Cannes Lions “State of Creativity”: a confiança criativa está em queda?

Descubra a perspectiva de 1.000 profissionais de marketing e criação na pesquisa anual sobre o cenário criativo atual.
Consultor discutindo estratégia de marca no palco. Consultor discutindo estratégia de marca no palco.

Este é o quinto estudo anual “State of Creativity” da LIONS Advisory, que trabalha com empresas para impulsionar culturas de eficácia criativa e consolidar o Marketing como um motor de crescimento dos negócios. O relatório se baseia em uma pesquisa global com mais de 1.000 profissionais de marketing e criação, além de entrevistas com líderes da indústria. É uma ferramenta prática para ajudar profissionais a entenderem os principais desafios, tendências e oportunidades da criatividade em 2025.

Falta de insights fortes, gráficos e principais obstáculos.


Os números que resumem o cenário

  • Apenas 13% dos entrevistados veem suas empresas como abertas ao risco criativo.
  • 29% admitem serem altamente avessas ao risco.
  • Marcas que se arriscam têm margens de lucro 4x maiores (WARC).
  • E 33% mais chances de crescimento sustentável (Deloitte).

Estatísticas sobre desafios de marketing e criatividade.


A crise da criatividade na “zona de conforto”

A confiança criativa está enfraquecendo. A crença de que ideias ousadas, originais e eficazes impulsionam os negócios é fundamental. Mas a aversão ao risco está segurando as marcas.

Um estudo realizado com a consultoria eatbigfish e Peter Field mostra que, no Reino Unido, marcas que investem em publicidade “sem graça” precisam gastar cerca de £13 bilhões a mais em mídia para alcançar o mesmo impacto de campanhas criativas e emocionais. Nos EUA, esse custo adicional chega a US$ 189 bilhões.

Les Binet, consultor e especialista em eficácia, resume bem:

“A propaganda mais eficaz costuma parecer arriscada — porque é. Ela quebra regras, mexe com emoções e permanece na memória. Jogar pelo seguro é o verdadeiro risco.”

Anselmo Ramos, fundador da GUT, completa:

“Seguro é invisível. Corajoso é inesquecível. As marcas que vencem não seguem as regras — elas criam as suas.”


Definindo risco criativo

Na pesquisa, “assumir riscos criativos” significa propor ideias ousadas e não convencionais, que desafiam normas e envolvem o público de maneira inesperada. Quando bem executadas, podem trazer resultados impressionantes. Exemplos premiados:

  • Titanium Cannes Lions
    DoorDash – All The Ads (Wieden+Kennedy, 2024): DoorDash prometeu entregar tudo o que foi anunciado no Super Bowl. Resultado: aumento de 150% nas menções orgânicas nas redes.
  • Silver Cannes Lions
    Sorry for Slurping (Pot Noodle / Unilever): Após críticas por sons de “slurp”, a marca lançou 47 versões de anúncios como pedido de desculpas. Resultado: aumento de 25% nas vendas logo após a nova campanha.

Dois assassinos da confiança criativa

A pesquisa identificou dois grandes obstáculos:

  1. Fome de insight (Insight famine)
  2. Falta de agilidade cultural

 

Corrigir esses pontos permite que as marcas tomem decisões ousadas baseadas em dados, não em achismos.

Lindsay Radkoski, CMO da Wendy’s, explica:

“Assumir riscos criativos é uma mistura de arte e ciência. Quando parte de um insight ou tendência cultural, alinhado ao nosso propósito e apetite dos consumidores, não há por que hesitar.”

Harjot Singh, CSO global da McCann, complementa:

“Clientes também são humanos: lidam com pressão e incertezas. Por isso, é preciso criar uma cultura de honestidade radical, onde o risco seja visto como aprendizado — não como falha.”


Fome de Insight: o que está acontecendo?

A base de qualquer trabalho criativo forte são insights de qualidade. Marcas com bons processos de desenvolvimento de insight estão muito mais dispostas a assumir riscos criativos.

Dados importantes:

  • 51% das empresas classificam sua capacidade de gerar bons insights como ruim ou muito ruim.
  • 13% se consideram muito boas ou excelentes nesse quesito.
  • 26% das marcas acreditam ser boas em insights — mas apenas 10% das agências concordam.

Três principais barreiras:

  • Falta de clareza sobre o que é um bom insight (18% marcas, 29% parceiros)
  • Insight não é prioridade interna (7% marcas, 14% parceiros)
  • Pouco tempo dedicado à exploração profunda (18% marcas, 12% parceiros)

Matt Klein, estrategista cultural, alerta:

“O maior mito do marketing atual é achar que dado é igual a insight. Insight é o que você interpreta e contextualiza — não apenas uma observação.”


O que você pode fazer: do dado à revelação

Insight não é observação. É revelação. Allison Pierce, CCO da VML, define bem:

“O melhor insight toca nossa psicologia. É como ouvir um verso de um poema que te acerta. Muitos param na superfície.”

Exemplo: Specsavers – The Misheard Version
O problema: poucos no Reino Unido faziam teste auditivo. O insight real: perda auditiva isola, mas “ouvir errado” conecta. Resultado: aumento de 1220% nas marcações de testes.


Insight é um esporte coletivo

O desenvolvimento de insights depende da relação marca-agência. Quanto mais forte, melhor o resultado.

  • Whiskas – Meowzer (Colenso BBDO, 2024): reposicionou gatos de abrigo como “cães fáceis”. Resultado: +27% em adoções.
  • Renault – Cars to Work (Publicis Conseil): emprestou carros em zonas de exclusão para ajudar na mobilidade. 94% dos usuários conseguiram emprego.
  • Plug-inn for Business: app da Renault para conectar motoristas a negócios locais sustentáveis. Já conta com mais de 83 mil usuários.

Marco Venturelli, CEO da Publicis Conseil, resume:

“O diferencial está em entender tudo sobre o negócio do cliente, sem ser ele. O distanciamento traz clareza.”


Diversidade de métodos e pessoas

Mark Ritson, em Cannes 2024, propôs um exercício simples:

“Dê um giro de 180° — veja o mundo pelo olhar do consumidor, não do seu.”

Para isso, é preciso misturar métodos: entrevistas, análise de comportamento, escuta ativa, pesquisa qualitativa e IA.

Nabil Nasser, da Heineken:

“Estamos nos bares, ouvindo donos, estudiosos culturais e analistas de tendências. A rua ensina mais que a planilha.”


IA como amplificador de insights

Olaf Lenzmann, da Market Logic:

“IA não substitui, amplifica o conhecimento humano.”

Segundo o WARC, 90% dos dados do mundo foram gerados nos últimos dois anos. IA e machine learning ajudam a separar volume de relevância. Algumas aplicações:

  • Modelos preditivos
  • Raspagem de cultura em tempo real
  • Dados sintéticos com até 95% de precisão

Mas Harjot Singh alerta:

“Só dado não move criatividade. Métrica sem contexto limita, não inspira.”


O atraso cultural

Atraso cultural afeta 57% das marcas rapidamente.

  • 57% das marcas dizem que têm dificuldade para reagir a momentos culturais.
  • 12% se consideram excelentes nisso.

Barreiras principais:

  • Muitos níveis de aprovação (40%)
  • Recursos limitados (32%)
  • Dificuldade de alinhar marca com cultura (9%)

Mike Dubrick, da Rethink, alerta:

“Criatividade também é velocidade. Quem espera demais perde o momento.”


O que fazer para ganhar agilidade cultural

1. Corte a burocracia
Crie processos decisórios rápidos. Como no caso da Coors Light: após um acidente real durante uma propaganda, a marca lançou latas comemorativas em apenas 6 dias.

2. Prepare para velocidade futura
Segundo Arnaud Belloni, da Renault:

“Planejamento é o melhor amigo da criatividade. Antecipar permite reagir com agilidade.”

3. Marque presença com propósito
Mike Dubrick:

“Comece pela marca. A cultura vem depois. A clareza de identidade facilita a conexão.”

4. Conecte-se com comunidades
Dr. Marcus Collins afirma:

“Marcas fortes não só refletem cultura — elas se tornam parte dela.”

5. Use tecnologia com propósito
L’Oréal, Maybelline e Heinz mostraram como IA, CGI e escuta social bem usadas geram relevância.
Exemplo: Heinz renomeou seu molho “Kranch” em homenagem a Taylor Swift após ela aparecer comendo em rede nacional. Resultado: aumento de 320% nas vendas.

A criatividade continua sendo a bússola para marcas relevantes e duradouras. Mas só prospera onde há confiança, dados sólidos e espaço para riscos bem calculados.

“A criatividade é a bússola que guia tudo o que fazemos.”
— Respondente da pesquisa, State of Creativity 2025

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