Como você já sabe, ferramentas como o DALL-E 2 e o MidJourney permitem que qualquer pessoa insira uma série de prompts (por exemplo, “um pássaro sentado em uma árvore em um dia ensolarado no estilo de Rembrandt”) e crie uma imagem que ilustra o texto inserido pelo usuário.
Qualquer usuário, diga-se de passagem, como pode ser facilmente verificado em diversas redes sociais, todos muito orgulhosos de suas obras criadas com uma dezena de palavras. De fato existe uma banalização e uma diminuição do impacto inicial da tecnologia, mas por outro lado existem também os que estão aprendendo muito rapidamente a arte do prompt, que no final das contas, é a alma do processo.
O impacto dessas ferramentas nas artes gráficas já está gerando debate entre artistas tradicionais sobre como isso pode afetar o futuro das artes plásticas e do design gráfico. E podemos afirmar que estamos saindo da fase inicial de exploração das possibilidades para projetos mais parrudos que usam IA como um boost (esse sim revolucionário) na produção de quadrinhos, animações e mais uma série de usos. Sabemos que a ameaça aos profissionais realmente vira ameaça quando a tecnologia avança no processo de produçção em massa, com mais velocidade e controle.
Aconteceu com uma lanchonete, não foi?
É o fast-food da arte. O Fast-art.
Segundo David Holz, fundador e CEO do Midjourney, “muitas instituições acadêmicas estão trabalhando em animações. É um pouco caro e a qualidade ainda deve melhorar, mas certamente veremos coisas inimagináveis nos próximos anos”.
já tem gente testando o MidJourney v5 e dizem que vai ser “mind blowing” de novo.
A animação de IA pode ameaçar toda a indústria de animação, mas isso já aconteceu antes, com outras tecnologias. Uma das primeiras mudanças impulsionadas pela tecnologia na animação desenhada à mão foi a rotoscopia, que é o processo de traçar imagens de ação ao vivo para tornar os movimentos dos personagens mais realistas. A rotoscopia foi usada em filmes da Disney como Branca de Neve e os Sete Anões e em filmes inovadores como o animado Senhor dos Anéis de Ralph Bakshi e Waking Life de Richard Linklater, mas ainda é desprezada por alguns animadores.
E nos últimos anos, a captura de movimento se tornou uma das formas preferidas de animar modelos de personagens 3D para reduzir o tempo de produção e tornar as animações mais realistas. Alguns dos melhores exemplos da técnica podem ser vistos na série Love, Death + Robots da Netflix.
A produção de arte em massa, como fez Andy Warhol
Alguns comparam o uso da IA para gerar arte com Andy Warhol, que usava assistentes para replicar imagens em serigrafia e litografia em seu nome, muitas vezes baseados em referências da cultura pop e fotos pré-existentes que ele nem sequer havia escolhido. Warhol dizia que seu processo era semelhante ao de uma fábrica:
“A razão pela qual estou pintando dessa maneira é que quero ser uma máquina”.
Andy Warhol
Sol LeWitt, um artista conceitual que dava instruções detalhadas aos assistentes sobre como criar um trabalho, acreditava que quando “todo o planejamento e as decisões são feitas de antemão… a execução é um assunto superficial”.
A automação na arte tem sido uma prévia da ascensão da IA na arte, agora com o código substituindo as equipes. Assim como a captura de movimento otimizou o trabalho de produção de animação, as imagens geradas por IA podem ser a próxima etapa evolutiva. Embora tenha havido um certo ceticismo da indústria na época, tanto a rotoscopia quanto a captura de movimento foram amplamente adotadas na indústria de animação.
No entanto, em ambos os casos, uma mão humana ainda estava diretamente envolvida na produção visual.
Com imagens geradas por IA, o processo de animação pode evoluir para uma necessidade de interferencia humana apenas no algoritmo no back-end e prompts no front-end para encomendar uma cena.
Alguns veem o uso de ferramentas de geração de arte de IA como uma evolução natural de softwares como o Photoshop e o Procreate, enquanto outros veem a IA geradora de imagens como uma força com potencial para massacrar milhares de humanos que sustentam suas famílias como ilustradores profissionais.
No caso da animação, essa mudança pode acabar afetando parte dos 62.000 animadores e artistas de efeitos especiais que trabalham nos Estados Unidos, que é o grande polo da indústria. E a mesma coisa deve acontecer no Brasil ou em qualquer outro país produtor de arte. No entanto, dado o rápido progresso desses sistemas de arte de IA, provavelmente não demorará muito até que roteiristas se desenvolvam como diretores de arte e inaugurando assim uma nova fase na animação.
É assim que tudo evolui, desde que o mundo é mundo. Update…or Die!