Qual o legado que sua marca terá?

Ilustração em preto e branco de homem clássico. Ilustração em preto e branco de homem clássico.

Em 6 de Outubro de 1802, Beethoven escreveu o Testamento de Heilingenstadt. Tal testamento é uma carta escrita para seus irmãos Johann e Caspar e, de uma certa forma, para o mundo como um todo, sobre sua surdez e o desespero que acompanhava esta condição.

O que mais me chama a atenção nesta carta não é a forte agonia pela qual Beethoven estava passando, nem a possibilidade do mesmo desistir de seu futuro como compositor e músico. É o simples fato do artista ter escrito esta carta bem no começo de sua carreira, antes de todo o sucesso que ele conquistou durante e após sua existência. Mesmo vivendo uma situação extremamente desafiadora, Beethoven ainda acreditava em um possível legado que suas obras poderiam exercer: 

“Paciência, dizem eles, é o que devo escolher agora como meu guia, e assim o fiz — espero que minha determinação permaneça firme para perdurar até que agrade à inexorável Parcae romper o fio.”

Mal sabia Beethoven que estaríamos o homenageando e comemorando seu aniversário de 254 anos em 2024, tocando suas lindas melodias e poderosas sinfonias. 

Beethoven, assim como qualquer marca ou empresa, carrega um legado. Isso é indiscutível. Um legado que pode ser positivo ou negativo. Mas, existem duas características que eu acredito que sejam vitais para um legado de sucesso, do ponto de vista empresarial: a aderência a um Propósito e a uma atitude de impacto a longo termo. 

A precursora de computadores pessoais, Apple, já passou por grandes dificuldades na década de 90. Após a primeira saída de Steve Jobs da empresa, a companhia estava com dificuldades de inovar e sair com produtos ganhadores. O Apple Newton é um exemplo claro dessa época–um produto que foi entendido como uma falha profética e que quase não movimentou o mercado. 

Na virada do século, a Apple chamou novamente Steve Jobs para a posição de CEO e o mesmo introduziu o iMac, iPod e iPhone. O mundo nunca seria o mesmo após isso.

Como Beethoven, a empresa de Jobs ainda não tinha realizado tudo o que ela poderia realizar, mas ambas eram cientes de seu Propósito e do possível impacto que poderia nascer dele. Nos dois casos, há um sentimento de que: “o que estou fazendo importa, mesmo que as condições em que estou não sejam propícias ou positivas.” 

Há uma história que ouvi a pouco tempo que ilustra muito bem o que estou escrevendo. É a história de um cavalariço, que cuidava de um estábulo em uma fazenda, na Europa. Um belo dia, esse cavalariço recebe a visita de um cavaleiro montando um cavalo e o mesmo o pede para colocar ferraduras no animal. O cavalariço, curioso, pergunta ao cavaleiro o porquê dele ter lhe procurado e o cavaleiro o responde:

“a ferradura que você colocará neste cavalo não será somente uma ferradura. Ela será um material importantíssimo para eu poder lutar em uma guerra com meu cavalo.”

Mais curioso ainda, o cavalariço perguntou ao homem sobre tal guerra. E o cavaleiro o respondeu novamente: “eu e meu cavalo iremos lutar não só em um guerra, mas nas Cruzadas. Vamos em busca da reconquista de Jerusalém.” O cavalariço imediatamente percebeu a grande responsabilidade que o haviam requerido com este pedido. Isto é Propósito: saber o que e como você irá impactar o mundo, algo que vai além de uma simples mudança na pata de um cavalo.

As marcas e o mundo de Branding se alimentam igualmente desses pensamentos e senso profundo de direção. Imaginem–sem essa direção, a Apple seria somente uma empresa que fabrica um produto com um logo de uma maçã meia comida, o cavalo seria só um outro cavalo com uma nova ferradura e Beethoven seria somente qualquer compositor do século 19. O Propósito dita o legado. O legado dita o resto. 

Talvez, se estivesse na posição do Beethoven, teria fracassado. Talvez não. O que importa é uma marca ou um indivíduo ter consciência da importância de seu trabalho. Afinal, a faísca do hoje é o sol radiante do amanhã!