptar a produção a diferentes mercados e cultura, aumentando a presença de gordura, tornando os bifes mais ou menos macios etc.
A ideia da empresa – que não é a única correndo nesse sentido para desenvolver produtos semelhantes – não é substituir a agricultura tradicional, mas construir uma segunda categoria. No mundo inteiro, e por aqui não tem sido diferente, cresceu vertiginosamente a oferta e o consumo dos chamados plant-based – produtos a base de plantas e outros elementos de origem não animal que procuram reproduzir sabor, aparência e textura de carne.
O que antes era exclusivo e caro, hoje já está disponível em redes como Burger King, com o Rebel Whopper. Segundo dados da Euromonitor, só no Brasil, o setor de planted-based faturou cerca de R$ 420 milhões em 2020, um aumento de quase 70% em comparação a 2015. No caso das carnes da Aleph Farm, as primeiras previsões é que seus produtos cheguem ao grande público a partir do segundo semestre de 2022 – lembrando que ainda não há, globalmente, uma definição concreta sobre regulamentação e liberação desse tipo de opção alimentar.
Entre as principais razões para esses movimentos estão maior cuidado com a saúde, mudanças climáticas e proteção animal. Porém, vale reforçar que muitos deles acabam apenas parecendo mais saudáveis para nós, animais e planeta, e às vezes indo até na direção contrária.
Na dúvida, o que mais ajuda é ter a certeza da procedência, dos métodos utilizados pelo produtor e de estar ingerindo comida de verdade. Não dá para saber do futuro, mas hoje, sem dúvida, eu ainda prefiro meu bife mal passado do que bem impresso.