Ilustração de robô e humano se cumprimentando. Ilustração de robô e humano se cumprimentando.

IA é tec, humano é pop

Existe um algoritmo pré-instalado em sua mente, que governa todas as suas decisões… e ele pode ser reconfigurado.

Existe um algoritmo pré-instalado em sua mente, que governa todas as suas decisões… e ele pode ser reconfigurado…

Imagine o seguinte cenário: você acorda de manhã e pega o celular.

O algoritmo da rede social já sabe o que vai te entreter, irritar ou fazer chorar antes mesmo de você tomar o café.

Ao mesmo tempo, outro algoritmo, mais invisível e muito mais antigo, já começou a trabalhar: a sua cultura, esse grande sistema de crenças, valores e hábitos que moldam suas escolhas como um roteiro silencioso.

Só que agora estamos vivendo algo meio Black Mirror: criamos algoritmos artificiais tão espertos que começaram a reescrever os nossos “algoritmos biológicos”.

Decidindo por nós o que comprar, em quem confiar, o que amar e até no que acreditar.

Então surge a grande pergunta: devemos aprender a fazer melhores escolhas por nós mesmos ou simplesmente entregar as rédeas para as máquinas, confiando que elas farão um trabalho melhor?

Porque, sejamos honestos, estamos quase terceirizando até o direito de sermos humanos.

Sacou a gravidade da coisa?

Bora explorar isso mais a fundo.

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” – Fernando Pessoa

Uma segunda opinião

Sejamos sinceros: a ideia de que somos livres para tomar nossas próprias decisões é, no mínimo, uma ilusão bem produzida.

Você acha que escolheu sua última refeição porque era isso mesmo que você queria comer?

Talvez.

Ou talvez tenha sido o algoritmo cultural sussurrando no seu ouvido: “Comida saudável é tendência”, ou “pizza é conforto”, ou ainda “vai no hambúrguer mesmo, você merece”.

Esse algoritmo não é novo.

Ele foi escrito ao longo da sua vida, costurado com linhas de tradições familiares, memes sociais e regrinhas invisíveis que você nem sabe que segue.

A questão é que, até pouco tempo atrás, esse “roteiro da vida” era só seu e do seu contexto.

Agora, com as IAs entrando no jogo, temos novos coautores na nossa narrativa, e, spoiler: eles não perguntaram se você queria uma segunda opinião.

Então, o quanto das suas escolhas ainda é você, e o quanto já virou produto de uma parceria criativa entre sua cultura e o TikTok?

O dono da sua atenção e das suas escolhas

Agora, antes de entrar numa paranoia estilo “as máquinas vão dominar o mundo”, vamos esclarecer uma coisa: não é que os algoritmos artificiais sejam os vilões da história.

Eles são, na real, uns alunos dedicados.

Estão ali, estudando nossos padrões, aprendendo o que nos faz clicar, comprar, gostar ou odiar.

E, sabe o que é mais irônico?

Esses algoritmos high-tech só existem porque somos previsíveis pra caramba.

Nosso algoritmo cultural funciona tão bem (ou tão mal) que se tornou uma mina de ouro pra quem quer manipulá-lo.

Então, a pergunta que importa é: será que estamos nos tornando reféns das nossas próprias previsibilidades?

Afinal, quem é o verdadeiro dono da sua atenção e das suas escolhas?

Spoiler de novo: talvez você não seja tão dono assim quanto pensa.

Livre arbítrio terceirizado

Pensa comigo: nosso algoritmo cultural, esse script interno que nos guia, foi escrito ao longo de milênios de evolução, influenciado por histórias ao redor da fogueira, dogmas religiosos, festas no boteco e maratonas de séries.

Ele é complexo, cheio de nuances e, principalmente, humano.

Mas aí chegam os algoritmos artificiais, com sua lógica fria e eficiência calculada, dizendo: “Relaxa, deixa que eu resolvo isso. Você só precisa clicar no botão de COMPRA”.

É quase como se estivéssemos terceirizando o livre-arbítrio, entregando nossa agência em troca de conveniência.

E quem pode culpar a gente?

Escolher é cansativo, e as máquinas prometem nos poupar do trabalho.

Mas a grande sacada é: se a gente se acostuma a não escolher, o que acontece com a nossa capacidade de pensar criticamente?

Será que estamos cultivando preguiça mental enquanto alimentamos algoritmos que, a cada escolha feita por nós, nos entendem um pouco melhor… talvez até melhor do que nós mesmos?

Uma piada universal

Se o futuro for da curadoria — aquele talento quase esquecido de separar o ouro da lama — surge uma nova elite: não a que domina máquinas, mas a que entende o que realmente importa.

Porque, pensa bem, se as máquinas aprendem com as pessoas e essas pessoas estão cada vez mais rasas, consumindo só o que é fácil e mastigado, o que as máquinas vão aprender?

O TikTok da vida?

A treta da semana?

Uma humanidade sem profundidade cria algoritmos vazios, e esses, por sua vez, criam mais vazio.

É um ciclo meio distópico, se você parar pra pensar.

E aí entram as escolas, as escolhas de carreira, e, por que não, as escolhas diárias: como ensinar uma geração a ser interessante o suficiente para ter o que ensinar às máquinas?

Porque, sejamos honestos, se deixarmos o futuro nas mãos de uma inteligência artificial treinada por memes e dancinhas… bom, talvez a humanidade vire a maior piada interna que o universo já viu.

O Reboot do Algoritmo Cultural

Aqui está o pulo do gato: se queremos reconfigurar esse algoritmo cultural que nos torna humanos (e, sim, ainda queremos ser humanos, não?), precisamos priorizar habilidades que vão além de apertar botões ou seguir tendências.

Chegou a hora de valorizar o que meu amigo Klyns Bagatini chama de “heart skills” — aquelas capacidades que vêm do centro de quem somos, do que sentimos, das conexões que criamos.

Não é só sobre ser técnico (hard skills) ou agradável (soft skills); é sobre ser humano.

O que isso inclui?

Primeiro, senso crítico — não o tipo que só aponta problemas, mas aquele que transforma dados e emoções em perguntas melhores, em reflexões profundas.

Depois, habilidades criativas — que não se resumem a desenhar ou inventar coisas mirabolantes, mas a imaginar alternativas e construir narrativas que inspiram.

E, claro, a habilidade mais rara: empatia com inteligência.

Entender o outro, mas também desafiar o outro.

Não se trata de “ser legal”, mas de criar espaços onde a verdade saudável e assertiva possa florescer.

Se redesenhar esse algoritmo cultural é o desafio do século, então são as heart skills que vão nos diferenciar das máquinas — porque, convenhamos, uma IA pode ser rápida, lógica e até criativa, mas nunca vai entender o que é amar, sofrer ou rir de um tropeço bobo.

Esse é o terreno da humanidade.

E, se jogarmos nossas cartas direito, talvez ainda consigamos ensinar às máquinas algo valioso, antes que elas nos substituam em absolutamente tudo… menos no que importa de verdade.

Black Mirror: Quem Configura suas Decisões?

Se essa conversa ativou seu senso crítico e sua curiosidade (bom sinal, aliás!), que tal continuar o papo?

Quero saber o que você acha: quais heart skills você já pratica no seu dia a dia?

Como podemos estimular a criatividade nesse mundo que vive em “modo automático”?

Deixe suas ideias, reflexões ou até suas dúvidas.

Vamos debater, criar novas perspectivas e, quem sabe, dar os primeiros passos para hackear e atualizar esse algoritmo cultural.

Afinal, o futuro pode até ser feito por máquinas, mas o roteiro… ah, o roteiro ainda é nosso.

Ou não? 👀

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