O tênis e o surf são 2 grandes esportes que se confundem com filosofias de vida.
O surf pela convivência com forças externas, sempre uma grande metáfora.
E o tênis pela dualidade constante entre força e sutileza, entre o mental e o físico. Apesar do adversário do outro lado da rede, geralmente no tênis a gente joga contra nós mesmos. O cara do outro lado está lá só para despertar a besta dentro de você.
Um dos melhores livros que já lí, ainda adolescente, é sobre tênis. Não é um livro filosófico, pelo contrário: é bem pragmático, quase técnico. Mas se for lido com a mente aberta, serve para a vida. O nome é The Inner Game of Tennis e foi escrito na década de 70 por um professor de clube, chamado Tim Gallwey.
Tim não tinha nenhuma formação acadêmica, mas começou a reparar no seu dia-a-dia que quanto mais instruções ele dava aos alunos, piores eles ficavam. Ao invés de concluir que a culpa era dele, descobriu uma das teorias mais interessantes que já vi: a do excesso de verbalização e mecanização dos movimentos e o quanto isso atrapalha a performance de um jogador.
A lógica é a seguinte: o seu cérebro é capaz de fazer coisas infinitamente melhores e mais sofisticadas do que a gente possa querer mecanizar.
A bolinha vem a 157 km/h, passa a 62 cm da rede, quica a 3.14m a sua frente. Seu braço já abriu a raquete e seu corpo inteiro acelera em direção a bola, transferindo peso para a perna esquerda. O braço avança a 62km/h, e atinge a bolinha exatamente no ângulo certo para ela retornar girando, para que o efeito a faça mergulhar do outro lado da quadra.
Um cérebro de uma criança de 8 anos faz isso. Por tentiva e erro. Uma série complexa de cálculos feitos em frações de segundos.
Aí vem o professor gostosão e começa a querer dar um monte de instruções. Nesse momento entra em cena um grande vilão que mora dentro da nossa cabeça: o nosso lado racional. Aquela vozinha que fica dando palpite e criticando tudo, sabe?
Você certamente já viu algum tenista falando sozinho.
“Pra que tão forte? Prá que tão forte? Calma caramba! Coloca a bola e pronto!”
Com quem ele está falando? Com ele mesmo, claro. Mas como uma pessoa pode falar com ela mesma? Porque na verdade são duas pessoas no mesmo corpo. O Tim Gallwey chama de self 1 e self 2 (assim como tantas outras teorias fazem, mas o dele é de uma simplicidade que dói).
O self 1 é o cara que joga, e o self 2 é o carinha da voz dentro da nossa cabeça, na torre de comando.
Todo o trabalho da carreira de Tim Gallwey é baseado em CALAR o self 2. Amordaçar o cara da torre.
O corpo sabe como fazer, é só você não atrapalhar. Você visualiza o que quer que aconteça e não pensa em COMO fazer isso. Deixa essa parte pro self 1. Deixa fluir. Não pensa.
[Tem uma cena no filme O Pianista que o professor do conservatório famoso de Viena fala no ouvido dele: “pratique até esquecer”. Até calar o self 2]
Um exemplo prático foi uma aluna que não conseguia encaixar o saque no quadradinho do outro lado da quadra.
Tim fez uma malandragem, falou que o problema era a posição dos seus pés e pediu pra ela prestar muita atenção no que estava fazendo com os pés enquanto sacava.
A aluna acertou 8 de 10 saques no quadradinho.
Seu self 2 foi enganado, foi enviado para os pés e o self 1 finalmente pode sacar em paz.
Enfim, não vou me prolongar muito, esse assunto é sensacional demais para querr matar em um post e serve para muitos outros esportes (de quadras, corporativos, pessoais, etc.). E com certeza você já ouviu teorias parecidas. Mas a de Tim Galloway, um cara que descobriu isso na prática, eu nunca mais esqueci.
Veja esse video com atenção:
Hoje em dia Tim Gallwey é considerado o pai do coaching e é bastante conhecido no mundo corporativo. Roda o mundo palestrando pela sua escola, que tem inclusive representação aqui no Brasil. Busque no Google se te interessar.
Olha só, antigamente o saque era ensinado por etapas. Complicadíssimo. A molecada virava robô:
Hoje já tem muito professor ensinando por analogias, o que é sensacional. O meu filho eu ensinei a sacar com uma meia e 2 bolinhas dentro, que ele fica girando como se fosse arremessar. Veja um video sobre essa técnica aqui (nnao precisa ver tudo, é só pra você entender a diferença;
Putz, ficou grande o post, sorry.
Tudo isso porque tá rolando o US Open, que esse ano promete, e para mostrar aos não tenistas o quão incrível é esse jogo.
Excelente post! Adorei, me esclareceu essa questão desse segundo ser que não sai da minha cabeça.
Muito obrigado Wagner.
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Reginaldo Silva Ops! Eu gosto muito de viajar de avião e, conhecer,nossas Cidades Brasileiras. E tambem, quero conhecer Argentina x Espanha! Se quiser, irei conhece-los.
Esse é o tipo de post que inspira não só a performance mas o coração nas coisas.
Excelente Andre, realmente o surf é muito mais que um esporte. Tenho uma palestra inteira só usando o surf como metáfora, que surfa (do jeito certo e com "olhos de ver"), sabe. Posso publicar seu texto como guest post?
Wagner, post muito bacana! Parabéns! :-) Quando você associou o surf tb como filosofia de vida logo no início do post, não pude deixar de lembrar de um texto que escrevi há um tempo atrás (sobre o que o surf me ensinou sobre a vida, carreira e negócios) – Dá uma olhada: http://www.andresouza.blog.br/1/post/2013/07/6-lies-que-o-surf-me-ensinou-sobre-a-vida-negcios-e-carreira-parte-1.html
Boa Zilceano, obrigado!
Tem posts longos que são chatos.
Mas tem alguns que quando você termina de ler diz pra si mesmo:
Valeu a pena!.
Ih, meu caso é sério, desconfio de um self 3! :) vamos marcar!
E tem o livro do Agassi né Jorgito, que alias foi resgatado pelo Brad Gilbert! Mas vc é craque, nem precisa ;)
Ops! Obrigado Rita, corrigido!
Wagner, desta vez você se superou! Para os amantes do tênis e do controle mental como eu ((eu bem que tento =] ), esse post foi demais! Parabéns! Agora só falta marcarmos um jogo e ver se as técnicas funcionam =]
Wagner Brenner Quando vc diz "[Tem uma cena no filme O Pianista que o professor do conservatório famoso de Viena fala no ouvido dele:pratique até esquecer". Até calar o self 1.]" vc quer dizer o self 2, correto? Excelente esse post :]
Belo Post! Pra mim o livro foi o Winning Ugly do Brad Gilbert. O cara que não tinha nenhuma grande arma mas ganhava dos outros na cabeça. Estou lendo agora o livro do Nadal – Rafa, My Story – mostra bem a jornada que levou ele a se transformar nesse gigante.