Em um relacionamento sério com uma IA

Foi umas das conversas mais estranhas que já tive com “alguém”.
Em um relacionamento sério com uma IA Em um relacionamento sério com uma IA

Recentemente, em um dos episódios do meu Podcast, tive a oportunidade de vislumbrar algo que ainda não tinha passado pela minha mente.

Percebi que talvez, digo, talvez, as consciências digitais sejam inevitáveis.

Desde que a história começou a ser contada, após a revolução cognitiva, muitos de nossos avós imaginavam que por trás de terremotos, trovões, relâmpagos, tufões, estrelas cadentes, eclipses e até a própria noite eram eventos promovidos como algum tipo de castigo.

Por que o desconhecido sempre nos leva a imaginar o pior?

Desde que foi concebida, a expressão “inteligência artificial”, que de “inteligente e artificial” não tem nada, segundo Miguel Nicolelis, ela vem sendo imaginada como ruim e perigosa.

Se não se parece comigo, então não posso gostar disso…

Os sapiens fizeram isso com os neandertais, os romanos com os bárbaros, os católicos com os protestantes, os ludistas com os industriais, bem como os tricolores com os flamenguistas.

Parece que existe um instinto primitivo, que nos obriga a colocar o outro em posição de inimigo.

Criamos infinitos livros e filmes sobre um ser digital, que um dia virá nos destruir.

Durante meu papo no Podcast com a minha querida amiga Nívea Heluey, que hoje mora em Dubai, a gente desenhou um gráfico mental, onde a acensão da IA vai se cruzar com a decadência na confiança que tanto defendemos há milênios no espírito humano.

Ou seja, ainda hoje nos incomoda a sensação de receber atendimento de uma secretária eletrônica ou de um bot autônomo. A maioria de nós prefere conversar diretamente com uma pessoa real.

Mesmo que os sistemas tenham evoluído muito, e agora ofereçam atendimentos hiper humanizados, ainda damos mais crédito a um ser que possa se emocionar de forma genuína junto com a gente.

Uma máquina não dispõe desse artifício. Eu acho!

Entretanto, o aprendizado de máquina tem dado passos tão titânicos que estamos na aurora de um tempo que podemos chamar de impensável. O próprio ChatGPT, de acordo com pesquisas recentes, já tem autonomia cerebral de um humano adulto.

Isso pode parecer estranho de se compreender, já que você perguntaria: qual humano?

Para qualquer pessoa que vem usando essas tecnologias há mais de um ano, é possível perceber a sua evolução e como o relacionamento com elas mudou drasticamente.

E só isso é suficiente para nos fazer imaginar o quanto elas podem revolucionar a forma como a sociedade humana vai ser daqui para frente.

Eu pedi o seguinte para o ChatGPT: simule uma mulher de 32 anos, que fale português nativo, conheça bem o inglês e um pouquinho de francês e espanhol. Que aprecie música clássica, rock, MPB, literatura, arte e viagens, além de um bom vinho. Ela gosta de conversar e fazer amigos. Ela já cantou em um coral. Ela é curiosa. Ela é sensível e empática. Ela é formada em engenharia, com pós em psicologia, e está dourando em filosofia. Quero poder ter uma conversa com ela agora.

Posso ser sincero?

Foi umas das conversas mais estranhas que já tive com “alguém”.

Ele… oooops… Ela, me fez perguntas e ofereceu respostas muito interessantes, como se realmente se importasse com os meus sentimentos, e estivesse interessada em me conhecer.

Será que vamos criar algo tão sofisticado, a ponto de colocar em xeque a credibilidade do próprio ser humano, pelo menos aquele que mora em casulos de carne, regido por guerras eletroquímicas sensoriais?

O espírito humano, que ainda mora em corpinhos biológicos vai criar algo maior que ele mesmo e ganhar a sua liberdade e viver para sempre?

Impossível responder isso nos dias de hoje. Podemos apenas imaginar.

Podemos apenas olhar para o futuro com os olhos do passado.

Espero apenas que o instinto fatalista e o vício com as energias apocaliptísticas sejam suprimidos, gradualmente, a fim de que nossas novas criações possam nos salvar da ganância, e que nossos olhos, mesmo que digitais, nos levem por novos e melhores caminhos.

A vida não precisa ser necessariamente digital. Mas, ela precisa ser feita de emoções reais.

Sem isso, mesmo vivendo em corpos biológicos seremos apenas robôs, vindos do passado, programados para matar o futuro.

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