Tem um exercício que eu faço com certa frequência: pego um game que estou jogando no momento e tento buscar “ecos” dele em alguma obra literária. O contrário tambén vale: muitas vezes estou lendo um livro e tento buscar algum tipo de conexão com um jogo.
Bom, na verdade, eu fico fazendo esse tipo de conexão com tudo que gosto: cinema, obras em museus, quadrinhos, animações e por aí vai. No entanto, por “questões metodológicas”, nesse post eu fiz conexões lúdico-literárias para ficar mais organizado.
Fiz uma seleção de games que “harmonizam” com certas obras literárias e vice-versa. Quero ver se consigo transformar este exercício em uma série de posts mais frequente aqui no UoD. Vamos lá!
MUNDAUN + A ARANHA NEGRA
Mundaun é um dos meus games favoritos da vida. Criado e produzido – praticamente sozinho – pelo game designer Michel Ziegler, Mundaun é um mergulho em um pesadelo folclórico dos Alpes Suíços. A narrativa te leva pelos terrenos da fazenda de Mudaun, na qual circunstâncias misteriosas e sobrenaturais tiraram a vida de seu avô e te conduzem, em primeira pessoa, em um ambiente de horror único. A Aranha Negra, do autor Jeremias Gotthelf é uma das obras que foram base para a criação de Mundaun (o padre do game, inclusive, se chama Jeremias); porém a parte legal é que enquanto eu estava jogando game, achei A Aranha Negra totalmente por acaso em uma livraria. Me chamou a atenção a capa e quando peguei para ler a orelha, descobri que era uma narrativa de horror folclórico dos alpes suíços lançada em 1842. Coincidência sobrenatural, blend perfeito!
COCOON + ASTONISHING THE GODS
Astonishing the Gods é um livro extremamente poético e surreal escrito pelo nigeriano Ben Okri. A atmosfera onírica e (quase) espiritual da obra conecta demais com a narrativa de Cocoon (jogo novo do game designer Jeppe Carlsen, autor de Limbo e Inside). Apesar de Cocoon ser uma saga de um estranho inseto em um universo tecnológico de macro e micro perspectivas, ele se conecta com a busca por sentido que a personagem invisível almeja em Astonishing. Ambas as obras são sublimes e relaxantes e dão um match único se você quer experimentar algo zen.
STANLEY PARABLE + O PROCESSO & O CASTELO
Pra mim, Stranley Parable é um dos jogos mais kafkianos que já experienciei. Você está em um escritório, sem saber muito bem a razão e precisa fazer coisas que não possuem um objetivo claro, tecnicamente, porque há uma voz mandando você fazer. É um pesadelo em loop com repetições em um ambiente burocrático e com um ações que precisam ser realizadas, mas – que parecem que nunca vão se realizar. Essa agonia é muito presente na obra de Franz Kafka como um todo, mas os “ecos” que eu encontro nesse game chegam diretamente de O Processo e O Castelo; narrativas claustrofóbicas nas quais as personagens estão envolvidas em situações sem saber como foram parar nelas, sempre tentando resolver coisas rotineiras que vão ganhando contornos burocráticos infinitos.
E já estou trabalhando nas próximas associações gamísticas-literárias! Aguardem o segundo post da série!
#GoGamers