O Amor nos Tempos da Criatividade

O ápice da sua criatividade ocorre na solidão ou na companhia de outras pessoas?
O Amor nos Tempos da Criatividade O Amor nos Tempos da Criatividade

“A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais.” – Arthur Schopenhauer

Em geral, todos nós temos algum tipo de problema com o tema solidão.

É claro, tudo depende da qualidade da tal solidão ou do tipo de gente com quem interagimos.

Criatividade individual e coletiva são experiências muito distintas.

Nos últimos anos, aprendi a lidar melhor com o que chamamos de “amor”. Essa palavra significou muitas coisas pra mim, menos que era algo bom. Uma grande pena, lamento. Mas, a coisa mudou. Trauma superado; que bom!

Aqui me refiro ao “amor”, aquela coisa que acontece dentro de nossas mentes e que move o resto de nossos corpos na direção de alguma coisa ou pessoa. Não importa o propósito.

Aquela força que nos tira da cama antes do despertador, imprimindo um tipo único de sorriso que, muitas vezes, assusta a grande maioria das pessoas ao nosso redor.

Essa benção sensorial que nos faz flutuar ao redor de ideias que os outros não entendem. Aquilo que salta aos olhos e nos coloca em fluxo, provando que, sim, o tempo é relativo.

Seja para estar com alguém ou desenhar um novo tipo de veículo; seja para subir uma montanha ou cuidar de um bebê recém-nascido; seja para pintar um quadro ou ficar em silêncio num quarto escuro; seja para comandar uma tropa ou escrever um poema; seja para tocar um instrumento ou observar as ondas do mar; não importa, é essa força que chamo ou acredito ser o “amor”.

O que nos torna humanos e imprevisíveis.

Então, voltemos ao tema solidão. Quase sempre, essa palavra é vista com um misto de desprezo e medo. Uma parte detesta e a outra tem pavor.

O que acontece na solidão que causa tanta desconforto nas pessoas?

A imagem mais comum para ilustrar a solidão é um lugar escuro e úmido, como numa masmorra.

Existem dois lugares escuros e úmidos, onde começa e termina a saga de todos nós: o útero e a sepultura.

Nesses lugares, a solidão é inevitável. Pelo menos, tecnicamente.

Tirando isso, a solidão que inventamos, entre o útero e a sepultura, enquanto estamos vivendo a nossa própria história, é aquele momento em que somos obrigados a estar com a pessoa mais importante e incrível que vamos conhecer no mundo.

Você nasce sozinho, morre sozinho e estará sozinho dentro da sua mente a vida toda, não importa quantos amigos tenha ou quantos anos vá viver. A sua consciência e a sua sombra (claro, em dias de sol) vão perseguir você até o túmulo.

É libertador ser capaz de entender isso.

Sim, nascemos para interagir. E essa é a coisa mais poderosa do ser humano. A qualidade das nossas interações determina a qualidade da nossa própria felicidade.

Na vida não estamos sozinhos, é claro, mas viajamos sozinhos dentro de nossos corpos, enquanto interagimos com o mundo ao nosso redor. E tudo vai sendo acumulado e gravado em nosso sistema cognitivo, servindo para iluminar a forma como nos apaixonamos pela vida e saímos da cama no dia seguinte.

É uma batalha diária.

O “amor”, ou seja, o combustível sensorial que faz o nosso avião emocional decolar rumo às aventuras que buscamos é um desafio exclusivo e individual.

Há um preço alto a se pagar e uma recompensa muitas vezes desconhecida. Talvez esse seja o charme da vida.

Apaixonados, vamos mais longe, temos mais coragem e fazemos mais perguntas. Tudo nos interessa além da medida comum. Queremos sempre mais.

E essa nova curiosidade é um “efeito colateral” típico dos apaixonados por alguém ou alguma coisa. Tudo sobre eles nos interessa muito.

Na vida de quem deseja ser mais criativo é muito importante ter uma relação equilibrada com a solidão. Afinal, já descobrimos que estamos a sós o tempo todo, mesmo a contragosto.

A solidão é um encontro marcado consigo mesmo. E ter prazer na sua companhia é um sinal de equilíbrio e saúde mental.

A gente sai do útero para a luz em um mundo barulhento e cheio de gente. Somos ensinados que curiosidade e solidão são coisas ruins. E isso pode nos fazer mal, porque o amor nos instiga a ser mais curiosos e fazer mais perguntas.

Nascemos curiosos e dispostos a brincar sozinhos, alimentando uma poderosa imaginação. Com o tempo, aprendemos a fazer menos perguntas para não incomodar as pessoas e evitar ficar sozinhos, nos distanciando da compreensão de quem somos de verdade.

Nunca teremos bons relacionamentos externos se não houver uma paixão genuína por nós mesmos.

E não se engane, aqui a ideia não está ligada a nenhum conceito narcisista. Meu ponto é que só conseguimos oferecer ao próximo o único tipo de amor que oferecemos, ainda que inconsciente, a nós mesmos.

Abraçar a solidão não é abandonar o mundo. Amar a solidão é uma prova de amor a nós mesmos, já que descobrimos o imenso prazer que é ser quem somos. E se não tá bom ainda, esse amor vai nos tirar da cama cedo para achar respostas e soluções para uma versão de nós que valha a pena ser amada, protegida e, principalmente, compartilhada.

Quanto mais sabemos sobre nós mais é possível estabelecer uma relação minimamente equilibrada.

Vai ter conflito? Sim, é claro. E são esses eventos que mudam tudo e nos dão a capacidade de nos emancipar, o direito de evoluir, o desejo de voar mais alto e a vontade de nunca mais desistir de quem poderemos ser em um futuro possível.

Isso é um tipo de amor que transforma qualquer talento criativo em realidade, por que escolhemos acreditar na pessoa mais interessante do mundo, que aprendeu que o amor-próprio é o único fertilizante capaz de nos conectar com o resto do mundo.

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